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Leonardo Deloi , produtor rural de Araucária, na região metropolitana de Curitiba: valor de venda da alface orgânica passou de R$ 0,30 para R$ 0,70 | Priscila Forone/ Gazeta do Povo
Leonardo Deloi , produtor rural de Araucária, na região metropolitana de Curitiba: valor de venda da alface orgânica passou de R$ 0,30 para R$ 0,70| Foto: Priscila Forone/ Gazeta do Povo

Mais caro

Preço restringe consumo

Apesar de ganhar cada vez mais espaço na mesa dos brasileiros, os alimentos orgânicos ainda são um luxo praticamente restrito aos consumidores das classes A e B. A diferença de preços em relação aos produtos convencionais, que pode ultrapassar os 1.200%, é o principal fator que limita a popularização do consumo destes produtos.

A proprietária de uma banca no Mercado de Orgânicos, Magda Emerick, conta que 80% do público que atende é formado por empregadas domésticas, fazendo a compra dos produtos para a mesa dos patrões. "Quem opta pelo consumo exclusivo dos orgânicos é quem tem muito dinheiro. Ao contrário do que ocorre nas feiras livres, aqui o preço quase nunca é barganhado."

Um quilo de tomate orgânico pode custar até R$ 8 em uma banca do mercado, enquanto o mesmo produto convencional é vendido por R$ 0,59 em sacolões ou supermercados. "O preço do orgânico já vem alto do produtor. Manter uma roça sem nada de veneno diminui a produção e aumenta o custo. Nem que você queira dá para vender abaixo desse preço." Magda cita o exemplo de uma família formada por um casal, dois filhos e mais uma empregada, que gasta, em média, R$ 200 por semana com a compra de frutas, verduras, legumes e ovos de origem orgânica.

"Não existe nada de orgânico em grande escala", explica o engenheiro agrônomo Antônio Rapetti, que também é produtor orgânico e proprietário da loja Market Natural no mercado. Segundo ele, o aumento na competitividade tende a nivelar um pouco mais os preços no mercado nacional, deixando os orgânicos, em média, cerca de 15% mais caros que os produtos convencionais, como ocorre na Europa, onde o mercado é bem consolidado.

Agricultura

Alto custo de produção freia avanço do mercado

O baixo índice de industrialização da produção orgânica e o complexo processo de certificação são apontados por especialistas como os principais gargalos para o desenvolvimento do setor. Além do alto custo, que gira em torno de R$ 10 mil para um pequeno produtor, a certificação é quesito obrigatório para a comercialização dos orgânicos.

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O primeiro mercado público de orgânicos do Brasil, criado há cerca de um ano em Curitiba, deu um impulso positivo aos produtores rurais da região metropolitana que adotam o sistema de cultivo de hortifrutigrangeiros sem a utilização de agrotóxicos e aditivos químicos. A avaliação dos agricultores locais é a de que o Mercado de Orgânicos estabeleceu uma demanda fixa por esse tipo de produto, incentivando um aumento de até 100% na produção de alguns itens. A estrutura também cumpre o papel de canal alternativo de distribuição, resultando em uma negociação de preços mais vantajosa para quem planta. "Antes o único canal de vendas era as feiras livres, onde você era obrigado a aceitar o preço que o feirante estava disposto a pagar. Hoje, com o aumento na demanda provocado pelo mercado, é possível negociar", afirma o produtor rural Leonardo Deloi. Ele conta que um pé de alface orgânica, que antes era vendido a R$ 0,30 para os feirantes, é agora negociado a R$ 0,70 nos boxes do mercado. Com o preço competitivo, ele dobrou a produção do item.

Junto com seu sogro Zeferino Wojcik, Deloi produz repolho, batata, cebola, mandioca, pepino, abobrinha, beterraba, escarola, pimentão, couve, brócolis e seis tipos de alface em um sítio em Roça Nova, bairro de Araucária, na região metropolitana de Curitiba (RMC) ­– tudo com certificação orgânica. A produção é vendida para quatro boxes e um restaurante instalados no Mercado de Orgâ­nicos da capital. O agricultor conta que o aumento na receita permitiu que a família apostasse na ampliação dos negócios, com a inauguração de varejo do tipo "sacolão" no centro de Arau­cária. Outro sinal de prosperidade foi a decisão de contratar uma linha de financiamento do programa de incentivo à agricultura familiar do BNDES – com o dinheiro, eles compraram um caminhão baú para entregar as mercadorias. "Antes entregávamos os produtos em um Monza velho do meu sogro: era caixa de frutas no porta-malas, verduras no bagageiro e até no banco do passageiro."

Área maior

A produtora Rosane Alba, que há oito anos planta morangos orgânicos na chácara Engenho Verde, em Colombo (RMC), afirma que a criação do mercado alavancou sua produção, resultando em um aumento de 20% na área de plantio, além de investimentos na produção de amora, framboesa, tomate e cebola. "O mercado facilitou o escoamento e virou mais uma alternativa para levar o produto até o consumidor", diz. Segundo Rosane, 30% de suas vendas são para o mercado, mesma fatia do que é vendido diretamente na propriedade. Outros 30% são destinados às feiras livres e 10% vão para as redes de supermercado.

Expansão

A agricultura orgânica vem crescendo cerca de 20% ao ano, e o número de produtores paranaenses que optam pelo sistema tem se expandido no mesmo ritmo, segundo o engenheiro agrônomo e coordenador da área de agroecologia e produtos orgânicos do Ins­tituto Para­naense de As­­sis­tência Técnica e Extensão Ru­­ral (Emater), Paulo Henrique Lizarelli. Já a demanda, vem crescendo em um ritmo mais acelerado, em torno de 50% ao ano.

Além do Mercado Municipal de Orgânicos, algumas redes supermercadistas também apostam na tendência de aumento do consumo de orgânicos, com a criação de departamentos específicos para a venda desses produtos. Os programas institucionais dos governos federal, estadual e municipais também ajudam a impulsionar a demanda, com a compra de produtos orgânicos para a merenda escolar, pagando, em média, 30% a mais aos produtores.

"Além da questão econômica, o sistema de produção orgânico atende todos os aspectos da sustentabilidade. Ele evita a contaminação de solo, das nascentes, elimina o contato dos agrotóxicos tanto para o produtor quanto para o consumidor e gera emprego e renda no campo. Do ponto de vista social, todos são amplamente beneficiados", defende Lizarelli. De acordo com dados da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), o estado conta com aproximadamente 5,3 mil produtores orgânicos, responsáveis por uma safra anual de 108 mil toneladas de produtos, cultivados em uma área de aproximadamente 3,8 mil hectares.

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