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O atual ciclo de desvalorização do dólar assusta exportadores e empresas que competem com importados. "Com o dólar abaixo de R$ 1,80 fica complicado de vender. Posso negociar um pouco as condições com meus fornecedores, cortar a margem, mas isso tem um limite", diz Jean Paulo Almeida Silva, diretor da Tricofort, empresa de Colombo que fabrica produtos para cabelos.

As exportações da Tricofort estão em alta, devem chegar a 17% da produção neste ano, para países como Portugal, Angola e Moçambique. No momento, ela negocia contratos com clientes na França, no Oriente Médio e está de olho em oportunidades na América Latina. "Começamos nosso projeto de exportação há dez anos para ampliar o mercado e não depender tanto do consumo interno. Só que a variação no dólar deixa uma dúvida sobre o que fazer agora. É muito difícil subir os preços lá fora porque a competição é muito forte."

No setor metal-mecânico, o câmbio complica uma situação que já era difícil por causa da queda na demanda em países como Estados Unidos, Argentina e México. "Além de ter uma rentabilidade baixa quando exporta, a indústria está muito pressionada pela entrada de importados. As montadoras estão usando mais componentes de fora", afirma Roberto Karam, presidente do Sindimetal, sindicato que representa o setor.

Na Normatic, uma empresa especializada em fazer tratamento térmico de peças para o setor automotivo, o faturamento caiu 75% neste ano, em parte por causa do câmbio. "Várias fábricas que são nossas clientes dizem que encontram na China peças prontas por um preço abaixo do custo de produção no Brasil. Não há como concorrer", diz o diretor Victor Hogan. "Estamos repetindo o que aconteceu na Argentina nos anos 90, onde a indústria ficou sucateada por causa do câmbio", completa.

Mesmo empresas que em teoria seriam beneficiadas pela valorização do real têm alguma dificuldade para lidar com as oscilações do câmbio. A Serdia, uma montadora de placas de circuitos eletrônicos de Curitiba, havia encomendado no exterior uma nova máquina poucos dias antes da disparada do dólar por causa da crise, em setembro do ano passado. "Pagamos mais do que imaginávamos", conta Iberê de Assis Jr., gerente de suprimentos.

Segundo ele, a baixa do dólar hoje ajuda na redução dos custos na compra de componentes importados, que representam 50% dos insumos usados na produção. "O lado ruim é que fica impossível competir com placas importadas em alguns segmentos. Por isso nossa aposta é em nichos, como o de equipamentos médicos e odontológicos, já que o forte dos chineses está em produtos de grandes volumes e baixa tecnologia", conta.

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