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Governo precisa elevar investimento público: infraestrutura rodoviária é um dos gargalos do país | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
Governo precisa elevar investimento público: infraestrutura rodoviária é um dos gargalos do país| Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo

Estamos cansados de ouvir que o país precisa de mais investimentos, mas o outro lado da moeda, a necessidade de poupança, não é tão lembrado. Ao passar pelo Brasil, o comentarista econômico do Financial Times Martin Wolf argumentou que o país precisa poupar mais para se desenvolver de forma estável. O argumento é simples: é a poupança que sustenta os investimentos necessários para o crescimento econômico. Não ouvimos nada do gênero no debate eleitoral, o que é uma pena.

Hoje a poupança interna brasileira anda na casa dos 15% do PIB. É o que sobra da renda após os gastos com consumo. Se o Brasil fosse uma economia fechada, esse seria o valor disponível para investir. No momento, felizmente, há capital disponível no mercado internacional e o país tem se mostrado bastante capaz de buscá-lo para bancar os investimentos. O aumento da poupança interna liberaria ainda mais recursos, reduziria a exposição do Brasil às variações de humor dos mercados internacionais e abriria espaço para uma queda consistente dos juros.

É quase um consenso entre economistas que o país precisa elevar os investimentos, hoje em torno de 18% do PIB, para algo entre 23% e 25% do PIB se quiser crescer 5% ao ano. É o dinheiro necessário para construir fábricas, estradas, aumentar a capacidade de transporte dos portos e aeroportos, e a geração de energia. O crescimento brasileiro vem sendo puxado pelo consumo das famílias, estimulado pela renda em alta e crédito mais fácil, e pelos gastos do governo. Se essa demanda não encontrar uma resposta no aumento da capacidade produtiva do país, ela será atendida por importações.

Uma transição do investimento de 18% para 25% do PIB exige que a poupança se eleve, ou que haja endividamento em moeda estrangeira. Pro­va­velmente o Brasil vai precisar dos dois. Além disso, a economia terá de encontrar um novo balanço, com menos consumo das famílias ou do governo, o que é mais fácil de ocorrer em momentos de crescimento forte, como agora.

A poupança interna depende muito da política fiscal. Se o governo tem déficit e gasta mal, como no Brasil, ele usa parte da poupança privada para financiar suas contas. Outro efeito do déficit é que os juros tendem a subir, desestimulando os investimentos produtivos. Assim, um ajuste para reduzir os gastos correntes do governo ajudaria o país a poupar para investir. Em outra frente, é possível estimular a poupança privada, como ocorreu há alguns anos com a regulamentação dos planos de previdência complementar. Aqui, valeria a retomada do debate da reforma da Previdência e até mesmo aulas de finanças pessoais.

Os efeitos de não se conseguir a elevação da poupança podem ser dois: crescimento modesto do PIB no longo prazo, ou aumento no rombo das contas externas. É claro que o estímulo ao investimento passa por outras questões, como regulação, crédito de longo prazo e redução da burocracia. Só que nada disso adianta sem dinheiro.

Guido Orgis é jornalista e mestre em Economia Política

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