Relatório sobre o emprego no mundo, divulgado neste domingo (29) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), diz que é "alarmante" a situação global do trabalho e que não há sinais de recuperação em um futuro próximo. O organismo prevê que uma nova fase, "ainda mais problemática", na crise global de empregos ainda está por vir. Uma das razões, segundo o estudo, é que os países ricos tomaram medidas para buscar austeridade fiscal a qualquer custo e fizeram drásticas reformas trabalhistas.
Como consequência, acabaram caindo na chamada "armadilha da austeridade" - uma espécie de círculo vicioso no qual um baixo crescimento gera o aumento da volatilidade, contração do crédito, redução de investimentos e perda de empregos.
"A excessiva importância que muitos países da zona do euro estão dando à austeridade fiscal está aprofundando a crise de emprego e poderá inclusive conduzir a outra recessão na Europa", diz Raymond Torres, diretor do Instituto Internacional de Estudos Laborais e autor do estudo.
Desde o início da crise econômica mundial, em 2008, gerou-se um déficit de 50 milhões de empregos. Este ano, a previsão é de 202 milhões de desempregados, frente aos 196 milhões em 2011. O problema é maior nos países desenvolvidos, especialmente os da Europa, onde o desemprego aumentou em 66% das nações. A organização não prevê recuperação do emprego na região antes do fim de 2016. A previsão anterior era até 2014.
Segundo o diretor-geral da OIT, Juan Somavia, os países que não sacrificaram o setor trabalhista estão superando a crise mais facilmente. O Brasil, que teve aumento de emprego, é citado no relatório como exemplo de país que adotou "políticas sociais e laborais adequadas".
"Alguns países conseguiram gerar empregos e, ao mesmo tempo, melhorar a qualidade do trabalho, ao menos alguns de seus aspectos. Por exemplo, no Brasil, Indonésia e Uruguai as taxas de emprego aumentaram e a incidência do trabalho informal diminuiu. Isto se deve à introdução de políticas sociais e laborais adequadas.", diz Somavia.
Informalidade
O emprego informal aumentou em 26 das 50 economias avançadas analisadas. Metade dos países desenvolvidos também teve aumento do trabalho temporário. Os jovens são os mais atingidos pela crise: em 80% dos países ricos houve aumento do desemprego juvenil, problema que afetou 66% dos emergentes.
Também em metade dos países ricos, mais de 40% dos desempregados estão à procura por uma vaga há mais de um ano. São os chamados desempregados de longa duração. De acordo com o relatório, há um risco de que os desempregados de longo prazo sejam expulsos do mercado de trabalho, mesmo com forte recuperação econômica.
O estudo aponta que, desde a crise, houve aumento da tensão social em 57 dos 106 países analisados de 2010 a 2011. Os países mais afetados por essa tensão são os da África Subsaariana, do Oriente Médio e do Norte da África. Na América Latina, por outro lado, a tensão diminuiu.
O estudo constata que, enquanto 65% das nações desenvolvidas reduziram os benefícios sociais dos trabalhadores desde a crise, apenas 28% dos emergentes o fizeram. O relatório diz que é necessária uma mudança "drástica" na política mundial, de forma que os empregos fiquem no topo da agenda. O organismo recomenda o aumento da demanda doméstica, a manutenção de um bom padrão de regulação trabalhista e medidas para evitar a entrada de capitais que possam desestabilizar as moedas locais.
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