O presidente da Argentina, Mauricio Macri: medida foi uma das promessas de campanha.| Foto: LULA MARQUES/Agência PT

O peso argentino sofreu nesta quinta-feira (17) sua maior desvalorização desde a crise econômica de 2002, com o dólar subindo mais de 40%, depois de o governo de Mauricio Macri ter acabado com as restrições para a moeda estrangeira, em vigor desde 2011.

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Com grande expectativa, as telas das casas de câmbio registraram desde das 10H05 locais (11H05 de Brasília) 15 pesos o dólar e até o meio-dia caía 14,20 pesos o dólar, uma desvalorização de quase de 30% da moeda argentina.

Essa forte desvalorização afetará os trabalhadores durante a primeira parte de 2016 com projeções de recuperação no final do mesmo ano, estimam economistas consultados pela AFP.

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No centro de Buenos Aires, os cambistas do mercado ilegal continuam como todos os dias comercializando a divisa e mantendo o preço dos últimos dias, entre 14,10 e 14,20 para venda.

Nesta quinta será medida a demanda nas ruas e definida a diferença em relação à última cotação oficial da moeda no país, que já teve paridade com o dólar entre 1991 e 2001.

“A partir desta quinta, qualquer pessoa poderá comprar dólares”, disse em coletiva de imprensa o ministro de Fazenda e Finanças, Alfonso Prat-Gay, ao anunciar “o fim da banda cambial”, que acaba com as restrições do governo de centro-esquerda de Cristina Kirchner, que manteve políticas protecionistas criticadas pelo novo presidente liberal de direita Mauricio Macri.

O fim das restrições cambiais era um persistente pedido dos empresários, do campo e dos mercados pelas distorções que criou para importar e exportar.

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Mercado

O economista Nicolás Dujovne disse à agência AFP que a “chave do sucesso da eliminação das restrições é que se chegue a um nível de 14/15 pesos o dólar, que o governo não dê marcha ré com a liberalização e que a transferência de preços não seja muito alta”.

Consultores estimam que a intenção do novo governo é que se fixe pela ordem dos 14,50 pesos o dólar, o que implicará uma forte desvalorização com o risco de que seja repassada aos preços do varejo, que há semanas têm aumento de até 60% em produtos da cesta básica.

“O preço do dólar será decidido amanhã [sexta, 18] pelo mercado. Mas também terá um Banco Central com as ferramentas necessárias para intervir se o dólar subir ou cair muito”, afirmou Prat-Gay.

Ele estima que entrarão nos cofres argentinos “entre US$ 15 e US$ 25 bilhões nas próximas quatro semanas”. Esse valor é maior do que os US$ 10 bilhões considerados necessários para poder liberar a compra e venda da divisa.

A medida abre a possibilidade de que cidadãos e empresas possam comprar “até US$ 2 milhões sem restrições”, apontou Prat-Gay. Até agora, as pessoas só podiam adquirir US$ 2 mil por mês.

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“Quem quiser importar ou exportar, ou comprar dólares pode, ninguém o perseguirá”, declarou o ministro.

Apostas em ‘dois’ países

Com uma economia estagnada, um déficit acima de 7% do PIB e uma inflação que ronda os 30%, segundo consultorias privadas da terceira economia da América Latina, “não havia muita margem para continuar adiando essa decisão”, afirmou o relatório da consultoria argentina Ecolatina.

A eliminação do controle cambial soma-se a uma agitada semana em que, em menos de sete dias como presidente, Macri eliminou impostos a empresas agropecuárias e à indústria.

Além disso, cortou em cinco pontos uma taxação (de 35% para 30%) à soja.

Macri venceu as eleições presidenciais no dia 22 de novembro com 51% dos votos contra Daniel Scioli, candidato do kirchnerismo, que obteve 49%.

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Em meio a uma série de anúncios, ficou evidente a polarização nas ruas e nas redes sociais, em que a hashtag #ChauCepo (em português, “tchau, banda cambial”) convocava reações a favor e contra o governo.