Ilustração dos aviões híbrido-elétricos da Zunum Aero| Foto: Divulgação/Zunum Aero

Imagine a sua próxima viagem de algumas centenas de quilômetros. De Curitiba a Maringá, por exemplo. Ou de São Paulo a Barretos. Salvador para Recife.

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O meio de transporte mais provável, hoje, talvez seja ir de carro. Mas e se você pudesse aparecer em um aeroporto em uma dessas cidades, ignorar os pontos de controle de segurança, embarcar em um pequeno avião híbrido-elétrico apenas com sua bagagem de mão e aterrissar em seu destino em cerca de uma hora – tudo isso pagando US$ 25 em cada trecho?

Uma empresa chamada Zunum Aero espera tornar isso realidade, para que os futuros viajantes que normalmente tomam um carro, ônibus ou trem para viagens regionais não pensem duas vezes ao considerarem um voo. A startup baseada no estado de Washington, nos Estados Unidos, diz que desde 2013 vem desenvolvendo uma frota de aviões híbrido-elétricos que tornarão esse tipo de voo barato a curtas distâncias possível.

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A empresa tem alguns investidores parceiros de peso, incluindo Boeing HorizonX e JetBlue Technology Ventures, subsidiárias das suas respectivas empresas. Ela também enfrenta uma série de concorrentes e obstáculos, particularmente as limitações de bateria. Mas, se bem sucedida, a Zunum pode mudar significativamente o transporte aéreo regional, área em que nas últimas décadas as opções diminuíram e os custos, aumentaram.

“Tesla dos ares”

“Pense nela como a Tesla dos ares”, disse Bonny Simi, presidente da JetBlue Technology Ventures. “[Ou] pense nisso como um ônibus elétrico voador.”

A Zunum Aero saiu do “stealth mode” (período em que uma empresa opera às escondidas, a fim de evitar a ação de concorrentes ou para preparar um novo produto) no último dia 5 de abril para anunciar seus ambiciosos objetivos: fazer rotas de até ~1120 km (algo como a distância entre Curitiba e Brasília) até meados dos anos 2020 e, depois, rotas de até ~1600 km (Curitiba a Ilhéus-BA) até 2030.

A start-up também fez uma série de promessas: diminuir pela metade o tempo de viagem. Reduzir os custos operacionais menores. Tornar as passagens aéreas de 40 a 80% mais baratas. Tudo isso em aeronaves híbridas silenciosas que produzam 80% menos emissões. Na verdade, parte do nome da empresa foi inspirada no “tzunuum”, palavra maia que significa beija-flor, devido à velocidade e eficiência do pássaro.

“Para sermos bem honestos, há quatro anos queremos contar essa história”, disse o CEO da Zunum Aero, Ashish Kumar. “O que estamos criando é algo realmente emocionante e acreditamos que mudará fundamentalmente a cara da aviação regional.”

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Kumar acha que os custos operacionais dos aviões híbrido-elétricos da empresa podem ser de 40 a 80% mais baixos do que os de aviões convencionais. Um pequeno gerador de baixo alcance seria integrado aos aviões atuais, proporcionando voos mais longos quando a bateria não for suficiente. O objetivo é avançar a tecnologia das o suficiente para que os aviões dependam inteiramente da eletricidade, eliminando totalmente os custos com combustível, disse Kumar.

Eficiência aérea aliada a baixo custo

Existem vários motivos pelos quais as pessoas raramente escolhem voar em viagens regionais curtas. Voar muitas vezes significa atribuir tempo extra para chegar ao aeroporto, passar pela segurança e depois embarcar. Além disso, mudanças na indústria aérea para grandes aviões e grandes centros urbanos criou o que Kumar chama de “brecha no transporte regional”.

Voos de cidades de médio porte agora são muitas vezes encaminhados através de escalas e conexões nesses centros, o que significa o tempo de viagem do aeroporto de origem até o destino não são melhores do que eram há 50 anos, disse Kumar. E as opções aéreas para comunidades menores têm diminuído ou desapareceram, acrescentou. Hoje, 97% do tráfego aéreo dos EUA vem de 2% dos mais de cinco mil aeroportos do país, de acordo com um relatório da FAA.

