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Inovação favorece o negócio

A consultora do Sebrae Paraná, Márcia Giubertoni, prefere falar com cautela sobre a importância da inovação no sucesso de um novo negócio. "Dizer que ela é indispensável pode fazer parecer que o negócio não vai dar certo se não nascer com algo completamente diferente. Mas não é isso", pondera. Ela não tem dúvida, no entanto, que um diferencial contribui. Um dos resultados apresentados no relatório da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) – Empreendedorismo no Brasil, de 2005, aponta justamente para isso: "Quanto mais novas foram as tecnologias e processos, maior será o potencial do empreendimento de causar impactos positivos no mercado onde se insere".

"Na prática, isso quer dizer que empresas que trazem inovação têm mais chances de sucesso", resume a consultora. "Quem tem um diferencial se destaca e fideliza o cliente. Se você for igual aos outros, por que o cliente vai mudar o hábito de consumo?" E isso independe do tamanho do negócio. Vale para um carrinho de pipoca, como no caso de Valdir [na página seguinte], ou para uma grande empresa. "Pipoca é a mesma coisa em qualquer lugar. A inovação pode estar na forma de apresentar o produto, ou em um serviço, por exemplo."

Parece, mas não é

Fã de carne e avessa às variações feitas de soja – carne, queijo, leite e o que mais a indústria alimentícia venha a inventar – escolhi propositalmente uma versão do cachorro-quente cheia de complementos para "testar" a novidade. Entre catchup, mostarda, queijo e outros tantos recheios, confesso que a diferença entre a salsicha de soja e a tradicional é praticamente imperceptível. Se ninguém tivesse me avisado, acho que não teria desconfiado que se tratava de uma salsicha de soja. Mas, como o objetivo era escrever um depoimento com mais "propriedade" sobre o assunto, tive que encarar também a salsicha pura. Aí não tem como negar. O gosto é diferente. E a textura, muito parecida com a daquelas péssimas salsichas enlatadas. Que me perdoem os vegetarianos, mas nada substitui uma boa picanha e a salsicha original, feita de... bem, melhor deixar isso pra lá.Cinthia Scheffer é repórter do caderno de Economia.

Para os órfãos da junk food

Via de regra, a decisão de não se comer mais carne é precedida pelo abandono da "junk food". Mas deixando de lado o blá blá blá do vegetarianismo engajado (aquele que é chato de doer), a verdade é que o novo hábito exige boa dose de resignação. No boteco, somos obrigados a renegar um sem-número de "especialidades da casa", da carne de onça ao bolinho de aipim com carne seca. Tornamo-nos reféns da batata frita. E pior: órfãos daquela comida de fim de noite, do churrascão 24 horas, do carrinho de cachorro-quente, os amigos reunidos a estragar o estômago e a satisfazer a alma. A consciência fica em paz. E só.

O tal "cachorro-quente vegetariano", para mim, preenche uma lacuna não só gastronômica, mas também social. Para os avessos ao sabor da soja, vale lembrar que, lá no meio de tanta coisa, mal se nota que a salsicha não é a convencional – esta sim, feita com... com o quê mesmo?Felipe Laufer, vegetariano há mais de ano, é repórter do caderno de Economia.

Há pelo menos três anos, a esquina das ruas Manoel Pedro e Munhoz da Rocha, no Cabral, é ponto de encontro de vegetarianos curitibanos. E, acredite, ao redor de um carrinho de cachorro-quente. Para abrir o negócio, os sócios do Super Dog, Paulo Sérgio Campi e Carlos Alberto Tostes, levaram a sério aquela que parece ser a lei máxima do empreendedorismo: crie um diferencial. Neste caso, ele tomou forma de salsicha de soja e glúten, maionese vegetal e pão sem ovos nem leite. "O cachorro-quente tradicional ajuda a sustentar o negócio. Mas não tenho dúvida que as opções vegetarianas foram o nosso grande acerto", diz Campi.

