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“Não temos uma inflação descontrolada, mas sim forte. No fim do ano ela deve ficar em 6,1% e, se o governo não tomar políticas mais assertivas, nos próximos dois anos a inflação pode permanecer nesse patamar.” | Sérgio Zacchi
“Não temos uma inflação descontrolada, mas sim forte. No fim do ano ela deve ficar em 6,1% e, se o governo não tomar políticas mais assertivas, nos próximos dois anos a inflação pode permanecer nesse patamar.”| Foto: Sérgio Zacchi

A alta da inflação do Brasil não está fora de controle, mas o Índice de Preços ao Consu-midor Amplo (IPCA) tende a fechar o ano muito perto do teto da meta perseguida pelo Banco Central, que é de 6,5%. A avaliação é do economista Cristiano Souza, do Grupo Santander Brasil. Em abril, o indicador oficial de inflação ultrapassou o teto da meta pela primeira vez desde 2005, chegando a 6,51% no acumulado de 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE). Confira abaixo os principais trechos da entrevista que ele concedeu à Gazeta do Povo na sexta-feira.

A inflação subiu 0,77% em abril, após subir 0,79% em março. O governo afirma que são os alimentos e os combustíveis que estão puxando a inflação para cima. São somente esses grupos? O governo perdeu o controle sobre a inflação?

O que analisamos é uma tendência de alta, mas descontrole é uma palavra forte, porque a inflação não vai subir até os 10% ou seguir o movimento dos anos 1980. A alta da inflação é dispersa, não são só alimentos – que perderam força em abril – e também não são só combustíveis. O que podemos ver é que a inflação deve chegar ao terceiro trimestre do ano acima de 7%, chegando a agosto em 7,2% ou 7,3%. Depois deve desacelerar, mas não quer dizer que vá ficar em 6% no fim do ano. Este valor já é alto, já está acima da meta. A meta foi determinada para momentos de acidentes de percurso – como problemas em um país produtor de petróleo, por exemplo –, que têm efeitos aos quais o Banco Central não consegue dar respostas. Por isso o BC tem esse intervalo de escape, de 2 pontos porcentuais para cima e para baixo [do centro da meta, de 4,5%]. Não temos uma inflação descontrolada, mas sim forte. No fim do ano ela deve ficar em 6,1% e, se o governo não tomar políticas mais assertivas, nos próximos dois anos a inflação pode permanecer nesse patamar.

As medidas macroprudenciais adotadas pelo governo desde o fim do ano passado têm surtido efeito para o controle da inflação?

Elas têm efeito, mas são insuficientes. Não quer dizer que aumentar o custo do crédito não vai trazer um impacto sobre o consumo, porque vai. Mas, como o mercado de trabalho está aquecido, acabam existindo outras opções para o consumidor, mesmo com o crédito mais caro. Essas outras maneiras não foram atacadas e, por isso, essas medidas macroprudenciais não tiveram o efeito desejado, porque o que se quer fazer é diminuir a demanda. O que o governo precisa fazer é subir os juros, que são mais abrangentes, sem escolher determinados setores. Se fosse trabalhado com o PIB potencial de 4,5%, a inflação caminharia para o centro da meta.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, tem um grande problema pela frente para frear a alta da inflação. Ele está sob pressão para conseguir diminuir o aumento dos preços?

Não existe essa pressão, existe a necessidade de se cumprir as metas. Mas não é esse o cenário. O mercado já trabalha com inflação de 6,37% até o fim do ano, bem próximo do teto da meta. O BC não sofre pressão, mas está sob perigo de perder a meta. Em relação aos dados do mercado, o BC tem feito muitas ressalvas, dizendo que o mercado olha para trás para chegar a esse valor e não olha para frente, nos reflexos do que deve acontecer. Mas não é só isso, porque sabemos que o mercado brasileiro sofre com a indexação, então precisamos olhar o passado. Mesmo vendo uma inflação menor, o BC precisa trabalhar para cumprir a meta.

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