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Adolar (no fundo, à direita) desistiu de tirar as bananas de sua propriedade, por causa do preço | Henry Milleo/ Gazeta do Povo
Adolar (no fundo, à direita) desistiu de tirar as bananas de sua propriedade, por causa do preço| Foto: Henry Milleo/ Gazeta do Povo
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Mais lucro

Preço para levar o tomate a sério

Uma caixa de 23 quilos de tomate alcança R$ 90 no Norte do Paraná, preço estimulante para os produtores do estado, que recebiam média de R$ 57/caixa há um mês. Colheitas reduzidas, entressafra e clima irregular estão influenciando as tabelas, avalia Valério Borba, diretor técnico das Centrais de Abastecimento do Paraná (Ceasa). "As regiões que estão colhendo não abastecem todo o estado. Tem tomate vindo de São Paulo e Santa Catarina", relata.

No campo, os produtores lamentam não ter mais tomates para vender agora. Em Braganey, no Oeste do estado, o agricultor José Donizete Bini relata que sua produção chega ao fim quando os preços estão decolando. "Foi uma das melhores safras em termos de produção e qualidade. Mas será difícil achar produto nos próximos 30 dias." Ele tem 60 hectares que foram plantados para o ciclo seguinte. "Essa safra é de risco e se a produção total aumentar muito o preço pode cair", complementa.

O tomate passa a ser levado mais a sério em Braganey. Com pouco mais de 5 mil habitantes, o município é 13º produtor no estado, mas conseguiu consolidar uma pequena agroindústria. Há cerca de quatro anos, agricultores constituíram a Associação dos Produtores de Tomate de Braganey. A intenção é aumentar a renda e conseguir dar destino a toda a produção, sem jogar fora o excedente, afirma José Donizete Bini, presidente da entidade.

No fim de 2011, o grande salto veio com a inauguração de um Centro Comunitário de Produção. Duas vezes por semana, uma parte dos produtores deixa as lavouras e passa a trabalhar no processamento do tomate. Como resultado, diversos produtos: geleias, bala, bombons, salgadinhos e molhos. "Vendemos o produto em feiras e também repassamos a algumas cooperativas parceiras", relata Bini. Agora, na entressafra, são usados estoques de polpa congelada.

Igor Castanho

Clima ruim e oferta excessiva estão fazendo os preços de alimentos da cesta básica oscilarem bem mais que o esperado, em um movimento que distorce os efeitos da desoneração anunciada pelo governo federal. A banana está saindo do campo por metade do preço de um ano atrás. Em lado oposto, o tomate está valendo o dobro. São variações que chegam descompassadas aos supermercados e puxam a inflação desses alimentos, para cima e para baixo, com mais força que a redução dos impostos.

Altas proporcionais...

As respostas sobre o que está ocorrendo vêm do próprio setor produtivo. O tomate registra queda nas duas safras cultivadas em sequência no Paraná. A primeira delas, conhecida como safrão (plantada em agosto e colhida até janeiro), rendeu perto de 198 mil toneladas, 10% menos que no ano anterior, conforme a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimeto (Seab). A segunda safra, considerada de risco, teve plantio em janeiro e começa a ser colhida neste mês. A produção esperada é de 110 mil toneladas, 8% menor que a de um ano atrás.

Com isso, a cotação da caixa de tomate (23 quilos) subiu de R$ 25 para R$ 60 no último ano. A alta no mercado ocorre na mesma proporção. Nos quatro meses do outono de 2012, o consumidor pagava em média R$ 2 por quilo, preço que está oscilando entre R$ R$ 4,40 e R$ 5 atualmente. Ou seja, a queda na produção provocou escassez, elevando preços no campo e nas prateleiras.

...quedas amenizadas

Já no caso da banana, que perdeu valor, esse efeito chega enfraquecido ao consumidor, conferiu a equipe de reportagem da Gazeta do Povo. No outono do ano passado, o preço médio da caixa de 22 quilos foi de R$ 12,47, conforme o histórico da Seab. Agora, a cotação semanal está oscilando entre R$ 5,5 e R$ 6,4. O produtor está recebendo metade do valor de 2012. Porém, o consumidor tem variação bem mais suave: pagava R$ 1,66 por quilo e agora gasta R$ 1,40, mesmo com a desoneração da cesta básica.

Não vale a penaSem preço, banana apodrece no campo

Carlos Guimarães Filho

Com a banana a preço de banana, os produtores dizem estar levando prejuízo. Alguns deles desistem de parte da colheita. A safra estadual deve ser de aproximadamente 300 mil toneladas, 10% maior que a do ano passado, mas parte da produção apodrece no campo. As cotações não justificam as despesas de colheita e transporte, sustenta o setor.

Não houve geada, granizo ou ventania que destruísse as bananeiras. A superprodução provoca perdas em Guaratuba, município que tem 260 bananicultores e colhe um terço da produção estadual. Com 1 milhão de bananeiras em 500 hectares, Adolar Froelhlich disse para os funcionários cortarem os cachos e deixarem no chão. "Se for para receber menos de R$ 3 pela caixa não compensa tirar da lavoura. Não paga o custo com mão de obra." Há 20 anos no setor, ele identifica uma mudança de tendência na rentabilidade do negócio.

"A produção explodiu e, neste início do ano, teve bananicultor recebendo R$ 1,5 por caixa. Os produtores estão desesperados com tanto fruto", afirma o técnico agropecuário do Instituto Emater Amilcar Santos, que atua na região litorânea do estado.

Sávio Conte, dono de uma área de 200 hectares com 320 mil bananeiras, enfrenta o mesmo problema. Com ofertas de R$ 2 por caixa, ele optou por derrubar 40 mil cachos. "É preferível usar o funcionário para fazer a limpeza do bananal do que para colheita."

A expectativa é de que o mercado melhore nos próximos meses com o fim do verão. No inverno, há menos luminosidade e o fruto demora mais para maturar, o que reduz a oferta. "A qualidade melhorou muito nos últimos anos", afirma Conte. "Espero que a crise passe logo".

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