Cerca de 95% das viagens de menos de 800 km são feitas de carro, de acordo com uma pesquisa do Departamento no Transporte (TSA, espécie de Anac dos EUA). Para viagens entre 800 e 1200 km, cerca de 61% dos viajantes dirigem e 34% voam. Para viagens entre 1200 e 1600 km, pouco mais da metade dos viajantes voam e 42% dirigem.

Kumar e sua equipe acham que este é o lugar onde os aviões híbrido-elétricos podem deslanchar. Considerando que um Boeing 737 transporta, hoje, entre 85 e mais de 200 passageiros, um avião da Zunum teria de 10 a 50 assentos. Como a TSA impõe menos regulações a aeronaves menores, esses passageiros provavelmente poderiam passar direto pelas longas filas de segurança. Acabar com as opções de check-in de bagagem também reduziria o tempo gasto em solo, disse ele. A viagem seria uma mistura entre os voos corporativos privados e pegar um ônibus.

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Concorrentes e obstáculos

A empresa não atua sem concorrentes e detratores. Este ano, uma startup com sede em Massachusetts, chamada Wright Electric, anunciou planos similares de lançar “aeronaves elétricas de zero emissões projetadas para economizar dinheiro e salvar nosso planeta” no intervalo de uma década. Entretanto, a empresa, apoiada pelo fundo de investimentos Y Combinator, disse à BBC News que confia em avanços contínuos na tecnologia de baterias.

“A tecnologia de bateria ainda não existe”, disse Graham Warwick, editor de tecnologia da Aviation Weekly, à BBC. “Está no caminho, mas precisa de uma melhoria significativa. Ninguém acredita que isso acontecerá em breve.”

Ainda é muito cedo para dizer com o que a indústria de aviação comercial se parecerá em meados dos anos 2020 e se o custo na faixa dos US$ 25 será viável. Mesmo agora, não é novidade para companhias de baixo custo, como a Frontier ou a Spirit, oferecer passagens aéreas na casa dos dois dígitos em voos domésticos.

Isso não impediu que outros caíssem de cabeça em projetos de aeronaves híbrido-elétricas. A Airbus também está desenvolvendo seu avião do tipo, o “E-Fan”, desde 2014. Em 2015, ele se tornou o primeiro avião bimotor totalmente elétrico a atravessar o Canal da Mancha. Embora o “E-Fan” tenha apenas dois lugares, a Airbus espera que a tecnologia a levará ao desenvolvimento de um avião com capacidade para transportes regionais ou a um helicóptero.

Os planos para uma aeronave elétrica que lembrm um helicóptero do tipo “VTOL” (sigla em inglês para “decolagem e pouso verticais”) também têm aparecido no Vale do Silício nos últimos tempos. Andrew J. Hawkins, do site The Verge, informou que a Uber, a Airbus, a DARPA e o cofundador do Google, Larry Page, estão todos trabalhando no desenvolvimento de seus próprios VTOLs.

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“Porque nada diz mais ‘sou muito rico e detesto pegar trânsito’ do que um projeto de carro voador”, Hawkins escreveu para o site de tecnologia.

Em comunicado, a Boeing HorizonX disse estar confiante no investimento na Zunum Aero “porque sentimos que seu desenvolvimento tecnológico está liderando este emergente e empolgante segmento de mercado dos híbrido-elétricos”.

Simi comparou o impulso dos aviões híbrido-elétricos para o avanço da indústria aérea à mudança dos aviões movidos por hélices para as aeronaves com turbinas a jato.

“É esse o tipo de transformação”, disse Simi. “Estamos muito animados sobre onde isso está indo. Ainda é muito cedo, é claro. Agora temos um espaço na mesa para o que acreditamos será uma mudança surpreendente.”