| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Em processo de recuperação judicial desde junho do ano passado, a operadora Oi não consegue entrar em um acordo com seus credores e o governo pode intervir para evitar a falência da companhia. São milhões de consumidores e diversos governos e empresas que dependem, direta ou indiretamente, da infraestrutura da Oi para ter acesso a serviços essenciais como telefonia e internet. A intervenção surge como última alternativa para evitar um colapso no sistema brasileiro de telecomunicações, que já será afetado pelos baixos investimentos da sua maior operadora.

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Intervenção deveria ter acontecido em 2013, afirmam especialistas

A Oi é a operadora brasileira que possui a maior cobertura de serviços no país. A empresa tem 70 milhões de clientes, sendo 62,9 milhões de consumidores finais e 7,2 milhões de usuários corporativos, em que se enquadram empresas, governos e outras instituições. A operadora está presente em mais de 4,5 mil municípios e atua sozinha, sem concorrentes diretos, em cerca de 2 mil cidades. TIM, Claro e Vivo são alguns exemplos de operadoras que dependem da infraestrutura da Oi para prestar serviço em diversas localidades.

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Impacto aos clientes

Neste momento em que a empresa passa pelo processo de recuperação judicial, os milhões de clientes ainda não estão sentido de imediato os efeitos da crise. “A crise da Oi não está levando a uma piora no serviço imediatamente. Tanto que na última pesquisa de percepção de qualidade realizada pela Anatel, a Oi, apesar de ser a última do levantamento, teve leve melhora no índice. As reclamações nos Procons também diminuíram”, diz o pesquisador em Telecomunicações do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), Rafael Zanatta.

O diretor de varejo da Oi, Bernardo Winik, também disse que a empresa não está perdendo clientes. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, ele afirmou que o varejo da Oi não viu uma debandada dos clientes e que a perda de base móvel no ano passado está relacionada a um controle rígido de chips inativos, o que vem sendo feito por várias operadoras. Já o segmento corporativo tem sido mais sensível à crise, mas não há cancelamento de contratos.

Investimentos

Mas os investimentos em novas tecnologias, fundamentais para o setor de telecomunicações, estão sendo impactados pela crise, segundo, Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, o que custará caro no futuro a todos os consumidores e operadoras que dependem da infraestrutura da Oi. “Os investimentos da Oi em infraestrutura já estão sendo afetados há alguns anos. A prestação do serviço e a qualidade continuam iguais, mas a rede de infraestrutura já está defasada. As operadas brasileiras ainda usam redes antigas”, diz Tude.

Colapso no sistema

Além da falta de investimentos, a maior preocupação das instituições de defesa do consumidor é o risco de falência da companhia. A Oi atua sozinha em cerca de 2 mil cidades e nessas e em outras regiões do país é líder em alugar a sua infraestrutura de rede para diversas operadoras, desde pequenas a grandes, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Se a Oi descontinuar parte do seu serviço, parte do sistema de telecomunicações nacional pode parar também.

Segundo dados da Anatel, a Tim é a operadora com maior dependência da Oi, precisando da concorrente para prestar o serviço em 3.242 municípios. Claro e Vivo precisam da rede da operadora em 2.444 e 1.506 cidades, respectivamente. Um plano de contingenciamento com essas grandes empresas está sendo traçado junto à agência reguladora para evitar uma paralisação hipotética do serviço.

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“Se a Oi não resolver seus problemas com os acionistas, isso causará um dano grave aos consumidores e ao sistema de telecomunicações. Ela é o principal player do mercado e sua falência pode gerar apagões de conectividade em várias regiões do país, pois muitas operadoras utilizam a sua rede”, resume Zanatta.

Intervenção deveria ter acontecido em 2013, afirmam especialistas

Para evitar que a crise da Oi se agrave ainda mais e cause uma paralisação na prestação do serviços em algumas localidades, o governo deve intervir na companhia. Uma Medida Provisória (MP) com as regras para a intervenção está sendo preparada e deve ser publicada em breve. Mas especialistas acreditam que a medida veio tarde e que já deveria ter sido tomada para evitar que as dívidas chegassem a R$ 65 bilhões.

“A Anatel já deveria ter intervindo na Oi há muito tempo. Essa intervenção deveria ter acontecido em 2013 e o artigo 110 da Lei Geral das Telecomunicações dá o amparo legal para isso”, diz Flávia Lefèvre, representante da Proteste. “É a intervenção que vai garantir a continuidade da prestação do serviço”, completa a advogada.

O pesquisador em Telecomunicações do Idec, Rafael Zanatta, diz que o momento para a intervenção não é o ideal, pois a medida já deveria ter sido tomada em 2013. Mas, segundo especialista, pelo menos é uma tentativa de evitar a falência da companhia. “O que é louvável é evitar o risco sistêmico do sistema, que pode paralisar um serviço essencial aos brasileiros.”