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De repente, todos os olhos se viram para os cartões de crédito. "Os cartões de crédito podem reduzir ainda mais as taxas cobradas ao consumidor final, diminuindo para níveis civilizados os seus ganhos", disse a presidente Dilma, no discurso transmitido em rádio e tevê na véspera do 7 de Setembro. "Estamos preocupados com os cartões de crédito. E, se nós estamos preocupados, é bom que eles também se preocupem", falou, em tom de ameaça, o ministro Guido Mantega. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, preferiu atacar o valor do pagamento mínimo, que hoje é de 15% do valor da fatura. "Gostaríamos de pagamento mínimo muito maior. Mas, no curto prazo, criaria um problema para as pessoas que estão nesse processo", comentou, referindo-se aos brasileiros que estão pendurados no cartão.

As autoridades que me desculpem, mas elas estão chegando atrasadas, e sua falta de ação fez com que os brasileiros se afundassem em dívidas. Os juros do cartão – que o ministro chama de "escorchantes" – estão em seu nível mais baixo desde junho de 2000. Ou seja: eles eram ainda mais escorchantes quando o genovês Mantega assumiu sua cadeira na Fazenda, em 2006.

Agora, a tendência imediata é que as taxas caiam. O Bradesco saiu na frente no concurso dos bons moços ao anunciar, ontem, que cortaria pela metade as suas taxas. Outras instituições devem segui-lo. Esse resultado, entretanto, não deve ser visto como resultado direto das provocações do governo. Não foi porque um ou dois ministros rosnaram que os bancos recuaram, assustados.

A queda de juros que (esperamos) virá nos próximos meses é consequência da operação iniciada pelas instituições financeiras estatais em abril, quando Caixa e Banco do Brasil baixaram suas taxas em produtos como cheque especial e crédito direto ao consumidor. Essas taxas hoje são muito menores do que as do cartão. Um cliente da Caixa Econômica Federal que recebe seu salário pelo banco tem acesso a juros de 3,4% ao mês no cheque especial. Por que então se submeteria a pagar 14,9%, que era até ontem a taxa máxima dos cartões do Bradesco?

Se esse é o seu caso, fique de olho. Sim, você pode trocar de banco se a sua instituição se recusar a baixar juros. Muita gente acha que não precisa fazer isso porque é cliente do banco há muito tempo e já estabeleceu relacionamento com a instituição. Você pode até achar isso, mas é melhor confirmar com os números. Com a portabilidade das contas-salário, migrar de uma instituição para outra nem dá tanto trabalho assim. Basta abrir a conta no novo banco e levar o número para aquele em que seu salário é depositado. Em dez minutos de conversa você resolve tudo.

Convém lembrar que juros são um preço como qualquer outro – o preço que o banco, a financeira ou qualquer outro agente cobra para permitir que você use o dinheiro dele durante algum tempo. E preços são definidos com base na relação entre oferta e demanda. Isso significa que eles só vão cair se a demanda diminuir.

Enquanto você continuar aceitando juros de 10% ao ano no cartão de crédito, eles não vão cair. Noutras palavras, a responsabilidade maior pelos juros altos é do consumidor. O governo tem, sim, uma função regulatória sobre o sistema, mas o brasileiro precisa se tornar um consumidor mais responsável.

Vê se não parcela!

Consumo responsável inclui comprar apenas o que você pode. Anote: comprar parcelado no cartão de crédito só vale a pena se você tiver certeza absolutíssima que vai pagar a conta em dia. Se atrasar, vai pagar juros. E se for para pagar juros, há opções mais baratas, como você vê no gráfico ao lado. Melhor mesmo é pagar à vista, com desconto.

Entretanto, não é bem isso que os brasileiros vêm fazendo. A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) estima que, neste mês, os brasileiros gastarão R$ 18,4 bilhões em compras à vista, no cartão – um aumento de 14% em relação ao mesmo mês de 2011. Já as compras parceladas devem somar R$ 18,8 bilhões, 27% mais que em setembro do ano passado.

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