Por acerto ele entende um faturamento bruto de pelo menos R$ 20 mil mensais, com uma margem de lucro de 60%, resultado da venda diária de 200 a 220 cachorros-quentes. A versão vegetariana do lanche responde atualmente por cerca de 40% do total vendido. "Nos fins de semana já empata." O cardápio oferece cinco tipos de sanduíches na versão vegetariana e outros dez tradicionais – todos com nomes de raças de cachorro. No início, quando as vendas ficavam na casa das 70 unidades, eram apenas dois tipos exclusivos para aqueles que optam por não consumir produtos de origem animal. "Nem nós imaginávamos que iria dar tão certo."

Por causa dos ingredientes especiais, o custo do cachorro-quente vegetariano é cerca de 50% maior. E, claro, o preço para o consumidor também é maior. Um São Bernardo tradicional (como é chamado o sanduíche com quatro queijos, milho, tomate, purê de batata e batata palha) custa R$ 3,50. Os vegetarianos pagam R$ 3,75.

Apesar da diferença de preço, é justamente nas opções especiais que os empresários vêem grandes chances para o negócio continuar crescendo. "Ainda recebemos a visita de novos clientes. Muita gente ainda está conhecendo", diz. "Também temos muitos clientes fiéis, vegetarianos ou não. Gente que prova, gosta e troca porque é uma opção mais saudável."

O agente de viagens Daniel Orasmo – vegetariano há 8 anos – é um desses clientes de carteirinha do Super Dog. Recentemente ele diminuiu a freqüência de visitas ao carrinho de quatro para duas vezes ao mês – "devido aos meus horários de trabalho e porque moro longe do Cabral" – mas nunca deixou de ir. "Eu fazia cachorro-quente em casa, com a mesma salsicha. Mas bem mais simples."

Fora de casa, Orasmo considera difícil encontrar opções parecidas. "Não conheço nenhum outro lugar em Curitiba que tenha cachorro-quente vegetariano. Só em São Paulo e Joinville", diz. "O que a gente encontra hoje em dia são opções de lanches nos cardápios de algumas lanchonetes tradicionais."

Foi justamente por perceber essa carência de opções que a dupla criou o Super Dog. Na época, Tostes já era vegetariano e Campi, como ele mesmo define, pré-vegetariano. "Aderi depois, com o tempo", lembra. "Já tínhamos muitos amigos com o mesmo hábito e percebíamos que não havia muitas opções na hora de sair para comer. Éramos um público em que ninguém acreditava."

Depois de ser demitido do antigo trabalho – na área de venda de um supermercado –, Campi decidiu apostar no sonho antigo de ter um negócio próprio. O projeto inicial, abrir uma lanchonete, esbarrou na falta de dinheiro. "Era caro demais para o risco do negócio." O investimento na barraquinha de cachorro-quente, mais perto do pretendido, foi de R$ 7 mil – e incluiu o próprio carrinho, os ingredientes e uma série de "cuidados" especiais: logomarca, comunicação visual e cardápios especiais.

Desde o começo, são os próprios donos que recebem os clientes e preparam os lanches. São os sócios também que preparam a maionese especial e o purê de batatas com leite de soja. Mas, por causa do movimento crescente, eles têm planos de contratar um auxiliar. "Estamos procurando há algum tempo."

O ponto também foi escolha dos dois sócios. "Outro acerto importante", diz Campi. A prefeitura não cobra aluguel dos cerca de 600 carrinhos de cachorro-quente que funcionam hoje na cidade. "Mas é tudo muito bem controlado."

Apesar do sucesso, pelo menos por enquanto a dupla não tem planos de ampliar a própria frota. "Como somos só ele e eu, teríamos que nos dividir para seguir o mesmo conceito. Mas estamos super satisfeitos. Empregados, dificilmente ganharíamos o que ganhamos hoje."

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