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No Paraná - Revenda prevê falta de produtos

O suposto envolvimento da Cisco do Brasil em um esquema de sonegação de impostos deve provocar um desabastecimento, ainda que temporário, dos produtos da companhia norte-americana no mercado. A Constel Tecnologia Ltda., principal revendedora da marca no Paraná, prevê que esse problema deva ser detectado já nos próximos 15 dias. "Não sabemos como vai ficar, mas com estoques lacrados é praticamente certo que teremos atrasos no abastecimento", afirma Vicente Ribeiro, diretor executivo da empresa, que esse ano deve faturar R$ 10 milhões.

De acordo com ele, 30% dos negócios da Constel vêm da Cisco. A empresa trabalha ainda com representação de outras marcas, como Sun Microsystems, Oracle e Peregrine. No caso da Cisco, a Constel compra os produtos das duas distribuidoras da gigante americana no Brasil: a Ingra e a Mude, essa última também investigada sobre envolvimento no esquema de sonegação.

Embora a relação com a fraude no comércio exterior possa arranhar a imagem da Cisco no mercado, Ribeiro diz que ainda não recebeu nenhum pedido de cancelamento de contrato. Com uma carteira de cerca de 150 clientes, a Constel atende a empresas multinacionais, prefeituras, órgãos públicos e ao governo do Paraná.

A Constel, que surgiu em 1999 durante a fase final de implementação do projeto de rede do grupo Copacol (Cooperativa Agrícola Consolata), tem hoje sede em Cascavel e filiais em Curitiba, Londrina e Maringá.

Criada em 1984, a Cisco chegou a ser a companhia mais valiosa do mundo no início do ano 2000, no auge da internet, ultrapassando marcas mais antigas, como General Electric e Coca-Cola. Nos meses seguintes, porém, com o estouro da bolha, a fabricante enfrentou uma situação difícil. A recuperação veio nos últimos 5 anos, quando o faturamento mundial saltou de US$ 18,9 bilhões para US$ 34,9 bilhões.

Cristina Rios

Brasília – A Polícia Federal e o Ministério Público tomaram ontem os depoimentos dos 40 presos por envolvimento com a quadrilha acusada de ter sonegado R$ 1,5 bilhão em impostos, nos últimos cinco anos, com um esquema fraudulento de importações. Todos foram indiciados em crimes que vão de sonegação de tributos a corrupção (ativa e passiva), falsidade ideológica, evasão de divisas e formação de quadrilha. Com prisão temporária decretada pela Justiça Federal em São Paulo, outros quatro membros da quadrilha desmantelada na terça-feira pela Operação Persona ainda estão sendo procurados.

O presidente e o ex-presidente da Cisco do Brasil, subsidiária da multinacional americana Cisco Systems Inc., Pedro Ripper e Carlos Roberto Carnevali, respectivamente, usaram o direito constitucional de não responder às perguntas, alegando que só falarão em juízo. Advogados dos executivos presos entraram ontem com dois pedidos de revogação das prisões temporárias e com um pedido de habeas-corpus, mas até a noite de ontem a Justiça Federal não havia se manifestado sobre o assunto.

Caso

A Cisco é apontada no inquérito policial como pivô e principal beneficiária das fraudes na importação de seus produtos de alta tecnologia para redes corporativas. Por orientação dos advogados da empresa, outros dois executivos presos também ficaram em silêncio. Os demais membros da quadrilha, entre eles seis auditores fiscais da Receita Federal, entretanto, confirmaram o esquema.

Os dados levantados pelas autoridades brasileiras estão sendo repassados à polícia fazendária dos Estados Unidos, onde as investigações prosseguem para o total desmantelamento da quadrilha. Segundo a PF, além dos 44 com mandado de prisão expedido, ainda devem ser presos nos próximos dias mais cinco brasileiros que vivem nos EUA e executivos americanos ligados ao esquema. Nessa segunda fase, a Receita Federal também vai investigar até que ponto os clientes da Cisco, que compravam redes e serviços de informática muito abaixo do custo de mercado, estariam envolvidos.

O esquema de fraudes e sonegação usou pelo menos uma dezena de empresas fantasmas no Brasil e nos Estados Unidos para esconder a multinacional, blindando-a nas investigações. À medida que uma delas era descoberta pela Receita Federal, a organização criminosa, segundo os investigadores, abandonava a empresa e passava a operar por meio de outra.

Registradas em nomes de filhos de funcionários das empresas investigadas e de pessoas pobres usadas como laranjas, a maioria das empresas fantasmas brasileiras tinha sede em São Paulo. A função das empresas fantasmas, segundo apurou o Ministério Público e a Polícia Federal, era simular operações comerciais domésticas, comprando da Cisco nos EUA e vendendo os produtos desta para a nacional Mude Comércio e Serviços Ltda. (cujos diretores também foram detidos pela Operação Persona).

Elas também se relacionavam com as empresas offshore, que compravam das fantasmas americanas e revendiam às brasileiras. Para os investigadores, além dos impostos de importação, o esquema sonegou IPI e ICMS e fraudou a lei baiana de incentivos fiscais a empresas de informática, simulando a montagem de equipamentos no estado.

Perfil

A Cisco é líder mundial no segmento de serviços e equipamentos de alta tecnologia para redes corporativas, para internet e para telecomunicações. O faturamento global da corporação, que tem 54 mil funcionários, chega a US$ 29 bilhões ao ano e seu valor de mercado, a US$ 202 bilhões. Tais valores a colocam como segunda maior empresa de TI do mundo, atrás apenas da Microsoft – e à frente de gigantes como Google, IBM e Intel.

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