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Ivo Corrêa, do Google: regras claras são indispensáveis para que haja inovação | Coletivo Garapa
Ivo Corrêa, do Google: regras claras são indispensáveis para que haja inovação| Foto: Coletivo Garapa
  • Entenda as mudanças no artigo 20 do marco civil da internet

Quando foi divulgado o anteprojeto de lei do Marco Civil da Inter­net, Denise Bottman ficou furiosa. A tradutora e historiadora, responsável por denunciar plágios em seu blog "Não Gosto de Plágio", está acostumada a reclamações e já foi processada. Se o texto do Marco Ci­­vil fosse aprovado da maneira co­­mo o Ministério da Justiça propôs inicialmente, qualquer pessoa que ficasse ofendida com o que Denise publica poderia fazer que o Blogger suspendesse o conteúdo. A proposta, classificada por Denise como "pior do que censura", também pre­­via um mecanismo de contranotificação para que o conteúdo fosse republicado, o que para ela parecia uma brincadeira de "ca­­xangá eletrônico", aquela do "tira, põe, deixa ficar".

Denise não foi a única. Uma sé­­rie de críticas levou a equipe da Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça a apresentar uma nova proposta para a parte mais polêmica do anteprojeto: o artigo 20, que regula a remoção de conteúdo. Com a nova redação, fica determinado que os provedores só poderão tirar um conteúdo do ar após determinação da Justiça.

O mecanismo de notificação e retirada é baseado no modelo norte-americano, criado para infrações de direitos autorais. No Brasil, foi adaptado para qualquer tipo de reclamação. "Quando você importa isso para outros campos, há uma discussão: qual é o limite da liberdade de expressão? Nesse terreno a prova não é tão simples", argumen­ta Ivo Corrêa, diretor de relações governamentais do Google Brasil. "Nossa avaliação é de que é necessária uma apreciação judicial."

Para o advogado Marcel Leo­­nar­­di, que ajudou na nova redação, "es­­se mecanismo serviria para intimidação". Denise concorda: "Seria o reino da denúncia frívola e da per­­seguição arbitrária, acredito que os responsáveis por boa parte dos conteúdos injustamente re­­mo­­vidos não fariam valer seus di­­reitos, por se sentirem intimidados".

O Ministério da Justiça relutou muito em abrir mão do texto original. "A proposta inicial tem vantagens. Uma delas é a extrajudicialidade", diz o gestor do Marco, Paulo Rená. "Não inventamos a notificação extrajudicial. Só tentamos dar um significado jurídico para aquilo. Hoje em dia as pessoas são achacadas online e já acabam retirando o conteúdo do ar."

Sim, isso acontece. E não é difícil listar exemplos. Dois blogs musicais – o "Um Que Te­­nha" e o "Som Barato" – acabaram migrando para outros servidores depois de receberem no­­tificações e serem suspensos pelo Google. Com a nova redação do Marco Civil, a remoção só seria possível após decisão ju­­dicial. Para Bruno Firmino, responsável pelo "Som Barato", a lei seria boa "por prever um pos­­sível diálogo entre as partes sem que haja uma ação arbitrária e incontestável".

Fundamento

Deixar claro o papel da Justiça poderá acabar com as decisões que culpam os provedores por conteúdo postados por usuários. "O Marco Civil está definindo regras básicas da internet no País. Isso é fundamental para criar um ambiente de inovação", diz Ivo Corrêa. "Nesse am­­biente de incerteza, o Google tem que assumir muitos riscos e muitas vezes paga caro por isso. Hoje damos conta, mas pode ser que um dia a gente não dê mais."

O Marco Civil ficará em consulta pública até o domingo, dia 23. Até lá dá para sugerir mudanças – e, para quem duvidou do caráter participativo do projeto de lei, a mudança no texto do artigo 20 sinalizou que a equipe está acompanhando, sim, o que os cidadãos dizem. "Existia um grupinho que achava que seria uma democracia fajuta. Eles (os responsáveis pelo projeto) silenciaram esse pessoal", diz Leonardi, admitindo que ficou surpreso. "O Marco Civil está desafiando a sociedade. Vocês falaram que não queriam um projeto de cibercrimes. Então, o que vocês querem?", provoca Rená.

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