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A tendência à queda do dólar se intensificou nos últimos dias. Que implicações tem essa tendência para a indústria? As opiniões se dividem. Os mais otimistas acham que um dólar baixo facilita a importação de insumos e bens de capital. Isso encoraja a modernização da indústria que, na seqüência, deveria abrir caminhos para mais exportações. Outros, acreditam que setores importantes da indústria podem sofrer. E se esses setores perderem mercados é possível que não seja tão fácil recuperá-los no futuro. Os efeitos negativos poderiam, assim, se estender por bastante tempo. Quem tem razão?

A economia é uma ciência empírica, requerendo a análise das evidências existentes. Em estudo recente, analisamos a evolução da taxa de câmbio real, das exportações, das importações e do saldo da balança comercial do Brasil entre 1987 e 2004 (isto é, antes do início do processo mais intenso de valorização do Real), considerando a classificação das exportações e importações em quatro grupos segundo sua intensidade tecnológica (básicos, baixa, média e alta intensidade tecnológica). A análise mostra que os produtos básicos e os de baixa tecnologia competem internacionalmente e obtêm um saldo positivo independentemente da taxa de câmbio. Os setores de média tecnologia, no entanto, só sustentam um saldo positivo com taxa de câmbio favorável. São esses setores, que incluem a indústria metal-mecânica e a automobilística, os que mais sofrem com a valorização do Real. Finalmente, observamos que os setores de alta tecnologia sempre mostram um saldo comercial negativo. Mais ainda: quando a taxa de câmbio cai, esse déficit aumenta fortemente e não retorna aos valores anteriores quando o câmbio aumenta.

Em resumo, a queda do dólar afeta a natureza das nossas exportações industriais, prejudicando aquelas de maior intensidade tecnológica. Quem pensa em política industrial não pode ignorar a taxa de câmbio. Contudo, um Real mais desvalorizado não garantiria uma evolução favorável para os setores de alta tecnologia. Esses setores mantiveram-se deficitários ainda com câmbio desvalorizado e o papel da política industrial e tecnológica é central para seu desempenho.

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