
A abundância de água, maior riqueza natural de Piraquara, é ironicamente o que atrasa o avanço de sua atividade econômica. A cidade está na área de proteção ambiental da Bacia do Rio Iraí (APA do Iraí), formada pelas bacias hidrográficas de 4 rios Canguiri, Timbu, Cercado e Curralinho que formam o Lago do Iraí, responsável pelo abastecimento de quase a metade de toda água consumida pelos moradores da região metropolitana de Curitiba. É justamente todo este patrimônio que cria restrições legais e ambientais, que impedem o município de atrair novas indústrias barreira que a cidade ainda não aprendeu a superar.
Na tentativa de acelerar o crescimento, a Câmara Municipal de Piraquara aprovou em 2007 o Plano de Amparo e Incentivo Industrial e Comercial. Pela lei, a prefeitura concede, sem custos, um terreno e toda a infraestrutura necessária para as empresas que instalarem ou ampliarem suas unidades em Piraquara. A única contrapartida exigida é a criação de empregos, com o compromisso de que no mínimo 70% da mão de obra seja de moradores da cidade.
A área destinada ao complexo industrial, com capacidade para abrigar 20 empresas de médio porte, no entanto, está embargada pela Justiça por causa de uma ação civil pública. "Isso engessa o município. Mesmo com a limitação, buscamos alternativas para criar empregos. Temos muitas conversas com empresas interessadas em se instalar aqui, mas dependemos da liberação da área", lamenta o secretário municipal de Indústria e Comércio, Gil Lorusso do Nascimento Filho.
Dormitório
Sem conseguir gerar vagas suficientes para atender à sua população, uma das saídas encontradas pela administração municipal é a exportação de mão de obra. Em 2009, a Agência do Trabalhador de Piraquara empregou 1.417 trabalhadores, 56% mais do que no ano anterior. Mas as vagas, em sua maioria, foram para indústrias instaladas nos municípios vizinhos.
Essa prática acaba relegando Piraquara à condição de "cidade dormitório". A prefeitura estima que cerca de 60% da população da cidade trabalhe em outros municípios da RMC. "O comércio acaba sendo o carro chefe da empregabilidade. Mas quantas lojas são necessárias para abrir o mesmo número de vagas de uma linha de produção?", questiona o diretor do departamento de Trabalho e gerente da Agência do Trabalhador, Cleomar Pontes Macedo.
De fato, o setor de comércio e serviços gera quase a metade (47%) dos postos de trabalho em Piraquara. O comércio local está concentrado nas duas principais avenidas de Piraquara, a Getúlio Vargas recém recapeada com investimentos do governo estadual e a Barão do Cerro Azul, ainda esburacada e poeirenta. É ali que estão instaladas óticas, farmácias, lanchonetes, lojas de móveis e de roupas e salões de beleza. Na área considerada "nobre", próxima à Prefeitura e ao Fórum Municipal, a frente das lojas tem calçadas; nas ruas mais afastadas, não.
É possível perceber o esforço quase desesperado da prefeitura para atrair investimentos e criar novas oportunidades. Juntos, os dois empreendimentos mais novos da cidade uma Loja do Baú e um supermercado da rede Jacomar , criaram cerca de 100 postos de trabalho diretos. Mas a fragilidade econômica fica evidente na falta articulação do empresariado local. Um sinal disso é o fato de a Associação Comercial de Piraquara estar desativada há pouco mais de um ano, desde o fim da última gestão.
Política precisa considerar diferenças
A concentração da atividade em uma região tende a atrair também mais pessoas, em um processo de adensamento populacional que intensifica problemas sociais como violência urbana, ocupações irregulares e desemprego. "O Paraná é um estado rico, mas com extremas desigualdades. Mas, no nosso caso, este não foi um processo natural, ele foi incentivado pelos governos estaduais nos últimos 20 anos", critica o professor do programa de pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Agronegócio da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Jandir Ferrera de Lima.
Para ele, só o governo estadual, com políticas públicas compensatórias, poderia incentivar investimentos nas regiões mais pobres. Uma alternativa seria a criação de fundos setoriais específicos. "O país tem bons exemplos destes fundos como no ocorre no semiárido nordestino ou na Amazônia." Mas, segundo ele, esse processo exige planejamento de longo prazo, já que qualquer iniciativa adotada hoje só começará a dar resultados nos próximos cinco ou dez anos. "O problema do Paraná é que as poucas políticas de desenvolvimento regional não têm uma avaliação posterior", pondera.
PIB mostra avanços no estado
O PIB per capita é a divisão do Produto Interno Bruto soma do valor do que é produzido em um determinado período pela população da região em análise, e serve como indicador do grau de desenvolvimento econômico. Um índice alto, contudo, mostra apenas que a região é produtiva, e não reflete com exatidão a qualidade de vida da população ou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) . Na RMC, além de Piraquara, outras cidades apresentam PIB per capita baixo, como Almirante Tamandaré (R$ 5,5 mil) Fazenda Rio Grande (R$ 5,6 mil) e Campo Magro (R$ 6,2 mil). Nos últimos anos, houve alguns avanços importantes. A cidade de Doutor Ulysses deu um salto em 2005, mais que dobrando o seu PIB per capta, que passou de R$ 4 mil para R$ 10 mil. Fora da RMC, o desempenho de dois municípios chama a atenção. Rio Branco do Ivaí (região central do estado) apresentou crescimento de 269% entre 2002 e 2007, enquanto Maria Helena (Noroeste) teve queda de 17%. No primeiro caso, contribuiu a conversão de áreas degradadas em florestas voltadas para os setores madeireiro e de celulose e papel. Já Maria Helena sofreu muito com os efeitos da queda da produção agrícola.



