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Professor da FEA/USP e economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves defende que o país precisa ter uma política industrial para incentivar o investimento na economia, como ocorre nos Estados Unidos, Itália, Alemanha ou Coreia do Sul. Ele diz que a economia deve continuar em "ritmo modorrento", com crescimento máximo de 2% em 2014.

O que é preciso para aumentar os investimentos?

O que existe de factível é a infraestrutura: há gargalos que sugerem oportunidades por um bom tempo. Não é o paraíso que imaginam, mas existe. O importante é que as concessões saíram. Só é preciso lembrar que, no mundo inteiro, o grosso do investimento em infraestrutura é feito a fundo perdido.

Há outros caminhos?

O segundo ponto do investimento é incentivar determinados setores. Precisa reduzir impostos, mas é necessário ajudar os setores mais importantes. Não é possível ter uma economia dinâmica que produza só minério de ferro e soja, nem que se produza de A a Z. É uma coisa no meio do caminho. Se deixar para o mercado escolher, vai ser soja e minério. Sou contra, quero uma cadeia industrial, competitividade.

Alguns dizem que isso leva a excessos...

Óbvio que isso não quer dizer carregar os caras no colo. É uma escolha de política industrial, onde tem capacidade de atrair, absorver e desenvolver tecnologia. É preciso ter gente que conheça o setor e saiba como estimular e como cobrar. E se não entregar [o acerto], pune. Não sou especialista em política industrial, mas só acho curioso que tem no Japão, na Coreia, na Alemanha, na França, na Itália e nos Estados Unidos, mas não pode ter no Brasil. Se olhar a história da Apple, lá atrás tem bolsa do governo americano.

O que esperar da economia em 2014?

Acho que vai continuar num ritmo modorrento e crescer no máximo 2%. Há um problema externo: quando a China anda mais devagar, o mundo também. É o mesmo jogo de empurra de 2009. É óbvio que a capacidade da China gerar superávits [comerciais] vai diminuir, mas quem vai gerar menos déficit? A situação lá fora está feia, e é difícil cuidar do câmbio. Acho ridículo os colegas [economistas] cobrarem o dever de casa [do Brasil]. Precisaria de 10% de superávit [fiscal] primário para cuidar do câmbio. Quando há pressão de desvalorização global, não se pode dizer que o problema é dos emergentes.

O que acha da visão do banco central dos EUA de que o Brasil é vulnerável?

Relatórios desse tipo têm defasagem. Nem a reação da Turquia nem a do Brasil estão lá. Não há referência ao fato de o Brasil estar subindo juros desde abril. Somos muito diferentes. A situação política na Turquia é pavorosa, e no Brasil há uma eleição complicada. O Brasil está muito melhor do lado fiscal, de contas externas, de financiamento externo. Aqui há problemas de fluxo da dívida pública, não de estoque. A situação da dívida é confortável, se comparada ao resto do mundo.

José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator.

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