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O mercado financeiro internacional praticamente ignorou as discussões da campanha presidencial brasileira, segundo economistas de Wall Street ouvidos pela BBC Brasil.

"Esta eleição foi um não-evento (para o mercado financeiro)", afirmou o economista responsável pela área de América Latina no banco de investimentos Dresdner Kleinwort Wasserstein, Nuno Camara.

Na opinião de Camara, a retórica de palanque não preocupa mais tanto o investidor estranheiro pelo histórico do país. "Em 2002 (quando Lula foi eleito) a retórica era muito pior e acabou dando lugar ao pragmatismo", afirma Camara. "Não há por que o pragmatismo não prevalecer agora."

"O discurso de campanha é para o eleitorado, não para os investidores e é assim que é lido", afirma Ricardo Amorim, diretor de estratégias de investimentos para a América Latina do banco WestLB.

Para os economistas, embora prevaleça a preferência pelo candidato do PSDB Geraldo Alckmin, as políticas adotadas nos últimos anos fizeram com que os investidores deixassem de temer uma segunda vitória de Lula.

"Em 2002, havia um risco de ruptura, que acabou se provando errado. (Agora) ganhe o Lula ou ganhe Alckmin, as mudanças vão ser relativamente pequenas", diz Amorim.

Ajuste fiscal

Nuno Camara diz que mesmo o relaxamento fiscal em 2006 denunciado pela oposição é considerado um "deslize" normal em ano eleitoral, especialmente diante da perspectiva de uma volta ao padrão verificado nos primeiros três anos de mandato.

Lula e Alckmin trocaram acusações nas discussões sobre gastos públicos, com o petista acusando o tucano de querer cortar programas sociais e ao mesmo tempo sendo criticado por suposta ineficiência e "desperdício" dos recursos públicos.

O assunto também revelou contradições nas duas campanhas. Geraldo Alckmin chegou a desautorizar Yoshiaki Nakano, um dos colaboradores na formulação de seu programa econômico, na sua declaração de que, se eleito, Alckmin promoveria um corte equivalente a 3% do PIB (Produto Interno Bruto) nos gastos públicos. Dias depois o candidato saiu em defesa do assessor, embora tenha evitado citar percentuais.

O presidente Lula, por sua vez, contradisse o coordenador da sua campanha, Marco Aurélio Garcia, ao dizer que cortaria apenas "gastos supérfluos" sem conter os reajustes do funcionalismo público - hipótese cogitada por Garcia dias antes.

Amorim, do WestLB, destaca as diferenças do cenário de agora com o de 2002. em que o Brasil sofreu os efeitos da combinação entre uma fase de extrema instabilidade internacional e as incertezas eleitorais.

"Hoje o cenário externo ajuda, não atrapalha. Acho até que ocorrerá o inverso: o governo Lula pegou a situação (econômica) melhorando. Agora, acredito que vá pegar piorando."

Os dois economistas acreditam, no entanto, que a vulnerabilidade em relação a fatores externos tenha diminuído e que o Brasil não deverá sofrer tanto com eventuais oscilações negativas no cenário internacional.Reformas

Tanto Amorim como Câmara têm dúvidas em relação à estratégia de Lula para um segundo mandato.

Para o economista do West LB, o presidente geraria uma "euforia" nos mercados se partisse para uma agenda voltada para o crescimento e o emprego.

Nessa estratégia, o economista inclui reformas politicamente difíceis como a da Previdência e a do Judiciário e o projeto de independência do Banco Central que, segundo ele, teria impacto muito positivo na percepção externa do Brasil.

"Se nada disso for feito, vamos continuar crescendo a 3%, o que significa na prática que a gente está ficando para trás do mundo."

Um outro analista de um dos principais bancos de investimento de Nova York diz que Lula "não terá incentivo nem apoio" para aprovar reformas difíceis como a da Previdência e se limitará a reformas "mais periféricas" no contexto econômico, como a política. "Mas não acho que vai ser catastrófico".

Na avaliação de Nuno Camara, do Dresdner, mesmo a política de juros não precisa entrar num ritmo acelerado de cortes. Para ele, uma taxa Selic de 12% ao fim de 2007 seria razoável - atualmente a taxa está em 13,75%.

"Três ou quatro bancos centrais do mundo estão cortando juros", reforça o analista que não quis se identificar.

Embora assumidamente tucano, ele reconhece que o governo Lula pegou um momento de alta global de juros e elogia a condução da economia nos últimos quatro anos.

A hipótese de a eleição ser levada à Justiça pela oposição, no caso da reeleição de Lula, ou de uma crise institucional com o eventual agravamento das denúncias de corrupção envolvendo políticos do PT também não são vistas com grande preocupação pelos economistas.

"Quem apostou contra no escândalo do mensalão perdeu dinheiro. No caso dos sanguessugas, também", diz o analista.

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