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O professor de música Rafael Augusto Michelato no pavilhão onde dará aulas para a primeira turma de lutheria de Telêmaco | Josué Teixeira/Gazeta do Povo
O professor de música Rafael Augusto Michelato no pavilhão onde dará aulas para a primeira turma de lutheria de Telêmaco| Foto: Josué Teixeira/Gazeta do Povo

Oportunidade

Projeto levanta potencial do setor musical

Telêmaco Borba tem sua economia baseada na cadeia produtiva da madeira, mas pode mudar o perfil com a implantação do projeto de cooperativa de lutheria. A cidade tem 69,8 mil habitantes e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2000 coloca o município na 101ª posição do estado, com uma pontuação de 0,767, numa escala que vai de zero a um.

Com a efetivação da proposta, o diretor da Unicultura, Ricardo Trento, acredita que a cidade possa ganhar um novo perfil. "A diferença estará em cada criança que passará a ter um instrumento musical na sua escola, em cada membro da cooperativa que passará a ter uma renda com o seu trabalho", analisa. "A música transforma as pessoas. Existe aí o surgimento do empoderamento social."

Já existe um segmento musical prestes a ser despertado em Telêmaco. Quem garante é o dono de uma escola de música, em funcionamento há 25 anos, Zaqueu Banks de Lima. Ele diz que nunca conheceu um projeto de lutheria baseado em madeira reflorestada. Em um dos cursos que fez na área, ele aprendeu a fazer clava (que é um instrumento de percussão) com cabo de vassoura, mas desconhece alternativas em escala comercial. "Eu acho que vai cair o preço do instrumento e ele vai ficar com a mesma qualidade acústica", acredita.

A escola tem hoje cerca de 40 alunos. Um deles é o tecladista Clailton Taques, há dez anos no ramo. "Eu acho que o projeto vai melhorar a situação para nós que somos músicos", diz. Para ele, a demanda de interessados por musicaliza­ção vai aumentar na cidade.

Serviço

Interessados em apoiar o projeto pela Lei Rouanet podem procurar a Unicultura: www.unicultura.com.br ou (41) 3023-2008.

Um sonho que começou a ganhar forma há seis anos nas mãos do luthier (fabricante de instrumentos musicais) Wendell de Freitas ao fazer um violino com eucalipto plantado pela Klabin – a maior fabricante de papéis do país – ganha novos contornos. Através de uma parceria com a Universidade Livre da Cultura (Unicultura), de Curitiba, e do Instituto Federal do Paraná (IFPR), no câmpus de Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, será criado um curso de lutheria, com início em 2013.

Para o sonho ficar completo, o luthier e os demais envolvidos no projeto querem implantar uma cooperativa de fabricação de instrumentos musicais para aquecer o mercado de música na região e ainda gerar renda para famílias carentes. O pontapé inicial é um prêmio concedido em novembro pelo Ministério da Cultura. O reconhecimento, aliado à aprovação do projeto na Lei Rouanet, é uma ponte para a obtenção de recursos para a iniciativa.

O prêmio foi concedido pela Secretaria de Economia Criativa, do Ministério da Cultura, que reconhece propostas ligadas à geração de renda na área cultural. O projeto Oficina Escola de Lutheria já estava aprovado pela Lei Rouanet desde 2011 e foi inscrito no edital do Ministério, aberto em fevereiro deste ano. Das 383 propostas finalistas, 150 foram selecionadas e vão receber, juntas, R$ 3,6 milhões.

O único projeto paranaense selecionado foi o da oficina de lutheria e recebeu R$ 26 mil como incentivo inicial para a sua implantação. O projeto também já recebeu R$ 245 mil de cerca de R$ 1 milhão que pretende captar através da Lei Rouanet. "Um projeto premiado amplia o repertório no currículo e tem mais chance de receber apoio pela lei", comenta a coordenadora-geral de Ações Empreendedoras da Secretaria de Economia Criativa, Suzete Nunes.

Pavilhão

Para receber a primeira turma de futuros luthieres, o câmpus do IFPR em Telêmaco Borba já está finalizando o pavilhão que sediará a oficina de lutheria. Segundo o diretor de Ensino, Pesquisa e Extensão, Ronaldo Mendes Evaristo, a compra de instrumentos e maquinários está em andamento.

A intenção é iniciar as aulas no primeiro semestre de 2013. O coordenador do curso e professor de música, Rafael Augusto Michelato, explica que a primeira turma terá entre 25 e 30 alunos e o curso terá duração de um ano e meio, dividido em três módulos.

Na fase inicial, serão fabricados xilofones e marimbas, que são instrumentos de percussão, mas os alunos sairão do curso aprendendo a fazer ainda violão e violino. O curso será gratuito e a matéria-prima será o eucalipto vendido pela Klabin. É o segundo curso de lutheria no Paraná – o primeiro é o ofertado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

ProduçãoMatéria-prima para os instrumentos é abundante na região

A unidade da Klabin já alimenta a cadeia produtiva da madeira com o fornecimento da matéria-prima para a fabricação de móveis e outros subprodutos da madeira reflorestada. Com a proposta da Unicultura, será usado, inicialmente, eucalipto para a produção de instrumentos musicais. O coordenador técnico do projeto, Wendell de Freitas, lembra que o interessante é que o eucalipto é certificado e, portanto, com a comprovação de que não vem de área desmatada.

"Um eucalipto, com corte de 20 anos, pode produzir até 300 instrumentos musicais", diz o diretor da Unicultura, Ricardo Trento. Ele é um entusiasta do projeto. "O projeto surge da necessidade de atender uma demanda reprimida, porque agora a lei exige a oferta de música nas escolas, e de promover o resgate social das famílias de baixa renda", diz.

Convencionalmente, são usadas madeiras europeias na fabricação de instrumentos musicais. Com a alternativa na produção nacional, os instrumentos podem ficar mais baratos. Desde o início deste ano está em vigor a lei nacional 11.769, que prevê a oferta do ensino de música nas escolas públicas e particulares de ensino fundamental e médio.

Como o projeto pretende criar uma cooperativa, através da captação de recursos da Lei Rouanet, haveria produção em escala para atender aos estabelecimentos de ensino. A proposta, lembra Trento, é selecionar os futuros cooperados através dos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) ligados à prefeitura. Trento explica que não é preciso ter experiência com música para fabricar um instrumento musical. "O luthier não precisa ser um grande músico, não precisa ser um instrumentista, ele vai aos poucos conhecer a técnica de fabricar um instrumento", complementa.

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