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Dilma quer companhia ao estilo da norueguesa Petoro

A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, admitiu ontem a possibilidade de o governo criar uma empresa estatal nos moldes da norueguesa Petoro, para administrar as reservas recém-descobertas de petróleo na camada pré-sal, na Bacia de Santos. Em café da manhã com deputados e dirigentes do PT no Distrito Federal, Dilma confirmou que a intenção do governo Lula é destinar os recursos obtidos com royalties de petróleo para investimentos em educação.

O tom da exposição da ministra acalmou a platéia petista, que temia o enfraquecimento da Petrobras. Na prática, porém, há divergências no governo sobre a conveniência de mudar o atual regime de concessão na exploração do petróleo. Além disso, a Petrobras é contra a criação de uma nova estatal no setor. O presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli, já se indispôs várias vezes com Dilma e, para piorar a situação, há ainda uma guerra de bastidores envolvendo a tradicional disputa por cargos entre o PT e o PMDB, os dois principais partidos da coalizão governista.

As dificuldades de extração do petróleo na camada do pré-sal e os investimentos que foram feitos pela Petrobras nesta área foram destacados ontem pelo presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, que vem se mantendo publicamente à parte da polêmica em torno do assunto. Em entrevista, porém, ele reconheceu que, para as novas áreas sem concessão, há realmente a necessidade de um novo marco regulatório.

Em evento ambiental na sede da Petrobras, Gabrielli lembrou que "para se extrair petróleo é necessário que haja recursos". Para isso, disse o executivo, a empresa "investiu fortemente o valor adicionado" dela e o que restou para os acionistas – seja governo ou investidores privados – foi apenas "6% das riquezas". "Ou seja, 94% foram destinados ao financiamento dos investimentos e também para impostos", disse.

Gabrielli descartou, porém, qualquer relação entre a queda no valor das ações da empresa e as especulações sobre a criação de uma nova estatal do petróleo, que poderia enfraquecer a companhia. "Até agora não houve definição nenhuma sobre o futuro. E o futuro é o que define o comportamento de muitos investidores", disse.

Ele atribuiu a queda de valor de mercado à redução do preço do petróleo no mercado internacional nas últimas semanas. "A queda está associada à redução do preço do barril de petróleo como um todo. Caiu a Shell, a Esso, caíram todas as empresas do mundo", argumentou, lembrando que a desvalorização neste caso é "um movimento normal".

Segundo levantamento realizado pela consultoria Economática, o valor de mercado da Petrobras recuou em US$ 97,535 bilhões desde 20 de maio (data do último recorde de pontuação do Ibovespa – principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo), passando de US$ 303,676 bilhões em 20 de maio para US$ 206,141 bilhões esta semana.

Para Gabrielli, esta queda que vem sendo verificada no preço do petróleo é temporária e tende a ser revertida. "É provável que estejamos numa tendência de queda, mas nada definitivo. Vai voltar a crescer (o preço do barril)", disse em entrevista após participar do lançamento do Programa Petrobras Ambiental, que vai destinar R$ 500 milhões a projetos ligados ao Meio Ambiente.

Ele recusou-se a tecer qualquer comentário sobre as discussões que estão ocorrendo no âmbito da Comissão Interministerial, sobre possíveis mudanças no marco regulatório do petróleo, devido às descobertas na área do pré-sal. Pouco antes da entrevista, em discurso durante o evento, Gabrielli havia comentado que a indústria de petróleo é obrigada a trabalhar com prazos mais longos para definir investimentos.

"Sem definir o que será produzido, não para definir o que vai ser dividido. Sem produzir, não há o que dividir", disse em referência à discussão que hoje está em voga no país sobre o aumento dos tributos, royalties e participações especiais sobre a produção de petróleo a ser produzido no pré-sal.

Ministro

Também durante o evento, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, fez referência direta ao tema: "A Petrobras tem que ser fortalecida e não enfraquecida. Qualquer medida para diminuir o escopo da Petrobras tem que ser repensada. É preciso ter cautela neste assunto".

O ministro ainda criticou a possibilidade de as reservas descobertas pela Petrobras não ficarem nas mãos da estatal: "A Petrobras vai lá, investe, e depois que descobre algo, todo mundo quer. Assim também não dá."

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