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Jean-Marc Ayrault:  país está “debilitado economicamente e degradado socialmente” | Philippe Wojazer/Reuters
Jean-Marc Ayrault: país está “debilitado economicamente e degradado socialmente”| Foto: Philippe Wojazer/Reuters

O primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, pediu ontem que seus compatriotas se mobilizem pelo direcionamento positivo do país, debilitado por uma dívida "esmagadora", mas rejeitou a austeridade orçamentária devido à queda do crescimento da economia. Ayrault abordou durante um discurso de mais de uma hora e meia a crise e outros temas, antes de submeter aos deputados um voto de confiança ao governo – uma formalidade, dado que o Partido Socialista e seus aliados têm a maioria absoluta na Câmara Baixa do Parlamento.

O primeiro-ministro pediu a mobilização de todos os franceses para que o país – "debilitado economicamente, degradado socialmente, dividido politicamente e ferido moralmente" – recupere a confiança em seu porvir. Em um contexto de crescimento revisado para baixo (0,3% para 2012 e 1,2% para 2013, contra 0,7% e 1,7% respectivamente), a luta contra a dívida, que alcança cerca de 1,8 trilhão de euros, é prioritária, assim como o emprego. "Uma França endividada é uma França dependente; dependente com relação às agências de classificação, dependente com relação aos mercados financeiros", argumentou Ayrault.

Em um discurso que enfocou o patriotismo, o primeiro-ministro descartou reiteradamente qualquer ideia de austeridade orçamentária, optando pela expressão "endereçamento com justiça". "Não haverá giro na política do governo", afirmou. A França deve apresentar nos próximos dias um reajuste orçamentário para 2012, que integra um esforço adicional para economizar entre 7 e 10 bilhões de euros.

OpiniãoPara salvar o euro, deixe-o

Kenneth C. Griffin e Anil K. Kashyap

À medida que a crise econômica continua a se intensificar na Europa, os decisores políticos precisam encarar a necessidade de tomar medidas ainda mais extremas para evitar um desastre econômico.

A melhor e mais ousada solução, até o momento, mas que ainda é praticamente inconcebível, é que a Alemanha reintroduza o marco, o que faria com que o euro se desvalorizasse imediatamente. Tal desvalorização daria às economias em crise, especialmente às da Grécia, Itália e Espanha, a flexibilidade financeira de que precisam para se estabilizar.

Ainda que uma sequência de desvalorizações monetárias não seja o melhor caminho para a prosperidade, um euro mais fraco aumentaria significativamente a competitividade de todos os membros da união cambial, incluindo a França e a Holanda, o que provavelmente os levaria a optar por continuar com o euro, caso a Alemanha decidisse reintroduzir o marco. O ressurgimento da indústria também possibilitaria que o grande número de desempregados finalmente começasse a diminuir na Espanha, em Portugal, na Grécia e em outros países. A gigantesca perda de capital humano e de dignidade que estamos presenciando neste momento iria diminuir.

A volta do marco não iria resolver o problema da dívida nos países do sul da Europa, mas daria a eles o espaço necessário para que eles reestruturassem suas economias, renovassem os mercados de trabalho, recolhessem mais impostos e deixassem os investidores mais seguros. A capacidade dos países do sul da Europa de cumprirem com os compromissos de sua dívida pública iria melhorar imediatamente, ajudando a acabar com o efeito dos juros e com a crise bancária que toma conta do continente desde 2008.

O euro mais fraco também encorajaria um maior investimento estrangeiro. Por exemplo, o desesperado mercado imobiliário espanhol se tornaria muito mais atraente. Além disso, o aumento do fluxo de capitais também iria acalmar os investidores que estão preocupados com as perdas desconhecidas, causadas pelos empréstimos imobiliários dados pelos bancos espanhóis.

Diferentemente da Grécia – cuja saída exigiria a conversão ou o cancelamento das dívidas em euro (com consequências financeiras potencialmente catastróficas) – a Alemanha seria capaz de reintroduzir o marco sem alterar a forma de suas atuais responsabilidades, ativos e contratos. Por exemplo, os euros depositados nos bancos alemães continuariam a ser euros. O mesmo aconteceria com as excepcionais dívidas públicas e corporativas da Alemanha, que atualmente estão em euros.

A saída alemã do euro poderia acontecer gradativamente, iniciando-se pela emissão de títulos da dívida em marcos, seguida dos títulos corporativos. A Alemanha poderia estabelecer um período de transição antes que o marco pudesse ser utilizado no dia a dia.

A base industrial alemã certamente passaria por períodos difíceis durante a transição para uma moeda mais forte. Nos primeiros anos, a Alemanha poderia utilizar uma série de medidas para lidar com a taxa de apreciação do marco, assim como a China e a Suíça fazem atualmente. Com o tempo, a base da indústria alemã iria se adaptar e voltar a crescer.

Os críticos dirão que nossos planos são um convite ao caos financeiro. Muito pelo contrário: o capital sairia dos ativos "seguros" em direção a investimentos mais produtivos, aumentado as perspectivas de crescimento global. Os recursos que atualmente estão alocados para a sopa de letrinhas dos programas de socorro e para as garantias financeiras poderiam ser redirecionados. Além disso, a atual situação não pode ser considerada um modelo de estabilidade.

Ainda que a maior parte dos observadores, incluindo os tomadores de decisão alemães, acreditem que a Alemanha fará o que for necessário para salvar o euro, salvar a União Europeia é mais importante, uma vez que ela é mais velha, maior e mais importante que a zona do euro. A atual situação provavelmente levaria a mais pacotes de ajuda internacional, mais garantias e, finalmente, a mais calotes da dívida pública e a enormes transferências fiscais. Isso significaria uma contínua perda de capital humano e de dignidade para o sul da Europa, e o pesadelo do comprometimento de trilhões de euros por parte da Alemanha.

A histórica responsabilidade alemã não condiz com a realidade atual. A única forma de fazer com que o euro sobreviva é que a Alemanha coloque toda a sua força financeira a serviço do euro – algo que seria profundamente injusto com os alemães comuns – e, ainda assim, não é possível saber se a zona do euro poderia ser salva em sua forma atual. Em vista do que aconteceu na Grécia, é impensável que os líderes alemães possam fornecer mais garantias financeiras para os países periféricos.

Como a Inglaterra, a Alemanha pode fazer parte da União Europeia, sem fazer parte do euro. O mais importante é a preservação da maior conquista da União Europeia: o livre trânsito de trabalhadores, bens e serviços. Apenas a Alemanha tem a capacidade de acabar com uma união cambial problemática e trazer de volta a prosperidade à Europa.

Kenneth C. Griffin é fundador e executivo-chefe da empresa de investimentos Citadel. Anil K. Kashyap é professor de economia e finanças na Faculdade de Administração da Universidade de Chicago.

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