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Funcionário da Neodent manipula prótese dentária: FDA liberou entrada dos produtos no mercado norte-americano | Walter Alves/ Gazeta do Povo
Funcionário da Neodent manipula prótese dentária: FDA liberou entrada dos produtos no mercado norte-americano| Foto: Walter Alves/ Gazeta do Povo

Saúde pública

Programa popular é alvo da empresa

Antes mesmo de conquistar o mercado internacional, o presidente da Neodent, Geninho Thomé, espera convencer o poder público brasileiro – a começar pela prefeitura de Curitiba, ou pelo governo paranaense – da importância de investir na saúde bucal da população. Ele quer convencê-lo, mais especificamente, da necessidade de um programa de implantes populares que comece a atender os 30 milhões de "inválidos orais" brasileiros, pessoas que não têm um dente sequer.

Além do caráter social, a iniciativa tem a intenção implícita de incluir o setor público na carteira de clientes da empresa. "Nossa proposta é criar um produto específico, a custos reduzidos, que poderia contar com algum subsídio oficial. Fixando dois implantes na mandíbula, e uma dentadura fixa sobre eles, você permite à pessoa um ganho de qualidade de vida imenso. E que repercute na própria saúde pública, por exemplo, na economia com tratamentos contra a depressão", diz Geninho.

"Não vendemos metal, e sim tecnologia"

O desenvolvimento de tecnologias próprias é uma obsessão do presidente da Neodent, que criou seus primeiros implantes com ajuda de um ferramenteiro de Ponta Grossa (Campos Gerais). Embora se pareçam com um simples parafuso, as peças de titânio fabricadas pela Neodent – que são fixadas no osso do paciente e recobertas pela prótese do dente – escondem anos de pesquisa e desenvolvimento, diz o empresário. Cada uma custa de R$ 130 a R$ 250.

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A Food And Drug Adminis­­tration (FDA) escancarou as portas do mercado norte-americano à fabricante de implantes dentários Neodent. O órgão – que regula alimentos, medicamentos e equipamentos médicos nos Estados Unidos – aprovou no início de fevereiro a última linha de produtos da empresa paranaense, que agora pode comercializar todo o seu catálogo naquele país e, até o fim do ano, no México, que também exige a certificação da FDA.

Com acesso livre a esses dois mercados, a Neodent pretende dobrar suas exportações neste ano e, contrariando a lógica do dólar desvalorizado, aumentar a importância do comércio exterior em seus negócios. A empresa é a maior fabricante de produtos de implantodontia da América Latina e mantém convênios de pesquisa com universidades da Espanha, do Chile e do Peru, mas atualmente vende para outros países apenas 5% de sua produção.

Para conquistar novos espaços lá fora e alcançar a meta de ser a quinta maior fabricante de implantes dentários do mundo até 2016, a companhia admite até se associar a outros grupos. Enquanto isso não ocorre, ela amplia sua rede internacional de escritórios e representantes comerciais. A filial dos EUA, em Miami, foi inaugurada um ano atrás, pouco depois de a FDA aprovar as primeiras famílias de implantes, e a do México deve ser aberta no segundo semestre. Certificada pela União Europeia há cinco anos, a Neodent também tem escritório em Lisboa, e distribuidores em outros 19 países da Europa, América Latina, África e Ásia.

Boca a boca

"O resultado comercial é apenas uma parte do ganho de entrar nos EUA. O principal é que nosso produto passará a ser pesquisado pelas universidades norte-americanas, o que vai conferir ainda mais credibilidade a ele", explica o fundador e presidente da empresa, Geninho Thomé, cirurgião-dentista que criou a Neodent dentro do consultório que mantinha no bairro curitibano das Mercês.

Credibilidade, aliás, é palavra que Geninho gosta de repetir, sem fingir modéstia. Segundo ele, foi a credibilidade conquistada entre colegas, pacientes e alunos da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) que, de boca em boca, ajudou a espalhar sua fama e de sua empresa, "nascida" em 1989 e formalizada em 1993.

"A ideia de fabricar implantes surgiu para atender meus pacientes, como uma alternativa aos importados, que eram caríssimos, e aos nacionais, que eram de baixa qualidade. E passei a usá-los também nas aulas de Implantodontia. Depois de formados, meus alunos viraram meus clientes", conta o empresário. "Fiz mestrado e doutorado em Implan­­todontia e fui, aos poucos, adquirindo tecnologia e conhecimento para desenvolver, eu mesmo, os implantes. Se um engenheiro tivesse feito esse trabalho, a empresa não teria se desenvolvido tanto."

Os resultados da Neodent não parecem desmenti-lo. Dona de 40% do mercado brasileiro de implantes dentários e componentes, a empresa deve faturar pouco mais de R$ 210 milhões neste ano, se cumprir a meta de crescer 25% sobre 2010 – quando já havia registrado expansão de 20% e acumulado receitas de aproximadamente R$ 170 milhões. A companhia emprega hoje 530 pessoas, das quais 388 na fábrica instalada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), que produz mais de 600 mil implantes por ano.

Cobiça

Uma empresa que cresce a taxas de dois dígitos por ano, detém centenas de patentes, usa alta tecnologia e tem um imenso mercado potencial pela frente – o Brasil tem dezenas de milhões de desdentados – põe a ferver a cobiça de muita gente. E mais de uma vez surgiram boatos de que a Neodent teria sido, ou estaria sendo, vendida.

"Não tem nada disso", diz Geninho. "Só admitimos uma parceria se for com uma empresa da nossa área, que nos dê acesso a novas tecnologias e abra horizontes em outros países, pois o mercado brasileiro nós conhecemos muito bem. Além disso, em caso de parceria, eu permaneço na presidência e a filosofia da empresa não muda", decreta o empresário.

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