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Soccol, da UFPR, diante de amostras de microalgas: pesquisas sobre os alimentos do futuro | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Soccol, da UFPR, diante de amostras de microalgas: pesquisas sobre os alimentos do futuro| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Tendências

Comida mais nutritiva e barata

Os bioprocessos podem tornar os alimentos mais nutritivos e baratos ao mesmo tempo, relatam os pesquisadores. Numa época de crescente preocupação com a saúde, isso significa que nem sempre o consumidor tem de pagar mais para se alimentar melhor. Casos como o da adição de ômega 3 a alimentos como margarinas e biscoitos são considerados emblemáticos.

Esses alimentos acabam atraindo o consumidor mesmo custando mais. "A concentração de óleo anunciada é pequena. Muitas vezes não se justifica pagar por ela. Podemos evoluir muito usando óleo produzido por microalgas, a um custo menor", sustenta a pesquisadora Amabile Tokarski, que trabalha nessa área em seu curso de mestrado, na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

O ômega 3 é um ácido graxo benéfico para a circulação sanguínea que ajuda no controle da pressão arterial, diabetes e colesterol, mas que o ser humano é incapaz de produzir. É encontrado em peixes como salmão, sardinha e atum, além de grãos como linhaça, soja e canola. O processo de extração desse ácido graxo e a adição nos alimentos, no entanto, é considerado dispendioso.

Pesquisadores gaúchos da Furg que também pesquisam microalgas – seres vivos comparados a plantas – descobriram que a conhecida como espirulina é um alimento de alto valor nutritivo, com até 60% de proteína. Para se ter uma ideia, o índice da carne é de 20% e o do leite, 12%. O grupo de pesquisa vem produzindo 50 quilos dessa microalga por mês, usados na produção de sopas, bolos, gelatinas e barrinhas de cereais distribuídos na merenda escolar.

Discussões sobre os avanços que vêm ocorrendo nos processos de produção de alimentos reúnem em Curitiba 1,3 mil especialistas nesta semana em áreas como biotecnologia. É a primeira vez que o Brasil recebe o Congresso Interna­cional de Bioprocessos na Indústria de Alimentos (ICBF, na sigla em inglês), que está em sua quarta edição. O evento de seis dias ocorre no Cietep (centro de eventos da Fede­ração das Indústrias do Paraná, a Fiep), de amanhã até domingo.

Além dos debates sobre as tendências que interferem na nutrição de cada consumidor, haverá exposição sobre pesquisas de nove universidades brasileiras e da Embrapa, pelo 10.º Encontro Regional Sul de Ciência e Tecnologia de Alimentos. Trata-se de uma espécie de feira, em que o setor tenta se aproximar da indústria.

Os processos de produção de alimentos desenvolvidos pelas universidades vêm sendo patenteados e repassados à indústria em parcerias que ajudam a financiar novos trabalhos e a manter as próprias instituições, explica o pesquisador Carlos Ricardo Soccol, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e um dos organizadores do ICBF 2010. Ele considera que o Brasil "começa a caminhar" nesse sentido.

"Exportamos muitos produtos primários que poderiam ser transformados e render mais empregos, impostos e renda antes de saírem do país. Precisamos desenvolver mais pesquisas, avançar na transformação dos alimentos, registrar mais patentes", defende o cientista.

Com vocação para assumir o papel de maior fornecedor mundial de alimentos, o Brasil está envolvido também nas discussões sobre a segurança dos bioprocessos com ingredientes transgênicos e aditivos produzidos em laboratório. "O consumidor nem sempre é bem informado sobre esses processos. A preocupação da indústria e da pesquisa é fornecer alimentos cada vez mais seguros e saudáveis", assinala Soccol.

Os passos seguidos pela pesquisa serão avaliados por especialistas de quatro continentes. Além dos pesquisadores brasileiros, participam do ICBF 2010 cientistas da Ásia (China, Índia, Japão), Europa (Alemanha, Espanha, Itália, Reino Unido, Suíça), América do Norte (Estados Unidos e Canadá) e Austrália.

Quatro das 50 universidades e faculdades do Paraná vão participar: a Federal (UFPR), a Pontifícia Católica (PUCPR) e as estaduais de Londrina (UEL) e Maringá (UEM). Vão apresentar trabalhos e acompanhar ainda palestras de pesquisadores brasileiros das universidades de São Paulo (USP), Campinas (Unicamp), Brasília (UNB), Minas Gerais (UFMG) e da gaúcha Furg.

O Congresso e o Encontro são promoções da Sociedade Brasi­leira de Ciência e Tecnologia de Alimen­tos (SBCTA). A presidente da entidade, Sônia Stertz, afirma que o resultado das discussões terá impacto na indústria de alimentos, nas instituições de pesquisa e na vida do consumidor. São em eventos como esses que se avança em debates sobre o uso de transgênicos na alimentação humana, animal e nas culturas agrícolas, cita.

Assuntos como a adição de enzimas em bebidas, a produção de alimentos funcionais, o desenvolvimento de novos produtos a partir de matérias-primas abundantes como frutas tropicais devem ultrapassar o campo teórico. Um grupo de 30 expositores e 250 analistas vão participar de rodadas de negócios organizadas pela SBCTA. Dos 1,3 mil participantes, 85% devem ser brasileiros.

Serviço:

Para mais informações sobre o Congresso Internacional de Bioprocessos na Indústria de Alimentos, acesse www.icbf 2010.com. O evento ocorre no Cietep, localizado na Avenida das Torres, 1.341, em Curitiba.

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