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Pouca terra e falta de incentivo afastam investidor do Paraná

Quando decide onde vai instalar sua próxima unidade, uma grande companhia do setor de base florestal considera quatro aspectos: disponibilidade de terras ou florestas, produtividade, infra-estrutura e segurança jurídica. Partindo dessa premissa, a consultoria paranaense STCP Engenharia elaborou há três anos um estudo para o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e concluiu que o Brasil é o país mais atraente na América do Sul, seguido por Chile, Uruguai e Argentina. Se o investidor usar o mesmo raciocínio para definir que estado brasileiro receberá seu dinheiro, é provável que elimine rapidamente a opção pelo Paraná.

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As empresas que anunciaram investimentos em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul levaram em conta os benefícios adicionais oferecidos pelos estados. As fábricas de compensados Guararapes e Sudati receberam incentivos fiscais do governo catarinense. Incluídas no programa Prodec, elas não vão pagar ICMS nas compras realizadas dentro do estado, e os investimentos em unidades fabris e importações serão isentos. Além disso, o ICMS sobre as vendas só será pago quatro ou cinco anos depois, com desconto de até 40%.

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O setor de base florestal do Paraná, que há décadas reúne algumas das maiores madeireiras e fabricantes de papel e celulose do país, iniciou no ano passado uma espécie de "marcha para o Sul". Atraídas por incentivos governamentais e pela abundância de madeira, pelo menos quatro grandes companhias paranaenses decidiram instalar novas unidades fora do estado – que, embora tenha a terceira maior área plantada com pínus e eucaliptos do Brasil, com 15% do total, não consegue expandir o cultivo de florestas no ritmo exigido pela nova onda de investimentos do setor.

As fábricas de compensados Guararapes e Sudati, que têm sede em Palmas (Sul do Paraná), vão cruzar a divisa e erguer suas novas fábricas no planalto de Santa Catarina, mesmo destino da Berneck Aglomerados, de Araucária (região metropolitana de Curitiba). A Masisa, de Ponta Grossa (Campos Gerais), foi mais longe: a expansão de sua produção será na gaúcha Montenegro, a 60 quilômetros de Porto Alegre. Somados, os investimentos beiram os R$ 400 milhões.

Além de ver tradicionais empresas expandindo a produção do lado de lá da divisa, o Paraná foi ignorado por três grandes companhias de papel e celulose, que preferiram aplicar no Rio Grande do Sul mais de R$ 9 bilhões na construção de fábricas e na compra ou plantio de florestas. Boa parte desse dinheiro deve reavivar a economia de 22 municípios da Metade Sul, a região mais pobre do território gaúcho.

O Paraná não ficou totalmente de fora da expansão do setor. Exemplo disso são os R$ 2,5 bilhões que a Berneck e a papeleira Klabin vão destinar à ampliação de seus parques fabris em Araucária e Telêmaco Borba (Campos Gerais) – a Klabin anunciou na quinta-feira que já estuda novo aumento em dois anos. No entanto, ambas são auto-suficientes em madeira. Quem não tem garantia de fornecimento dificilmente vai escolher o Paraná como sede de uma nova fábrica, avaliam especialistas e empresários. "As projeções apontavam que o setor receberia US$ 20 bilhões até 2015. Desse total, cerca de US$ 10 bilhões já chegaram. E muito pouco veio para o estado", diz o gerente de operações da consultoria paranaense STCP Engenharia, Marco Tuoto.

Um dos problemas do Paraná é que, por aqui, o chamado "apagão florestal" é mais perceptível. Alardeada desde o início da década por empresários do setor, a escassez de madeira vem se agravando em todo o país, já que a demanda cresce mais rápido que o plantio de novas florestas – segundo a STCP, em 2006 a área cultivada cresceu 2,5%, enquanto o consumo de toras aumentou 3,6%. Em uma atividade que exige fábricas próximas às fontes de matéria-prima, a disponibilidade de madeira é o primeiro fator que o empresário leva em conta quando faz seu planejamento. Com aumentos tímidos na área plantada, o Paraná vem perdendo espaço não só para seus vizinhos do Sul, mas também para estados como Mato Grosso do Sul, Piauí e Bahia.

"A região do Planalto catarinense tem uma concentração maior de florestas. No Paraná, nossa fazenda mais distante fica a 300 quilômetros. O ideal seria não ultrapassar 150 quilômetros", explica Osmar Kretschek, gerente florestal da Berneck. Para Tuoto, da STCP, a falta de investimentos no Paraná tem mais motivos. "Em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, os governos criaram um bom ambiente de negócios, com mais incentivo e menos burocracia, o que não se vê no Paraná."

O estado já tem um programa de fomento ao cultivo mas que, sem o pacote de benefícios oferecido pelos outros estados do Sul caminha a passos lentos. A meta é triplicar a área plantada em 20 anos. Espera-se que, até lá, o estado volte a competir de igual para igual com seus vizinhos.

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