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Fachada de uma loja Marisa, em Curitiba: empresas de varejo têm boas perspectivas | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Fachada de uma loja Marisa, em Curitiba: empresas de varejo têm boas perspectivas| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

No ano

Mineração e siderurgia, estrelas

Apesar do resultado negativo da Bolsa de Valores de São Paulo em 2010 – o índice Ibovespa caiu 2,1% até o encerramento do pregão de ontem –, há setores e papéis com retornos bastante interessantes no período. Siderurgia, mineração e têxtil se destacam, com desempenho bem acima do Ibovespa.

Dentre as ações mais negociadas e tradicionais da Bolsa, o destaque fica com a Vale. A companhia tem atraído os investidores com sua vitoriosa negociação para reajuste do minério de ferro no mercado chinês. Seu papel preferencial "A’’, que tem sido o mais negociado da bolsa, registra alta de 8,3% no ano – um bom desempenho apesar da "derrapada" de ontem, quando as ações da companhia caíram 2,5%.

Outro destaque individual nessa área é o papel ON da MMX Mineração, com alta acumulada de 27,5%. "Mesmo com o mês de abril não tendo sido muito bom, o setor siderúrgico se mantém com bom desempenho no ano. Usiminas e Companhia Siderúrgica Nacional têm crescido na produção de minério de ferro e gerado boas expectativas’’, avalia Pedro Galdi, analista-chefe da SLW Corretora.

No topo da bolsa aparece o setor têxtil, composto por um total de 31 papéis. O problema é que essas ações têm baixa liquidez, o que é negativo caso o investidor queira se desfazer do ativo no curto prazo. No outro extremo da lista aparece o setor imobiliário. O índice setorial da BM&FBovespa que mede o desempenho do setor apresentava ontem queda de 7%. Mesmo com o setor de construção aquecido e as projeções de crescimento da economia brasileira nos próximos trimestres, as ações do segmento têm ficado para trás. "O descolamento [do setor] nos parece excessivo e esperamos uma correção em breve’’, afirma, em relatório setorial, a Gradual Investimentos. Na análise da Gradual, as ações da Rossi Residencial, que estão com baixa de 12% no ano, têm potencial de alta de 29,5% – considerando-se o preço-alvo de R$ 17 apontado pela corretora. "A empresa é uma companhia focada no segmento de imóveis residenciais voltados à classe econômica, que continua crescendo’’, avalia.

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O início de um novo ciclo de alta nos juros básicos deve afastar o investidor do mercado de ações? Na opinião de quem trabalha com isso, não – em especial se o objetivo é trabalhar com a valorização no longo prazo. "A alta da Selic é um fenômeno momentâneo, vai durar um ano, talvez. Fora desse período, a realidade é de juros mais baixos do que os que temos tido, historicamente", diz Roberto Sevalli, diretor da Paraná Asset Management, braço do Paraná Banco para gestão de recursos.

A decisão de elevar os juros foi tomada na semana passada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). A taxa básica, denominada Selic, estava fixada para 8,75% ao ano desde julho do ano passado, e subiu para 9,5% ao ano. A razão está nos preços: a inflação está subindo, estimulada pelo crescimento econômico que o país tem experimentado nos últimos meses. As normas de política econômica brasileira baseiam-se no sistema de metas de inflação, que exigem do Banco Central o cumprimento de alvos predefinidos nesse segmento. As metas são definidas pelo Conselho Monetário Nacional. A de 2010 é de 4,5% para o IPCA. Como a expectativa atual é de uma inflação quase um ponto porcentual acima desse objetivo, o Copom resolveu agir. Aumentos de juros costumam ser eficientes para conter a inflação porque reduzem a capacidade de compra dos consumidores. Com menos dinheiro no bolso, eles reduzem a aquisição de bens e serviços, levando os vendedores a baixar preços.

Estamos no início desse processo. Bancos e consultorias estimam que o pico desse ciclo de alta pode chegar a 12% ao ano ou ainda mais, no fim deste ano ou no começo do próximo. Esse processo também costuma ferir os rendimentos de renda variável. Como a renda fixa (ou seja, os investimentos que pagam juros) tem risco mais baixo, é comum que grandes investidores reduzam sua exposição na bolsa nos momentos em que os juros sobem. A dúvida agora é se esse fenômeno vai se repetir agora.

Luiz Augusto Pacheco, analista da corretora paranaense Omar Ca­­margo, acredita que não. "Mes­mo que os juros subam bastante, como apontam as previsões, os resultados das empresas vão ser preponderantes", diz. Ele acredita que os lucros demonstrados pelas empresas em seus balanços trimestrais, que estão sendo divulgados por estes dias, serão altos o suficiente para aguçar o apetite dos investidores. Pacheco aposta em lucros substancialmente maiores em 2010. Mais ou menos como ocorreu com o banco Bradesco, cujos números foram divulgados na sexta-feira e foram 22% superiores ao primeiro trimestre de 2010.

Para Pacheco, os números serão melhores para empresas focadas no mercado interno, em especial no varejo. São companhias que poderão tirar proveito do crescimento econômico do país, que, segundo o relatório Focus, do BC, deve ultrapassar 6% este ano. Com isso, empresas como Marisa e Hering tendem a dar bons resultados. As Lojas Renner, por exemplo, divulgaram seu balanço na semana passada. O lucro líquido três vezes maior do que no mesmo período de 2009, chegando a R$ 36,9 milhões. Outro segmento com boas perspectivas é o de infraestrutura. "O país vai ter de investir muito nessa área", comenta Pacheco.

Transição

Roberto Sevalli, da Paraná Asset Management, diz que o momento é de uma transição de culturas. "Estamos fazendo a mudança definitiva dos tempos da ciranda financeira para os do investimento produtivo", afirma. "A realidade agora é de juros mais baixos, apesar dessa alta momentânea."

Sevalli acredita que, nos próximos meses, deve ocorrer um movimento limitado de investidores aproveitando os juros altos. Para ele, entretanto, essa migração vai afetar dois públicos: aquele que já tem algum receio de investir em renda variável e o que trabalha com prazos curtos de investimento – coisa de um ano e meio ou menos. "Para quem está pensando em guardar dinheiro para a aposentadoria, por exemplo, a renda variável é a melhor saída."

Sevalli acredita que, daqui a alguns anos, o investimento em renda variável vai ficar limitado àquilo que ele chama de "capital comprometido". Ou seja, os recursos que estão guardados temporariamente para serem usados em outra finalidade. "Se você está guardando dinheiro para pagar a prestação de um imóvel, por exemplo, esse dinheiro não pode nem deve ir para a bolsa", ensina.

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