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Bandeira da Alemanha
| Foto: Bigstock

Quando o assunto é economia, os alemães são bons. Bons demais, a ponto de virar um problema para a própria Alemanha. De fato, o sucesso é uma das maiores dores de cabeça da Alemanha, que afeta também a Europa e a economia global.

Confuso? Veja o que está acontecendo. A Alemanha obedece à cartilha, enquanto outros países-membros da União Europeia violam rotineiramente as regras que limitam seus déficits orçamentários a menos de 3% do PIB e a dívida pública total abaixo de 60%. Os alemães produziram superávits orçamentários consecutivos nos últimos cinco anos, incluindo um recorde, no ano passado, equivalente a 1,7% da produção econômica do país.

A dívida da Alemanha diminuiu, de 81,8% da produção econômica, em 2010, para 60,9%, no ano passado. Enquanto isso, sua indústria exportadora floresceu, produzindo enormes superávits na conta corrente anual. O superávit germânico de US$ 294 bilhões em 2018 foi o maior do mundo, quase o dobro do vice-líder, o Japão, com US$ 173 bilhões. E representou surpreendentes 7,4% da produção total da Alemanha.

Os alemães têm enorme orgulho de sua disciplina fiscal e da eficiência de suas indústrias, e com razão. Suas virtudes, no entanto, constituem um problema para as economias europeia e mundial, que precisam de novas fontes de consumo. Ao limitar os gastos do governo e ao taxar firmemente seus cidadãos pelo que gastam, a Alemanha deixa para os outros a missão de consumir os bens e serviços globais, incluindo os americanos, que podem não dar conta do recado por muito tempo. Isso acaba prejudicando os vizinhos, como a Grécia e a Itália, que precisam que outros mercados os ajudem a sair do endividamento; e, nesse momento, é algo que prejudica também a Alemanha, que agora está desconfortavelmente próxima da recessão por causa de sua dependência exagerada dos mercados globais de exportação – atormentados pela incerteza em meio à guerra comercial de Trump contra a China.

O FMI e a Comissão Europeia estão entre as muitas vozes que pedem à Alemanha para estimular sua economia doméstica, apontando que cortes de impostos e investimentos em infraestrutura seriam especialmente úteis. O presidente francês Emanuel Macron chegou a dizer que “o modelo de crescimento alemão talvez já tenha se exaurido”, e ele tem o direito de criticar, porque seu governo fez uma série de reformas estruturais na lenta economia francesa, algo almejado há muito tempo por Berlim. O governo alemão certamente desdenha das bravatas de Trump e suas ameaças de sobretaxar os automóveis; uma boa forma de calá-lo, enquanto estimula o crescimento, seria gastar mais para modernizar seu sistema de defesa.

No entanto, ainda que de forma hesitante, a Alemanha começa a reagir. O consumo das famílias e do governo aumentou modestamente no ano passado, confirmando uma maior relevância dessas formas de impulsionar a economia. Segundo o Bundesbank, o superávit em conta corrente do país pode cair abaixo de 7% da produção em 2020. Mas velhos hábitos, compromissos ideológicos profundamente arraigados e a influência das indústrias exportadoras são duros na queda. Berlim está a caminho de outro superávit primário neste ano. A Alemanha precisa avançar de maneira mais ousada em direação ao crescimento, baseando-se em suas próprias necessidades internas. O que o mundo precisa agora é que os alemães sejam um pouco mais egoístas. Na verdade, seria a coisa mais altruísta que eles poderiam fazer.

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