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O Brasil vive um momento de reconquista da confiança e do otimismo e deve voltar a crescer entre 3% e 4% a partir do ano que vem. Mas o governo precisa se concentrar em estimular o investimento – o país não precisa de mais incentivos ao consumo. A avaliação é do economista Eduardo Giannetti da Fonseca, professor do Insper, que esteve em Curitiba para participar do lançamento do Instituto Positivo, na sexta-feira. Em entrevista à Gazeta do Povo, Gianetti disse que a manutenção da estabilidade macroeconômica, a ascensão de uma nova classe média e a grande proporção da população no ápice da capacidade produtiva e de geração de riqueza forma a base perfeita para que o país promova um salto de desenvolvimento nos próximos anos.

A redução dos juros faz parte desse novo momento vivido pelo Brasil?

O Brasil está em território novo, testando juros reais que são os mais baixos desde o Plano Real. Não dá para saber de antemão se isso é uma realidade permanente no patamar em que está ou se quando a economia voltar a se aquecer o governo novamente precisará apertar a política monetária. No entanto, acredito que, mesmo nesta segunda hipótese, não será na mesma dosagem com que isso era feito no passado. Eu acho que muito dificilmente vamos voltar ao juro nominal de dois dígitos, como tivemos em praticamente todo o período desde o início do Plano Real.

Os juros podem cair ainda mais?

Tenho impressão de que esse ciclo de queda do juro primário está encerrado. O teste vai ser a capacidade de manter isso ao longo do ano que vem, especialmente quando a economia e a demanda voltarem a crescer com vigor. Se a capacidade de oferta não acompanhar, poderemos ter uma pressão inflacionária. Estamos vivendo um momento de retração, que já começa a dar sinais de reversão, e a economia deve voltar a crescer entre 3% e 4% nos próximos anos. Neste caso, deve ficar mais difícil sustentar juros primários baixos.

Os juros baixos incentivam o consumo? Por quanto tempo essa fórmula ainda deve funcionar?

Ao invés de criar medidas para incentivar o consumo, o governo deveria incentivar o investimento. Acho bastante positivas as medidas de desoneração tomadas pelo governo para promover o crescimento e incentivar a competitividade, como os cortes nas tarifas de energia, por exemplo. O incentivo ao consumo esbarra num limitador, que é a questão da inadimplência. Além disso, é uma medida de efeito pontual, e não é disso que o país precisa.

Apesar dos cortes de juros, ainda estamos longe do ideal?

Para um país que almeja crescer, diria que sim. As reduções atingiram principalmente os juros primários. Além disso, a continuidade das reduções esbarra em outros fatores que vão além da disposição do governo para cortar os juros. O governo usou os bancos públicos para pressionar a redução das taxas também nos bancos privados. Contudo, temos um grande limitador no Brasil, que é o alto custo operacional dos bancos. Também tem outra questão muito peculiar que só ocorre no Brasil, onde o preço à vista vem com juros embutidos. Trata-se de uma manipulação da informação e abuso da economia popular utilizada extensivamente pelo varejo, que se aproveita do baixo nível de educação financeira da maioria da população. As pessoas precisam aprender a poupar para comprar.

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