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O diretor de artesanato Álvaro Talamine: vendas para todo o Brasil, mas com atravessadores e informalidade | Fotos: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo
O diretor de artesanato Álvaro Talamine: vendas para todo o Brasil, mas com atravessadores e informalidade| Foto: Fotos: Aniele Nascimento/ Gazeta do Povo

Características

Meio ambiente é bênção e obstáculo

Organizar o setor de móveis artesanais é apenas um dos vários desafios que o município de Campo Magro precisa solucionar para desenvolver sua economia. O fato de 90% de seu território ser área de preservação ambiental é tanto uma bênção como um entrave para a cidade. Ela ganha em potencial turístico, mas deixa de receber investimentos industriais, que poderiam trazer postos de trabalho e impostos. O obstáculo é o mesmo para o desenvolvimento da agropecuária local.

"Boa parte da nossa população acaba trabalhando em Curitiba. Dos garçons de Santa Felicidade, por exemplo, a maioria é de Campo Magro", diz o prefeito José Pase.

O turismo, que seria o seu grande trunfo, continua subdesenvolvido. "Recebemos de 15 mil a 20 mil turistas ao mês, mas poderíamos receber muito mais", diz Pase. A falta de infraestrutura impede a expansão. Campo Magro tem uma imensa área verde, repleta de morros, trilhas, cachoeiras e rios, mas ainda não possui hotéis, parques estruturados, centro comercial nem posto de gasolina. Uma única agência bancária serve quase como exemplo solitário do setor de serviços campomagrenses.

No início, "filial" de Santa Felicidade

A origem da produção de móveis artesanais de Campo Magro está no bairro curitibano de Santa Felicidade, onde famílias tradicionais atuavam no segmento usando principalmente o vime, introduzido por imigrantes italianos no fim do século 19. Aos poucos, funcionários dessas famílias que moravam em Campo Magro levaram a técnica para o lado de lá da Manoel Ribas, na Estrada do Cerne, e abriram seus próprios negócios.

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Campo Magro, município de 25 mil habitantes na região metropolitana de Curitiba, parece ter descoberto na fabricação de móveis artesanais uma vocação econômica. A certeza de que a cidade tem muito a ganhar só não é maior porque, apesar de movimentar cerca de 60% da economia local, a atividade ainda precisa vencer desafios como a informalidade e a falta de união entre os produtores.A temporada de verão aumenta a procura pelos artigos produzidos na cidade que, para quem vem da capital, parece uma extensão do bairro Santa Felicidade. O diretor de artesanato do município, Álvaro Talamini, conta que os móveis campomagrenses decoram casas litorâneas de norte a sul do Brasil. "Como vendemos a maior parte dos produtos para outros estados, muitos paranaenses nem desconfiam que a nossa cidade está entre as que mais fabricam esses móveis no país", afirma.A "rede de distribuição" que garante essa popularidade, no entanto, também é informal, quase obra do acaso. Boa parte da produção é vendida a caminhoneiros que passam pela Estrada do Cerne, que atravessa o município. Eles compram as mercadorias a preços baixos e lucram na revenda em outras partes do país. "Esses caminhões são meus principais concorrentes", revela Claudinei Colo­nhesi, um dos poucos artesãos a ter uma microempresa regularizada e que consegue vender seus produtos diretamente para lojas, principalmente de São Paulo. "Esses atravessadores banalizam os nossos produtos, porque o cliente vê um móvel na beira da estrada com um preço, e depois vê a mesma coisa ou algo parecido na loja, só que mais caro", diz Alex Colonhesi, irmão e sócio de Claudinei.

A grande maioria das fabriquetas familiares que atuam em Campo Magro não é regularizada, e muitos de seus funcionários não têm direitos previdenciários ou trabalhistas. Com isso, o município também deixa de receber impostos preciosos.

Organizar para crescer

Para o município se transformar em um verdadeiro polo dos móveis artesanais, os artesãos precisam de mais organização e aperfeiçoamen­­to. "O trabalho ali é feito com mui­­to capricho e eles têm um potencial muito grande", reconhece a professora de design Arabella Natal Gal­vão da Silva, que durante o seu mes­­trado na UTFPR, pesquisou a pro­­dução da região. "Mas falta in­­vestir mais em design. Do contrário, um copia o outro, e os produtos acabam sem inovação", aponta. Para Ro­­drigo Brito, um dos coordenadores da ONG Aliança Empreen­dedora, que presta consultoria pa­­ra microempreendedores, o fundamental seria que os pequenos ti­­ves­­sem um maior controle da comercialização de seus produtos. "É cô­­mo­­do só esperar os caminhoneiros baterem na porta de casa", diz Brit­to. "Se eles desenvolvessem estratégias de venda, obteriam clientes que pagariam mais pelo trabalho de­­les."

Outra alternativa para desenvolver o setor em Campo Magro po­­deria estar no Arranjo Produtivo Local (APL), sistema em que um grupo de empresas, mesmo independentes, desenvolvem ações con­­juntas em prol de um bem co­­mum. Quem faz a sugestão é Cris­­tiane Stainsack, coordenadora do pro­­grama de apoio aos APLs, do Ins­­tituto Evaldo Lodi (IEL). Ela cita o exemplo de Arapongas, em que, graças ao APL, os produtores de mó­­veis da cidade promovem capacitação de mão de obra, obtêm li­­nhas de crédito especiais e contam com uma central de compras, que reduz custos na obtenção de matéria-prima.

Já a criação de uma cooperativa, na opinião do diretor de artesanato Talamini, seria uma grande conquista para os pequenos artesãos. "Se eles se unissem, formariam simplesmente a maior empresa de móveis da cidade."

Sem representatividadeUma tentativa de organizar os trabalhadores locais surgiu há seis anos, com a criação da Artcamp, a As­­sociação dos Artesãos de Campo Magro. A entidade, porém, não atinge seus objetivos plenos e tem baixa representatividade. Com 86 associados no papel, apenas "uns 15 são ativos", informa Edgar An­­tônio Stival, fundador e atual presidente da Artcamp. "Queríamos mu­­dar a situação da nossa cadeia produtiva, que estava e ainda está muito viciada", conclui Stival.

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