Pedro Guimarães ocupava o cargo de presidente da Caixa desde o início do governo Jair Bolsonaro (PL) e era um dos aliados mais próximos do presidente.| Foto: Marcos Corrêa/PR
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O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, pediu demissão do cargo nesta quarta-feira (29), um dia depois das denúncias de funcionárias do banco que acusam o executivo de assédio sexual virem à tona em reportagem do portal Metrópoles. O caso está sendo investigado em sigilo pelo Ministério Público Federal (MPF). Daniella Marques Consentino, que era secretária especial de Produtividade e Competitividade no Ministério da Economia, vai assumir a presidência do banco.

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Segundo informações do jornal O Globo, Guimarães oficializou seu pedido de demissão em rápida reunião com o presidente Jair Bolsonaro nesta quarta. Ele entregou uma carta em que afirma ter sido vítima de uma “situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade”.

Os dois já haviam conversado na noite anterior, logo após a publicação das denúncias, e teriam decidido que o afastamento seria necessário para não prejudicar a campanha de reeleição do presidente da República. Na carta de demissão, Guimarães disse que não pode "prejudicar a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral".

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O agora ex-presidente da Caixa disse que deixa o cargo para se “defender das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram”. Mais cedo, ele participou de um último ato como chefe do banco público, em uma cerimônia, do Plano Safra fechado à imprensa, em que disse "ter a vida pautada pela ética".

Pedro Guimarães, 51 anos, ocupava o cargo de presidente da Caixa desde o início do governo Bolsonaro, sendo considerado um dos aliados mais próximos do presidente. Ele tomou posse no dia no dia 7 de janeiro de 2019.

Frequentemente o executivo aparecia ao lado do chefe do Planalto em eventos oficiais, viagens e nas lives semanais. Indicado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, ele era até então o único presidente de uma grande estatal que continuava no cargo desde o começo da atual gestão.

Mais cedo, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou que o presidente da Caixa deixaria o cargo para que as denúncias de assédio sexual não sejam usadas contra Jair Bolsonaro na campanha à reeleição. "O presidente obviamente não tem nada a ver com isso”, disse o senador em entrevista ao Estadão.

“Então, assim, a tentativa da oposição e de parte da imprensa de querer vincular ao presidente Bolsonaro não tem nada a ver. O presidente Bolsonaro agora vai ser responsável por questões pessoais, por condutas pessoais que não têm nada a ver com o serviço público para o qual ele foi escolhido para exercer uma determinada missão?", indagou.

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Segundo Flávio, o presidente conversou com Guimarães ainda na noite desta terça. “Então, óbvio que isso é inaceitável. A decisão do presidente foi correta de imediatamente chamar o Pedro pra conversar e o Pedro compreendeu que poderia ser usado para explorar o presidente, já que é um problema inaceitável, mas é coisa de cunho pessoal do Pedro; não tem nada a ver com o governo, não tem nada a ver com a Presidência”, disse.

Leia a íntegra da carta em que Pedro Guimarães pede demissão

“À população brasileira e, em especial, aos colaboradores e clientes da CAIXA:

A partir de uma avalanche de notícias e informações equivocadas, minha esposa, meus dois filhos, meu casamento de 18 anos e eu fomos atingidos por diversas acusações feitas antes que se possa contrapor um mínimo de argumentos de defesa. É uma situação cruel, injusta, desigual e que será corrigida na hora certa com a força da verdade.

Foi indicada a existência de um inquérito sigiloso instaurado no Ministério Público Federal, objetivando apurar denúncias de casos de assédio sexual, no qual eu seria supostamente investigado. Diante do conteúdo das acusações pessoais, graves e que atingem diretamente a minha imagem, além da de minha família, venho a público me manifestar.

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Ao longo dos últimos anos, desde a assunção da Presidência da CAIXA, tenho me dedicado ao desenvolvimento de um trabalho de gestão que prima pela garantia da igualdade de gêneros, tendo como um de seus principais pilares o reconhecimento da relevância da liderança feminina em todos os níveis da empresa, buscando o desenvolvimento de relações respeitosas no ambiente de trabalho e por meio de meritocracia.

Como resultados diretos, além das muitas premiações recebidas, a CAIXA foi certificada na 6ª edição do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), além também de ter recebido o selo de Melhor Empresa para Trabalhar em 2021 – Great Place To Work®️, por exigir de seus agentes e colaboradores, em todos os níveis, a observância dos pilares Credibilidade, Respeito, Imparcialidade e Orgulho.

Essas são apenas algumas das importantes conquistas realizadas nesse trabalho, sempre pautado pela visão do respeito, da igualdade, da regularidade e da meritocracia, buscando oferecer o melhor resultado para a sociedade brasileira em todas as nossas atividades.

Na atuação como Presidente da CAIXA, sempre me empenhei no combate a toda forma de assédio, repelindo toda e qualquer forma de violência, em quaisquer de suas possíveis configurações. A ascensão profissional sempre decorre, em minha forma de ver, da capacidade e do merecimento, e nunca como qualquer possibilidade de troca de favores ou de pagamento por qualquer vantagem que possa ser oferecida.

