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O aposentado Celso Castro Nieweglowski também investe em previdência privada para garantir o mesmo padrão de vida conquistado durante os mais de 40 anos de trabalho | Andre Rodrigues/ Gazeta do Povo
O aposentado Celso Castro Nieweglowski também investe em previdência privada para garantir o mesmo padrão de vida conquistado durante os mais de 40 anos de trabalho| Foto: Andre Rodrigues/ Gazeta do Povo

Sistema falido

Países optam por previdência privada compulsória

Em busca de saídas para incapacidade do seu sistema previdenciário, o Reino Unido vai obrigar os trabalhadores e empresas a contribuírem com a previdência privada. A obrigatoriedade começa a valer a partir de 2017 e é destinada aos trabalhadores com mais de 22 anos que tenham rendimentos de R$ 24.639 por ano. A contribuição será dividida entre o empregador (4%), trabalhador (3%) e governo (1%) por meio de isenção tributária.

A falência do sistema previdenciário é um processo natural em países que vivem a soma do desenvolvimento econômico e evolução demográfica. A diferença é que em países como a Alemanha, Estados Unidos, Japão e Holanda, que já venceram esta fase, a consciência de que é preciso guardar dinheiro para o futuro vai além da teoria, afirma o especialista em previdência Renato Follador, que se diz um defensor da compulsoriedade da previdência privada. "Quando a educação financeira e previdenciária é insuficiente para garantir a economia de dinheiro para o futuro, é preciso recorrer a outros mecanismos",diz.

Precavido

Aposentado continua trabalhando e aposta em fundo privado

Aposentado pelo INSS com 85% do teto de R$ 4.157,05 da aposentadoria, o funcionário da Volvo Celso Castro Nieweglowski sabe que se fosse depender apenas do salário que recebe da previdência social, não conseguiria manter o padrão de vida que conquistou ao longo dos mais de 40 anos de trabalho. Ele é responsável pela área de pós-vendas da Volvo no Brasil e, aos 60 anos, está se aproximando da sua aposentadoria na multinacional. Além de um plano de previdência privada pago em conjunto com a empresa, há cinco anos Celso aderiu a um novo plano do Fundo Paraná, que ele planeja retirar quando completar 65 anos. "Essa preocupação veio de encontro a minha necessidade de ter uma aposentadoria tranquila e manter o mesmo padrão de vida", diz Celso, que fez os cálculos e concluiu que vai precisar de 70% da sua renda atual para atingir esse objetivo. "Esse tipo de investimento rende mais do que aplicação na poupança ou renda fixa, mas é preciso ficar de olho nas taxas de carregamento e administração e na confiabilidade das empresas que oferecem esse serviço", recomenda.

O histórico de mau poupador do brasileiro se tornou uma ameaça ao sonho da aposentadoria tranquila. Quase metade dos brasileiros – 48% – não faz nenhum tipo de contribuição para quando deixar o mercado de trabalho e 42% recolhem apenas para o INSS, segundo o indicador da Serasa Experian de Educação Financeira do Consumidor, lançado no início deste mês. Os conscientes e precavidos, que além da previdência social também contribuem para planos de previdência privada, somam 5% – outros 2% têm apenas previdência privada e 3% não souberam responder.

Em um país que envelhece no dobro da velocidade que foi observada nos Estados Unidos, esses dados são extremamente preocupantes, afirma o especialista em previdência Renato Follador. A origem do problema, segundo ele, é a conhecida falta de educação financeira e previdenciária do brasileiro, que leva à incapacidade de pensar e planejar o futuro. "O maior crime em relação à velhice das pessoas é não orientá-las sobre a necessidade de guardar dinheiro. Qualquer governo com visão estratégica deveria educar sua população para o futuro", diz.

Diante do aumento da expectativa de vida dos brasileiros, o risco de faltar dinheiro para a aposentadoria por conta da falta planejamento é cada vez maior. Muitas pessoas ignoram essa possibilidade ao longo da vida e se veem obrigadas a continuar trabalhando, mesmo na velhice. Hoje, de cada três pessoas que se aposentam, duas permanecem no mercado de trabalho para poder manter o mesmo padrão de vida, afirma Follador.

Segundo o professor de Finanças da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Picolli, a idade limite para aderir a um plano de previdência privada a tempo de garantir uma boa reserva para a aposentadoria é com 40 anos. A partir daí, a única solução é promover uma mudança no padrão de vida, diminuindo os gastos e aumentando os aportes mensais.

"Das três variáveis de um investimento – valor, tempo de investimento e remuneração –, o tempo é o que proporciona o melhor resultado. Entre poupar o dobro ou contribuir o dobro do tempo a segunda opção é sempre a mais recomendada, porque a regra dos juros compostos joga a favor de quem poupa mais tempo e não de quem poupa mais ou tem remuneração melhor", explica Picolli.

De acordo com especialistas, a exemplo do que já ocorreu em outros países, o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) vai ter muita dificuldade para manter o atual padrão de aposentadoria no Brasil e, em hipótese alguma, terá condições de melhorar a previdência social. De 20 salários mínimos na década de 1970, o teto da aposentadoria caiu para os atuais 6,1. "Daqui a oito anos, quem se aposentar com a atual política de aumento do salário mínimo terá direito a cinco salários mínimos. Em 2035, o teto cairá para três salários mínimos, o que deve corresponder a R$ 2.034", projeta o especialista em previdência.

Rentabilidade depende de revisão anual

Não existe milagre quando se trata de investimento em previdência privada, dizem os especialistas. A lógica é clara: quanto maior o tempo de investimento, menor é o montante a ser aplicado. Por outro lado, quem tem pouco tempo para poupar precisa desembolsar mais. Mesmo quem já possui investimentos dessa natureza não deve descuidar, achando que o futuro está garantido. Esse é um erro que pode custar caro, afirma o superintendente comercial da seguradora Mongeral Aegon, Ednei Cesar de Andrade. Segundo ele, é importante que o investidor acompanhe de perto as mudanças e oscilações do mercado e faça uma revisão anual do seu plano de previdência privada. "Investidor com perfil estático tende a perder boas oportunidades, principalmente porque as modalidades de investimentos são bastante flexíveis e permitem trocas de planos para obter melhores rendimentos.", diz Andrade. Há cerca de três anos, alguns planos de previdência privada projetavam rentabilidade de 10% a 12% ao ano. Hoje o cenário é outro e a rentabilidade oscila entre 6% e 7%, considerando a soma de aplicações em renda fixa e variável, como as ações da Bolsa de Valores, explica Andrade.

Opções

Diante desse cenário, a saída é pagar mais para manter a projeção futura de retirada do investimento ou diversificar as aplicações. "Existem bons produtos no mercado, mas é preciso pesquisar. Uma boa alternativa para investimento em aposentadoria é o Tesouro Direto", afirma o professor de Finanças da UFPR, Pedro Piccoli. Segundo ele, os juros que o governo paga para títulos do governo são altos e vantajosos. Além disso, investidores com apetite para o risco não devem deixar de considerar o mercado de ações. A poupança, segundo Piccoli, não é um bom negócio. "A única vantagem da poupança é a questão da liquidez, que não importa muito em investimentos de longo prazo como para a aposentadoria". Segundo Piccoli, o investidor deve ficar muito atento às taxas de administração e carregamento de alguns fundos de previdência. Em muitos casos esses custos são tão altos que comprometem a rentabilidade do investimento.

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