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Queda na demanda por commodities e falta de competitividade de exportadores comprometeram o saldo comercial | Giuliano Gomes/Gazeta do Povo
Queda na demanda por commodities e falta de competitividade de exportadores comprometeram o saldo comercial| Foto: Giuliano Gomes/Gazeta do Povo

Choque de realidade

Governo admite que país fechará o ano no vermelho

O governo federal reconheceu pela primeira vez no ano que o país deve registrar deficit comercial em 2014. Segundo o MDIC, o resultado de novembro fez com que a pasta revisasse sua projeção.

Até o início de novembro, o governo ainda insistia na possibilidade de superavit no ano.

Caso a previsão se concretize, será o primeiro saldo comercial negativo desde 2000, quando o deficit foi de US$ 732 milhões.

"O Mdic está trabalhando agora com deficit comercial para 2014. Embora o número de dezembro seja tradicionalmente superavitário, ainda assim não deverá superar o deficit acumulado de janeiro a novembro", afirmou Roberto Dantas, diretor do departamento de estatística e apoio à exportação do Mdic.

Segundo ele, as apostas da pasta na recuperação das vendas em novembro não se concretizaram. O governo esperava aumento dos preços do minério de ferro, manutenção das exportações de carne e melhora da chamada conta-petróleo, que mostra a diferença entre a venda e a compra de petróleo e combustível do exterior. Nenhuma das três premissas prosperou.

As exportações de carne caíram, com redução nos embarques especialmente para a Venezuela e para a Arábia Saudita. Já a queda nos preços internacionais afetou as receitas do país com a venda de petróleo e de minério de ferro.

Além disso, a indústria é quem tem perdido mais espaço. Até novembro, as vendas de bens manufaturados representaram apenas 35,3% das exportações brasileiras, a menor participação registrada desde 1994, quando começa a série histórica do MDIC.

A balança comercial brasileira teve em novembro o pior desempenho da história e consolidou a perspectiva de que vai fechar no vermelho em 2014, após 14 anos de superávits. Segundo os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), a balança teve déficit de US$ 2,35 bilhões no mês passado, o maior para o mês da série histórica.

INFOGRÁFICO: Veja o índice da balança comercial desde 2004

No acumulado de janeiro a novembro, o déficit somou US$ 4,22 bilhões – o pior resultado para o período desde 1998. Com os dados do mês passado, o governo passou a admitir a possibilidade de déficit na balança comercial.

A piora da balança comercial faz parte de um quadro mais amplo de deterioração das contas externas, o que representa mais um problema para a equipe econômica, já às voltas com a inflação alta e baixo crescimento.

O déficit em conta corrente, que, além da balança comercial, inclui serviços, juros, dividendos e remessas, subiu de 3,62% do PIB em 2013 para 3,73% nos 12 meses até outubro de 2014. Dessa forma, o governo inicia 2015 também com a preocupação de melhorar o financiamento das contas externas. No caso da balança, a equipe econômica tem limitações fiscais para conceder medidas de estímulo à indústria para aumentar a competitividade, como já foi feito no passado.

O resultado atual da balança comercial também tem sido afetado por outros fatores. O crescimento mais fraco da China faz com que a demanda mundial por commodities recue, o que derruba os preços dos produtos. E há um efeito de ociosidade, principalmente no caso do minério de ferro, por causa da maturação dos investimentos feitos no passado que agora provocam um aumento da oferta do produto.

No mercado, os analistas também não trabalham mais com um superávit. "Inevitavelmente, o saldo em 2014 será negativo", avaliou o economista da Tendências Consultoria Integrada Bruno Lavieri. A projeção da Tendências é de que a balança comercial termine o ano com saldo negativo em US$ 1,7 bilhão.

A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) também passou a projetar um déficit para este ano, de US$ 4,7 bilhões.

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