Prestes a completar 42 anos, a fábrica da Fiat em Betim (MG) avança na corrida para se enquadrar no conceito da indústria 4.0, considerado o futuro da indústria em todo o mundo e que consiste na digitalização e na robotização das fábricas e dos processos produtivos para aumento da produtividade. Entre vários processos adotados, a montadora começou a utilizar exoesqueletos acoplados ao corpo do funcionário . A tecnologia reduz o desgaste físico do operário e ajuda a melhorar a produtividade.
Inédita na América Latina, a solução começou a ser aplicada no fim de 2017 pela Fiat. A montadora já tem 16 conjuntos de exoesqueletos em funcionamento na fábrica em Betim (MG) e já encomendou mais equipamentos, com previsão de usá-los também na planta de Córdoba, na Argentina, e na fábrica de motores de Campo Largo, na região metropolitana de Curitiba.
O exoesqueleto, mais conhecido por seu uso em deficientes físicos, também é utilizado por outras montadoras no mundo. É o caso de fábricas da Nissan no Japão e da Audi na Alemanha. A Ford testa seu uso em duas unidades nos Estados Unidos.
Equipamentos reduzem cansaço e melhoram produtividade
No caso da fábrica da Fiat, os equipamentos são importados da Suíça e dos EUA e custam US$ 14 mil cada. Eles são usados por funcionários que exercem funções que podem prejudicar músculos das pernas, braços, ombros e coluna. A vestimenta robótica absorve peso e esforço e, por isso, reduz o cansaço dos trabalhadores.
“Fiquei mais ágil e menos cansado”, diz Luiz Augusto Barros, de 24 anos, funcionário da Fiat há um ano e meio. Ele trabalha com um exoesqueleto acoplado às costas e às pernas para instalar trancas do capô do Mobi e do Argo, os mais recentes lançamentos da marca. “Antes eu ficava curvado para fazer o serviço, mas agora fico sentado, apoiado pelo exoesqueleto, e só tenho de movimentar os braços.”
Há exoesqueletos dedicados a braços, ombros, coluna e pernas. O fisioterapeuta do trabalho Izonel Farjano explica que foi a solução encontrada para melhorar a condição ergonômica dos operadores naquela fábrica. Segundo ele, a unidade de Pernambuco (da marca Jeep, inaugurada em 2015) já foi concebida com conceitos modernos que evitam esse problema e, por isso, não demandam o uso de exoesqueletos.
Robôs colaborativos e realidade virtual
Outra iniciativa para a Fiat se adaptar à indústria 4.0 é a introdução de robôs colaborativos que atuam com os operários. Um deles entrega peças em uma bandeja para que o funcionário da área de motores não tenha de parar a atividade para pegá-las. Outro faz diversas operações, como aplicar solvente ao redor do para-brisa.
“São robôs totalmente seguros e qualquer contato de uma pessoa faz ele parar de imediato”, diz Marcelo Lima, coordenador de Manufatura. A montadora tem outros 1,1 mil robôs, mas eles ficam cercados por grades por questão de segurança.
O presidente da Fiat Chrysler Automotive (FCA), Stefan Ketter, afirma já ter constatado ganhos significativos de eficiência, com melhora da produtividade e redução de custos. “O nível de imprevistos e de distúrbios na produção diminuiu muito. Mas este é um processo contínuo e os ganhos de eficiência e qualidade também serão contínuos e crescentes.”
A fábrica também ganhou sala de realidade virtual, onde é possível prever todo o processo produtivo antes da linha ser instalada. O primeiro projeto foi para a montagem do Argo, lançado em maio. “Foi investido R$ 1 milhão na criação da sala e em oito meses já deixamos de gastar R$ 1,3 milhão para corrigir problemas que só seriam identificados quando a produção começasse”, relata o engenheiro Fábio Pugliese.
Em outubro, a empresa inaugurou o Centro de Simulação de Dinâmica Veicular em parceria com a PUC Minas, que cedeu uma sala no campus. O sistema, o primeiro da FCA no mundo, tem uma plataforma onde o motorista pode simular todos os movimentos do veículo.
“É possível avaliar as interações do carro com o condutor e com o ambiente, como situações de visibilidade na chuva, no trânsito e interação com pedestres”, informa Toshizaemom Noce, supervisão de Inovação. Um teste recente identificou quanto tempo o condutor deixa de olhar para a estrada quando atende o celular e o que pode ocorrer nesse período.