As acusações noticiadas não são verdadeiras! Repito: as acusações não são verdadeiras e não refletem a minha postura profissional e nem pessoal. Tenho a plena certeza de que estas acusações não se sustentarão ao passar por uma avaliação técnica e isenta.

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Todavia, não posso prejudicar a instituição ou o governo sendo um alvo para o rancor político em um ano eleitoral. Se foi o propósito de colaborar que me fez aceitar o honroso desafio de presidir com integridade absoluta a CAIXA, é com o mesmo propósito de colaboração que tenho de me afastar neste momento para não esmorecer o acervo de realizações que não pertence a mim pessoalmente, pertence a toda a equipe que valorosamente pertence à CAIXA e também ao apoio de todos as horas que sempre recebi do Senhor Presidente da República, Jair Bolsonaro.

Junto-me à minha família para me defender das perversidades lançadas contra mim, com o coração tranquilo daqueles que não temem o que não fizeram.

Por fim, registro a minha confiança de que a verdade prevalecerá.

Pedro Guimarães”

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Guedes indica nova presidente da Caixa

A nova presidente da Caixa é Daniella Marques Consentino, que desde fevereiro deste ano ocupava a função de secretária especial de Produtividade e Competitividade no Ministério da Economia. Antes ela atuou como chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos do ministro Paulo Guedes desde o início do governo, em 2019.

Segundo a pasta, Daniella é formada em Administração pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e tem MBA em Finanças pelo IBMEC/RJ. Ela atuou por 20 anos no mercado financeiro, na área de gestão independente de fundos de investimentos. Foi também sócia-fundadora e diretora de fundos de investimento antes de ingressar no governo.

A nomeação dela para o comando da Caixa foi oficializada em divulgação extraordinária do Diário Oficial da União, que trouxe também a exoneração de Pedro Guimarães.

Executivo diz que tem a vida pautada pela ética

Em seu último ato à frente da Caixa, Pedro Guimarães participou na  manhã desta quarta-feira (29) de uma cerimônia do Plano Safra que inicialmente seria aberto, mas acabou fechado para a imprensa após a repercussão do caso.

Durante seu pronunciamento, o executivo não  citou diretamente as denúncias, mas afirmou que teve um vida inteira pautada pela ética, citando também os filhos e a esposa, que estava presente na plateia. “Tanto é verdade que quando assumi (o cargo), o banco tinha os piores ratings das estatais, dez anos de balanço com ressalvas. Uma série de questões que todos vocês sabem. E hoje a gente é um exemplo. Então eu tenho muito orgulho do trabalho de todos vocês e da maneira como eu sempre me pautei em toda a minha vida ”, discursou Guimarães em vídeo obtido por O Globo.

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As denúncias que derrubaram Pedro Guimarães

Ao menos cinco vítimas prestaram depoimento em vídeo e que foram reproduzidos pelo site Metrópoles. Elas relataram que se sentiram abusadas por Guimarães em diferentes ocasiões, sempre durante compromissos de trabalho. Segundo as funcionárias, os supostos abusos teriam ocorrido, na maior parte das vezes, em viagens de trabalho da Caixa pelo Brasil.

Em um dos depoimentos, uma das funcionárias relatou que durante uma viagem foi convidada pelo presidente da Caixa para ir à piscina do hotel onde estavam hospedados. No local, ela e uma colega teriam assistido Guimarães nadando na piscina e ouviram de um dos auxiliares dele: "E se o presidente quiser transar com você?"

Em outra ocasião, Pedro Guimarães teria sugerido que em uma das viagens seguintes, para Porto Seguro, deveria ser feito um "carnaval fora de época". A declaração ocorreu durante um jantar. "Ninguém vai ser de ninguém. E vai ser com todo mundo nu", teria dito o presidente da Caixa, de acordo com relato divulgado pelo site.

Entre as denúncias apresentadas na reportagem, estão relatos de que Guimarães “pegava” na cintura ou no bumbum de funcionárias sem consentimento. O presidente da Caixa também teria o costume de pedir para auxiliares mulheres irem até seu quarto de hotel para levarem objetos, como carregadores de celular ou algum documento. Em uma dessas ocasiões, ele recebeu uma funcionária de cueca. Em outra, Guimarães teria pedido para uma empregada do banco tomar um banho e voltar ao seu quarto para “tratarem de sua carreira”.

Caixa diz que não sabia das denúncias

Em nota, a Caixa Econômica Federal afirmou que não tinha conhecimento das denúncias - o que também foi contestado pela vítimas - e que o “banco possui um sólido sistema de integridade”. “A Caixa possui, ainda, canal de denúncias, por meio do qual são apuradas quaisquer supostas irregularidades atribuídas à conduta de qualquer empregado, independente da função hierárquica, que garante o anonimato, o sigilo e o correto processamento das denúncias”, diz o banco.

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