Estação de tratamento de água da Sanepar, no Rio Iguaçu: grupo privado pode indicar três diretores na estatal| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Políticos temem privatização

A renovação do acordo de acionistas da Sanepar até setembro de 2021 esquentou o debate político ontem na Assembleia Legislativa do Paraná. Vice-líder da oposição, o deputado Tadeu Veneri (PT), afirmou que os termos do novo contrato, que preveem a emissão de novas ações no mercado, abrem caminho para a privatização da empresa. "O governo pode fazer com que o seu capital de participação na Sanepar diminua significativamente de proporção, como já ocorreu com a Copel. Claramente, a companhia caminha para ter outra conformação acionária nos próximos oito anos", disse.

O petista ainda ironizou o fato de o mercado ter criado anos atrás a expressão "custo Requião" para denominar o suposto prejuízo que as decisões do ex-governador traziam à empresa e aos acionistas. Segundo ele, o "custo Richa" será muito mais caro. "Esse custo significa repassar cerca de R$ 600 milhões da Sanepar para o governo do estado, que precisa receber um socorro financeiro emergencial. É um governo de uma incompetência tão grande, que hoje busca recursos de forma desesperada para tentar salvar o que resta de mandato", criticou.

O próprio senador Roberto Requião (PMDB) também fez críticas ao "crime" e "acordo contra o povo" envolvendo a Sanepar. De acordo com ele, os novos termos vão entregar o comando da empresa aos sócios privados e minoritários. "Esse grupo [consórcio Dominó] é um grupo econômico privado que quer ganhar dinheiro, aumentando tarifa e diminuindo investimento. O governador entregou a Sanepar para um grupo privado por mais dois governos", declarou.

Defesa

Em resposta, o líder do governo na Assembleia, deputado Ademar Traiano (PSDB), disse que o novo acordo é uma operação normal, cuja responsabilidade de decisão cabe ao colegiado de sócios da Sanepar. "Não vejo nenhuma razão para fazer alarde. A Sanepar é uma estatal que tem proteção da lei para fazer as operações que julgar necessárias", afirmou. "O governo anterior fragilizou a empresa, que ficou praticamente deficitária. Houve poucos investimentos e o Paraná ficou à mercê de empresas particulares, que ocuparam esse espaço."

Euclides Lucas Garcia

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O governo do estado e a Dominó Holdings assina­ram, na terça-feira, um novo acordo de a­cio­nistas da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), que vai subs­tituir o assinado em 1998. Em fato relevante, a Sanepar afirma que o acordo põe fim a uma disputa judicial que se arrasta há dez anos.

A briga entre o estado, que tem 60% do capital votante da Sanepar, e da Dominó, com 39,71%, começou em 2003, quando o então governador, Roberto Requião (PMDB), rompeu o acordo de acionistas, por julgar que o sócio minoritário tinha o comando na condução das operações e das estratégias da empresa.

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A medida deu origem a um imbróglio judicial que envolve, segundo estimativas, R$ 1 bilhão em ações da Dominó contra o governo. O sócio privado estaria disposto a abrir mão das ações judiciais.

Pelo novo acordo, a Dominó mantém o poder de indicar posições- chave na gestão da empresa, como os diretores superintendente, financeiro e de operações. Mas, segundo informações da assessoria de imprensa do governo, ao contrário do acordo anterior, o diretor financeiro terá de ser um funcionário de carreira da empresa e os nomes precisam ser aprovados pelo Conselho de Administração. O Dominó, no entanto, perde o poder de veto nas decisões.

Capitalização

A mudança prevê ainda o aumento de capital da companhia, com a emissão de ações preferenciais (sem direito a voto) no valor de R$ 781,1 milhões, que serão usadas como pagamento ao governo, de parte de uma dívida do projeto ParanáSan.O pagamento, por meio de ações, garantirá um aumento de participação do governo na Sanepar, de 34,99% para 56,46% das ações preferenciais. Se não acompanhar o movimento, o Dominó terá sua participação diluída de 23,16% para 15,1%. Apesar dessa operação, a participação no capital votante se mantém.

Em nota, o governo reforça que o plano de organização e o plano de negócios da Sanepar deverão ser analisados agora pelo Conselho de Administração. "No acordo anterior, eram aprovados apenas pelo diretor financeiro (indicado pelo Dominó) e pelo diretor administrativo (indicado pelo governo)".

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Entenda - Copel faz parte do grupo desde 2008

O acordo de acionistas anterior foi criado na gestão de Jaime Lerner. Quando Roberto Requião assumiu o governo, em 2003, a relação entre os sócios estremeceu. Requião tentou de várias formas anular o poder do sócio privado. A primeira vez foi com o rompimento do acordo de acionistas. Sem sucesso, ele promoveu um aumento de capital, operação suspensa na justiça.

A Dominó Holdings é formada pela Companhia Paranaense de Energia (Copel), que detém 45% do capital; pela Daleth Participações (27,5%), que reúne fundos de pensão de empresas públicas, como BNDES, Copel, Caixa Econômica Federal, dentre outras, e pela Andrade Gutierrez Concessões, com os outros 27,5%. A presença forte da Copel no consórcio teria facilitado a condução do novo acordo. A companhia de energia estadual passou a ser principal acionista da Dominó em 2008, quando comprou a participação da francesa Sanedo no consórcio.