Maquininha da SumUp, uma das rivais do PagSeguro.| Foto: SumUp/Divulgação

A bem sucedida oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) do PagSeguro nos Estados Unidos no início de 2018, que levantou pelo menos US$ 2,3 bilhões vendendo seus papéis a U$ 21,50 cada, trouxe à tona o potencial do setor de pagamentos no Brasil. Foi o maior IPO de uma empresa brasileira na Bolsa de Nova York e o maior do mercado americano desde a oferta do Snapchat, em 2017.

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Em um segmento outrora dominado por grandes adquirentes, como Cielo, Rede e Getnet, o PagSeguro entrou com suas máquinas, as “moderninhas”, que, diferente das rivais tradicionais, não é alugada, mas sim comprada em definitivo por valores que competem até mesmo com o que o consumidor pagaria no aluguel mensal da máquina dos concorrentes. A Minizinha, por exemplo, que opera vinculada a celulares ou tablets, sai por R$ 68,40 e pode ser parcelada em até 12 vezes. O aluguel de uma máquina similar na Rede, em simulação feita pelo site da adquirente, custa R$ 67,45 por mês.

Do virtual para o físico

Esse mercado segue dando sinais de ainda pode crescer bastante, soluções de pagamento para pequenos e médios empreendedores viraram um negócio lucrativo, com surgimento de novos players e fortalecimento dos que já estão na ativa. É o caso do Mercado Pago, braço do Mercado Livre de soluções de pagamentos e um dos focos dos investimentos de R$ 2 bilhões da empresa no Brasil para este ano. “Estamos sempre criando novas funcionalidades, serviços e produtos, por isso é necessário investir continuamente em inovação e, como consequência, em marketing”, diz Tulio Oliveira, diretor do Mercado Pago no Brasil.

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Point Mini, do Mercado Pago. 

Com a máquina Point, o Mercado Pago saiu do ambiente virtual e entrou para o varejo físico. Por R$ 68,80 — parceláveis em até 12 vezes —, o profissional, pessoa física ou jurídica, adquire a máquina Point Mini que aceita cartões de crédito e débito de diferentes bandeiras. O valor das vendas é depositado na conta do Mercado Pago, que pode ser movimentada por meio de um cartão e do aplicativo, funcionando como uma carteira digital. Para Oliveira, isso é uma forma de inclusão de empreendedores que muitas vezes não têm acesso ao sistema bancário tradicional. “Vivemos uma penetração cada vez maior dos smartphones, da banda larga, e poder ter uma máquina de cartões conectada ao celular e movimentar sua conta via aplicativo também é dar acesso”, afirma.

A Mercado Pago Point está disponível nos modelos H e Mini, que exigem conexão com o celular, e Point I, que opera de forma independente de outros aparelhos, oferecendo conexão com as principais operadoras. Segundo Oliveira, a Point Mini é indicada principalmente para trabalhadores autônomos e microempreendedores, por ser prática e ter um tamanho reduzido, facilitando o transporte. A Point H, também por ser conectada diretamente ao celular (mPOS), como a mini, é indicada para negócios menores em que o próprio usuário movimente a conta Mercado Pago e receba os pagamentos. Para negócios com mais funcionários, por exemplo, a Point I é a ideal, por não depender de outros aparelhos.

Não há diferença, entre os modelos, no tempo de recebimento ou nas taxas. O tempo e as tarifas variam de acordo com a modalidade escolhida (débito ou crédito) e, no caso das operações de crédito, no prazo para recebimento dos valores. “Não é necessária nenhuma comprovação para adquirir a Point, o processo de compra da maquininha é rápido e simples, além de acessível, justamente buscando democratizar o acesso ao comércio e ao dinheiro”, aponta Oliveira.

Da Alemanha para o Brasil

O potencial do mercado brasileiro foi percebido pela alemã SumUp, que atua no país desde 2013. Segundo Igor Marchesini, CEO da operação brasileira, nosso país conta com uma peculiaridade: a possibilidade de se comprar parcelado, o que não é tão comum em outros lugares. “Essa é uma modalidade que ou é feita em cheque, ou em cartão, então isso já faz do Brasil um mercado atrativo”, afirma.

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Em 2016, a SumUp se uniu à Payleven e a fusão aconteceu somando as expertises de cada uma das empresas. De acordo com Marchesini, a Payleven tinha, por exemplo, um conhecimento forte em marketing offline, enquanto a SumUp trabalhava melhor no online. Além disso, a união também os colocou em uma escala que tornou possível fazer investimentos e melhorou a negociação com bancos e operadoras, consolidando a marca.

