Cerca de 50 brasileiros que vivem no Japão realizaram um piquete diante da fábrica japonesa de autopeças Asmo na manhã desta segunda-feira (2). O motivo do protesto foi a demissão de trabalhadores temporários estrangeiros, devido à crise econômica mundial. Segundo a BBC Brasil, a manifestação ocorreu na cidade japonesa de Kosai, província de Shizuoka.
Uniformizados, oito dos brasileiros descendentes de japoneses que migraram em busca de trabalho (os dekasseguis, como são conhecidos no Japão) tentaram entrar à força na empresa e voltar ao trabalho, mas foram impedidos pelos seguranças.
"Este foi um ato histórico, pois nunca no Japão se tentou a reintegração força de um demitido ao quadro de funcionários", disse, à BBC Brasil, Francisco Freitas, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Estrangeiros e vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Japão.
A entidade presidida por Freitas acusa a Asmo de demitir trabalhadores temporários devido crise econômica mundial. Até recentemente, cerca de mil brasileiros trabalhavam nas linhas de montagem da empresa. Agora, o sindicato calcula que, até o início do mês que vem, o grupo estará reduzido a menos de 200.
Todos os demitidos possuíam contratos de trabalho temporários que eram renovados a cada dois meses. Freitas garante que, mesmo perante a Justiça nipônica, a empresa vinha agindo irregularmente. Isso porque, pelas leis trabalhistas japonesas, após três anos em um mesmo emprego, o trabalhador temporário tem o direito de ser contratado como funcionário efetivo.
"A Asmo agiu de forma errada perante a lei, pois ela deveria ter efetivado esses trabalhadores há muito tempo", afirmou Freitas, assegurando que, entre os demitidos, havia quem estivesse há mais de cinco anos na empresa.
O sindicato diz que irá pedir uma nova reunião com a administração da Asmo. "Queremos que eles readmitam os brasileiros", disse o sindicalista. "Se não houver acordo, o caminho vai ser o tribunal."
Luiz Arias, de 40 anos, foi um dos que tentou entrar à força na fábrica. Ele trabalhava na empresa há um ano e não quis assinar a carta de demissão proposta pela Asmo. "Este ato foi simbólico, para chamar a atenção do governo e dos empresários", disse Arias. "Tem japonês em situação ruim, mas os mais prejudicados são os estrangeiros."
Há 18 anos no Japão, Arias deixou São Paulo para tentar a sorte como imigrante. "O brasileiro hoje não é mais aquele do começo do movimento dekassegui, que andava de bicicleta e comia mal", avalia. "Hoje, ele faz parte da sociedade, ele consome carro e casa", acrescenta. "Um veículo novo que a gente compra é um pedido a mais para essa empresa que nos demitiu."
Silvio Iwamoto, de 33 anos, é outro que não conseguiu voltar ao trabalho. "Minha esposa também trabalha na Asmo, mas já foi avisada que seu contrato não vai ser renovado", contou. Há 17 anos no Japão, com três filhos pequenos, ele não sabe qual rumo tomar. "Tive de tirar as crianças da escola, porque senão não terei como pagar o aluguel e a comida", afirmou Iwamoto, que, revoltado, diz já pensar em desistir de continuar no país e voltar para Bauru (SP). "Estou me sentindo como um objeto descartável", lamentou.
"Com a crise, as empresas começaram a fazer cortes em massa, sem pensar na responsabilidade social", acrescentou Freitas. "Elas não podem simplesmente jogar os trabalhadores na rua sem antes tentar outras opções, como a redução da jornada de trabalho e salarial ou férias coletivas."
No domingo(1), cerca de 1.500 brasileiros já haviam participado de uma manifestação no centro de Nagóia, capital da província de Aichi, no Japão, a fim de exigir direitos trabalhistas, pedir por emprego e também cobrar atenção do governo japonês para as questões sociais.
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