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O avanço dos investimentos em 2013, como na área de construção civil, contribuiu para a alta de 2,3% da economia brasileira no ano passado | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
O avanço dos investimentos em 2013, como na área de construção civil, contribuiu para a alta de 2,3% da economia brasileira no ano passado| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

R$ 4,84 trilhões foi a soma do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2013, de acordo com o IBGE.

Análise

Em 2014, país deve focar esforços na ampliação da competitividade externa

Lucas Lautert Dezordi, economista e coordenador do curso de Economia da Universidade Positivo.

A divulgação do PIB de 2013 não foi surpresa para os agentes econômicos. O baixo crescimento de 2,3% era esperado pelo mercado há pelo menos seis meses. Contudo, os detalhes nos auxiliam a entender a dinâmica conjuntural do crescimento e seus desafios.

Pelo lado da oferta, o grande destaque foi a agropecuária, puxada pela safra recorde de grãos em um período de preços de mercado bem atrativos. Neste contexto, a economia do Paraná teve um papel relevante, e teve desempenho bem superior ao nacional. O setor de mineração caiu 2,9%, justificando o fraco desempenho da Vale do Rio Doce em 2013. Mesmo desconsiderando a renegociação de dívidas tributárias com o governo brasileiro, a Vale teve consideráveis dificuldades operacionais em expandir seu lucro liquido. Crescimento chinês menor e maior nível de competição internacional sufocaram esse setor.

A composição da demanda agregada melhorou um pouco. Estamos consumindo menos e investindo mais. O consumo das famílias, que representa 60% do PIB, desacelerou com a política de juros altos. O maior destaque positivo foi o investimento. Contudo, cabe destacar que sua expansão foi sustentada pelo forte crescimento das importações de bens e serviços (8,3%). Justifico: quando um empresário compra uma máquina do exterior, então debitamos a conta importação e creditamos a conta investimento. Em economia, o déficit em transações correntes do setor externo financia a formação de capital. Se continuarmos nesse ritmo, a taxa de câmbio continuará com tendência de depreciação.

Há uma forte indicação que em 2014 o país deverá focar seus esforços na ampliação da competitividade externa, com políticas de formação de poupança doméstica para reequilibrar as contas nacionais e melhorar os principais indicadores macroeconômicos: inflação, câmbio e juros.

otimismo

"As condições para um 2014 melhor estão dadas", diz ministro da Fazenda

Visivelmente satisfeito com o desempenho do PIB em 2013, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que espera um resultado ainda melhor em 2014.

Segundo ele, o governo trabalha com as políticas monetária e fiscal para reduzir a inflação, o que melhora a confiança das empresas e dos consumidores. Além disso, a economia mundial dá sinais de recuperação, o que pode ajudar a indústria brasileira a exportar com um câmbio mais favorável. "Estão dadas as condições para que tenhamos um ano de 2014 com crescimento maior que o de 2013", disse.

Integrantes da cúpula do governo consideram que o desempenho da economia em 2013 acima das expectativas pode evitar que as agências de classificação de risco rebaixem a nota do país.

Contrariando analistas mais pessimistas, a economia brasileira se recuperou no último trimestre do ano passado, com um avanço de 0,7%, e alcançou um crescimento total de 2,3% em 2013, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados ontem. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de toda a renda gerada no país) supera a alta de 1% de 2012, mas converte-se no terceiro ano consecutivo de fraco crescimento econômico – em 2011, a alta foi de 2,7%. Em 2010, o país cresceu 7,5%. Em valores, o PIB de 2013 somou R$ 4,84 trilhões.

Confira a variação do PIB brasileiro

Compare a economia do Brasil com o de outras nações em 2013

Na média dos três anos do governo Dilma, a economia do país avançou 2%. Ao início do ano passado, esperava-se mais. Mas vários fatores contribuíram para a frustração, dentre os quais o esfriamento do consumo diante de juros maiores, crédito restrito e inadimplência ainda em patamar elevado.

A principal mudança positiva na atividade econômica nacional em 2013 foi o crescimento das fatias de investimentos (6,3%) e de agropecuária (7,0%), esta última impulsionada pela boa safra de grãos. A indústria, entretanto, viu sua fatia na geração de renda encolher para 24,9% do PIB no ano passado, atingindo a menor participação desde 2000.

O consumo das famílias desacelerou em 2013 e, apesar de ter avançado pelo 10.º ano consecutivo, teve o menor crescimento desde 2003. Segundo o IBGE, a alta no ano passado foi de 2,3%, o menor resultado desde o último registro negativo (-0,8%), em 2003. Em 2010, chegou a 6,9%. Ao mesmo tempo, o consumo do governo aumentou sua participação no PIB para o maior nível desde 2000, em meio às discussões em torno dos gastos públicos.

Pespectivas

Para 2014, a expectativa de analistas é de mais um ano de fraco crescimento econômico diante das previsões de desaceleração do emprego e do rendimento, da inflação ainda alta e do crédito restrito, além da fraca confiança de empresários e consumidores. As previsões apontam para uma taxa entre 1,8% e 2,2%.

Segundo o economista-chefe da LCA Consultores, Braulio Borges, há uma perspectiva de crescimento maior neste ano por causa do "carregamento" do avanço inesperado do PIB no fim de 2013, mas ele preferiu não rever a projeção de alta de 2,1%.

Modelo baseado no consumo se esgotou

Folhapress

O consumo mais fraco das famílias, revelado nos dados do PIB de 2013, é sinal de que o modelo de crescimento da economia está mudando. Embora positivo, o consumo privado cresceu ao menor ritmo em uma década. Entre 2004 e 2010, o Brasil experimentou um forte ciclo de aumento da renda, que sustentou a ascensão de famílias à classe média e ampliou o consumo.

Desde 2011, porém, esse ritmo de expansão moderou-se e, no ano passado, empatou com o crescimento geral da economia (2,3%). O ano de 2013 foi do investimento. Analistas sustentam que a mudança é positiva e que é o caminho para o rebalanceamento da economia. "Batemos no teto da oferta e a restrição se revela em duas áreas: no déficit externo e na inflação", afirma Marcelo Carvalho, do BNP Paribas. Como o consumo cresceu mais do que o PIB, parte da demanda foi suprida por importados.

No ano passado, o governo reduziu impostos para tentar impulsionar setores industriais afetados pelos importados e também contemplou áreas de consumo. Mas o resultado não foi dos melhores. O setor têxtil, que tem a folha desonerada desde 2012, registrou redução de 1,6% na produção. No setor automotivo, a redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) não livrou o setor de registrar um recuo de 1,6% nas vendas.

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