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O ministro Mantega: declarações sobre a restituição não foram bem recebidas, no ano passado | Jamil Bittar/Reuters
O ministro Mantega: declarações sobre a restituição não foram bem recebidas, no ano passado| Foto: Jamil Bittar/Reuters

Uma aplicação isenta de tributos, que rende bem mais do que a caderneta de poupança. Parece bom? Assim é a restituição do Imposto de Renda, um dinheiro que boa parte dos contribuintes vai receber, mas não sabe quando – e é essa incerteza que mexe com a cabeça de muita gente. Há até quem faça planos já contando com esses recursos – uma alternativa desaconselhada por quem entende do assunto.

Quando se trata de restituição, há poucas certezas. "A gente não sabe nem se ela vem", observa o presidente da Federação Nacional das Empresas de Serviços Con­tábeis (Fenacon), Valdir Pietrobon. "Dependendo da complexidade dos documentos envolvidos, a Receita Federal pode glosar os valores, o que resultaria em uma restituição menor ou até em imposto a pagar", diz. Compro­meter o dinheiro da restituição com uma compra futura (um "balão" num financiamento, por exemplo), portanto, é algo a se evitar.

No ano passado, o governo adiou muitas restituições, em consequência de alterações no fluxo de recursos do Tesouro causadas pelas reduções do IPI. Na época, o ministro Guido Mantega, da Fazenda, irritou muita gente ao dizer que o atraso não era ruim. "O contribuinte não perde nada, porque está rendendo Selic", disse.

Explicando: a Receita Federal corrige o valor das restituições pela taxa básica de juros, a Selic. Essa correção é aplicada do mês seguinte ao fim do prazo de entrega das declarações até a data do pagamento da restituição. Atualmente, a Selic está em 8,75% ao ano (a maioria dos bancos e consultorias, entretanto, prevê um aumento de 0,5 ponto porcentual no mês que vem).

Por esse ponto de vista, Mantega tinha razão. As cadernetas de poupança estão rendendo perto de 6,5% ao ano, o que torna a restituição atraente pelo ponto de vista da rentabilidade. "Para as pessoas que são, de fato, poupadoras, vale a pena entregar a declaração no fim do prazo para receber a restituição mais tarde", diz o consultor Raphael Cordeiro, especialista em finanças pessoais e investimentos.

Cordeiro afirma que, recebendo mais tarde a restituição, o contribuinte também se protege de si mesmo. Segundo ele, a restituição do Imposto de Renda entra numa categoria denominada "dinheiro achado", que inclui ainda heranças e valores recebidos em loterias. São recursos que chegam à pessoa de repente e que, muitas vezes, parecem desassociados do seu próprio esforço – como se tivessem mesmo sido encontrados na rua. "É um dinheiro com o qual as pessoas, normalmente, não contariam. E a reação delas é ‘torrar’, muitas vezes com coisas supérfluas", conta.

Por isso mesmo, Cordeiro acha que a melhor forma de agir é fazer de conta que esse dinheiro não existe. E a pior é recorrer aos empréstimos oferecidos pelos bancos a título de "antecipação de restituição". Esse tipo de operação só é válida para quem já está endividado, e tem a oportunidade de trocar os juros altos do cartão de crédito ou do cheque especial por uma taxa mais em conta. Pietrobon, da Fenacon, segue na mesma linha: "Aconselho que se esqueça da restituição".

Despesas médicas

Há, porém, riscos em deixar a entrega para o fim do prazo. Quem deixa para fazer a declaração no último dia pode descobrir a falta de algum documento ou mesmo ter um problema técnico em seu computador.

E há, sempre, o risco de a declaração cair na malha fina e ficar para o ano que vem ou ainda mais tarde. "Isso ocorre principalmente quando as pessoas jogam muitas deduções com despesas médicas", diz Pietrobon.

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