Mais caro
Preço restringe consumo
Apesar de ganhar cada vez mais espaço na mesa dos brasileiros, os alimentos orgânicos ainda são um luxo praticamente restrito aos consumidores das classes A e B. A diferença de preços em relação aos produtos convencionais, que pode ultrapassar os 1.200%, é o principal fator que limita a popularização do consumo destes produtos.
A proprietária de uma banca no Mercado de Orgânicos, Magda Emerick, conta que 80% do público que atende é formado por empregadas domésticas, fazendo a compra dos produtos para a mesa dos patrões. "Quem opta pelo consumo exclusivo dos orgânicos é quem tem muito dinheiro. Ao contrário do que ocorre nas feiras livres, aqui o preço quase nunca é barganhado."
Um quilo de tomate orgânico pode custar até R$ 8 em uma banca do mercado, enquanto o mesmo produto convencional é vendido por R$ 0,59 em sacolões ou supermercados. "O preço do orgânico já vem alto do produtor. Manter uma roça sem nada de veneno diminui a produção e aumenta o custo. Nem que você queira dá para vender abaixo desse preço." Magda cita o exemplo de uma família formada por um casal, dois filhos e mais uma empregada, que gasta, em média, R$ 200 por semana com a compra de frutas, verduras, legumes e ovos de origem orgânica.
"Não existe nada de orgânico em grande escala", explica o engenheiro agrônomo Antônio Rapetti, que também é produtor orgânico e proprietário da loja Market Natural no mercado. Segundo ele, o aumento na competitividade tende a nivelar um pouco mais os preços no mercado nacional, deixando os orgânicos, em média, cerca de 15% mais caros que os produtos convencionais, como ocorre na Europa, onde o mercado é bem consolidado.
Agricultura
Alto custo de produção freia avanço do mercado
O baixo índice de industrialização da produção orgânica e o complexo processo de certificação são apontados por especialistas como os principais gargalos para o desenvolvimento do setor. Além do alto custo, que gira em torno de R$ 10 mil para um pequeno produtor, a certificação é quesito obrigatório para a comercialização dos orgânicos.
O primeiro mercado público de orgânicos do Brasil, criado há cerca de um ano em Curitiba, deu um impulso positivo aos produtores rurais da região metropolitana que adotam o sistema de cultivo de hortifrutigrangeiros sem a utilização de agrotóxicos e aditivos químicos. A avaliação dos agricultores locais é a de que o Mercado de Orgânicos estabeleceu uma demanda fixa por esse tipo de produto, incentivando um aumento de até 100% na produção de alguns itens. A estrutura também cumpre o papel de canal alternativo de distribuição, resultando em uma negociação de preços mais vantajosa para quem planta. "Antes o único canal de vendas era as feiras livres, onde você era obrigado a aceitar o preço que o feirante estava disposto a pagar. Hoje, com o aumento na demanda provocado pelo mercado, é possível negociar", afirma o produtor rural Leonardo Deloi. Ele conta que um pé de alface orgânica, que antes era vendido a R$ 0,30 para os feirantes, é agora negociado a R$ 0,70 nos boxes do mercado. Com o preço competitivo, ele dobrou a produção do item.
Junto com seu sogro Zeferino Wojcik, Deloi produz repolho, batata, cebola, mandioca, pepino, abobrinha, beterraba, escarola, pimentão, couve, brócolis e seis tipos de alface em um sítio em Roça Nova, bairro de Araucária, na região metropolitana de Curitiba (RMC) tudo com certificação orgânica. A produção é vendida para quatro boxes e um restaurante instalados no Mercado de Orgânicos da capital. O agricultor conta que o aumento na receita permitiu que a família apostasse na ampliação dos negócios, com a inauguração de varejo do tipo "sacolão" no centro de Araucária. Outro sinal de prosperidade foi a decisão de contratar uma linha de financiamento do programa de incentivo à agricultura familiar do BNDES com o dinheiro, eles compraram um caminhão baú para entregar as mercadorias. "Antes entregávamos os produtos em um Monza velho do meu sogro: era caixa de frutas no porta-malas, verduras no bagageiro e até no banco do passageiro."
Área maior
A produtora Rosane Alba, que há oito anos planta morangos orgânicos na chácara Engenho Verde, em Colombo (RMC), afirma que a criação do mercado alavancou sua produção, resultando em um aumento de 20% na área de plantio, além de investimentos na produção de amora, framboesa, tomate e cebola. "O mercado facilitou o escoamento e virou mais uma alternativa para levar o produto até o consumidor", diz. Segundo Rosane, 30% de suas vendas são para o mercado, mesma fatia do que é vendido diretamente na propriedade. Outros 30% são destinados às feiras livres e 10% vão para as redes de supermercado.
Expansão
A agricultura orgânica vem crescendo cerca de 20% ao ano, e o número de produtores paranaenses que optam pelo sistema tem se expandido no mesmo ritmo, segundo o engenheiro agrônomo e coordenador da área de agroecologia e produtos orgânicos do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Paulo Henrique Lizarelli. Já a demanda, vem crescendo em um ritmo mais acelerado, em torno de 50% ao ano.
Além do Mercado Municipal de Orgânicos, algumas redes supermercadistas também apostam na tendência de aumento do consumo de orgânicos, com a criação de departamentos específicos para a venda desses produtos. Os programas institucionais dos governos federal, estadual e municipais também ajudam a impulsionar a demanda, com a compra de produtos orgânicos para a merenda escolar, pagando, em média, 30% a mais aos produtores.
"Além da questão econômica, o sistema de produção orgânico atende todos os aspectos da sustentabilidade. Ele evita a contaminação de solo, das nascentes, elimina o contato dos agrotóxicos tanto para o produtor quanto para o consumidor e gera emprego e renda no campo. Do ponto de vista social, todos são amplamente beneficiados", defende Lizarelli. De acordo com dados da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab), o estado conta com aproximadamente 5,3 mil produtores orgânicos, responsáveis por uma safra anual de 108 mil toneladas de produtos, cultivados em uma área de aproximadamente 3,8 mil hectares.
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