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Se 2017 foi o ano de consolidar a fusão, 2018 é o ano em que a SumUp começa a colher os frutos, como gosta de dizer Marchesini, mas sem perder de vista quem sempre foi seu público-alvo: pequenos empreendedores. A SumUp passou a oferecer tarifa de 1% no débito e no crédito à vista nos três primeiros meses. “A grande maioria dos nossos clientes está começando seu negócio e nós sabemos que, neste momento, qualquer ajuda é bem vinda. A taxa a 1% neste início faz toda diferença”, alega o CEO. Passado este período, a taxa de débito sobe para 2,3%, similar à do Mercado Pago, e as de crédito variam de acordo com o plano escolhido pelo empreendedor.

A SumUp possui dois modelos de maquinetas, a Top e a Super, esta última também lançada neste novo momento da empresa. A Top funciona ligada ao celular ou tablet, e sai por 12 vezes de R$ 9,90. A nova máquina Super é mais robusta, vem com Wi-Fi e chip de dados e dispensa o uso de celular. Por ter mais tecnologia, o valor sobe para 12 parcelas de R$ 19,90.

Segundo Marchesini, quando a SumUp começou no Brasil eles mapearam cerca de 25 concorrentes. Desde então, o número ultrapassou os 50. Apesar da explosão, nem todo mundo conseguiu se manter no mercado. “É preciso expertise e capacidade de escala e nem todos conseguem chegar a esse patamar”, avalia. “Mas o IPO do PagSeguro colocou novamente o Brasil nos holofotes, então devemos ver novos players aparecendo neste segmento de venda de máquinas”, completa.

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Uma surpresa, que segundo Marchesini, já é efeito disso, foi o anúncio da Cielo, líder no mercado de adquirência, da compra de 70% da Stelo, com a pretensão de começar a usar a marca para vender máquinas. Antes disso, em setembro do ano passado, a GetNet, credenciadora do Santander e também uma das líderes do segmento, anunciou sua máquina, a “vermelhinha”, que pode ser adquirida por doze parcelas de R$ 59. “Ninguém imaginava que estes líderes lançariam um produto para competir com eles mesmos e suas máquinas alugadas”, diz o CEO.

“Moderninhas” das empresas

Além de novos players, uma tendência apontada para este mercado é também que ele comece a focar cada vez mais em nichos. É o que acredita Thiago Arnese, sócio-fundador da Hash Lab, empresa de tecnologia que desenvolve máquinas personalizadas e funciona mais como B2B.

Fundada em 2017 por Arnese e seu sócio, João Miranda, ambos vindos de outras empresas de pagamentos e já com experiência neste mercado, a empresa atua numa outra ponta. “Nossa proposta é transformar qualquer empresa em um meio de pagamento. Nós criamos as ‘moderninhas’ das empresas”, diz Arnese, em alusão ao produto do PagSeguro.

Como exemplo para explicar como funcionam, Arnese fala de um de seus clientes, uma empresa atacadista do setor madeireiro que buscava uma solução para conectar todos os marceneiros que estavam em sua rede. A Hash Lab cria essa máquina, que é distribuída para os marceneiros e conectada diretamente ao atacadista. “O marceneiro consegue receber de seus clientes com cartão e ainda têm condições especiais de compra do atacado”, explica.

De acordo com Arnese, a empresa tem um acordo com os adquirentes no modelo “white label”, ou seja, a Hash Lab desenvolve a plataforma, que é explorada pelas adquirentes como se tivesse sido criado por elas. Desta forma, o pagamento dos marceneiros, por exemplo, é feito diretamente pelos adquirentes.

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Já sobre as taxas, Arnese aponta como o poder de negociação aumenta a partir do momento em que existe uma rede de profissionais interessados na solução. “A rede atacadista com 50 mil marceneiros ligados a ela consegue uma taxa bem menor do que um marceneiro sozinho”, indica.

Para Arnese, a IPO do PagSeguro evidenciou que existia um grupo de empreendedores, os pequenos e médios, que era negligenciado no Brasil. “Enquanto eram só os grandes líderes das máquinas de aluguel, este grupo sofria com preços abusivos e que muito possivelmente não conseguiam arcar, e tudo isso para fazer um serviço básico, nada muito rebuscado. O PagSeguro mostrou que existe uma outra maneira de operar, um mercado que ninguém estava olhando e eles nadando a braçadas”, afirma.

O aumento da concorrência não assusta estes empresários, pelo contrário, traz mais “sangue no olho” para continuar inovando, nas palavras de Marchesini. Oliveira também acredita que isso será benéfico tanto para os empresários, como para os consumidores. “O setor ganhará mais agilidade, cada vez com processos mais otimizados e eficientes”, acredita. “As fintechs estão entregando valor para os clientes e os clientes estão percebendo isso, e só têm a ganhar”, conclui o CEO do Mercado Pago.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]