Bruno Hohmann, diretor de marketing da Renault que atua na Colômbia, e a colombiana Ana Maria Paniagua, que estagiou aqui em 2008 e foi convidada para voltar| Foto: André Rodrigues/ Gazeta do Povo

O que faz a diferença

Leandro Muniz, gerente da Michael Page de Curitiba, cita três aspectos valorizados pelas empresas e que podem ser desenvolvidos durante um intercâmbio

1– O domínio do segundo idioma continua sendo um dos grandes diferenciais no mercado de trabalho. Em muitas áreas de atuação, já não basta apenas saber se comunicar. É preciso ir além para evitar falhas de comunicação que podem trazer riscos para os negócios.

2– Mais que o conhecimento técnico, as empresas valorizam – e muito – a experiência cultural proporcionada pelo intercâmbio, como uma visão de mundo mais ampla, o contato com outras pessoas, valores e processos. Embora não conste no currículo, como cursos e outras atividades, a bagagem cultural dos profissionais pode fazer a diferença no dia a dia das organizações.

3– A disposição de sair da zona de conforto e ir ao encontro de uma nova realidade é bastante apreciada pelas empresas. Essa postura revela muito do perfil do profissional, de ampliar o seu conhecimento e desenvolver competências longe de casa e da estagnação.

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Antes de embarcar

Como essa experiência lá fora vai impactar a minha carreira quando eu voltar?

Essa pergunta deve sempre preceder a decisão de fazer um intercâmbio, recomenda Leandro Muniz, da Michael Page. Segundo ele, é preciso avaliar três aspectos antes de embarcar rumo ao exterior: o momento econômico do país de destino; o desempenho do segmento de atuação; e a saúde da empresa. Com isso, o profissional consegue ter uma boa visão do potencial de crescimento dele lá fora e tem condições de avaliar como essa experiência vai impactar a sua carreira no retorno ao Brasil.

Um intercâmbio feito na França, na sede da Renault, foi a primeira experiência profissional do engenheiro mecânico Bruno Hohmann, de 32 anos, que acabou fazendo carreira na montadora francesa. Hoje ele é diretor de marketing da Renault na Colômbia, onde está desde 2010. Assim como Bruno, milhares de profissionais brasileiros também estão apostando na vivência internacional como um fator competitivo para cair nas graças do mercado.

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"A empresa é a mesma e a cultura corporativa é global, mas existem especificidades locais que fazem toda a diferença no negócio. É preciso estar aberto a outras culturas e pronto para ouvir e entender que não são os outros que devem se adaptar a você", explica Bruno, para quem a adaptabilidade é uma das principais vantagens do intercâmbio.

"Com o Brasil aparecendo mais lá fora, o brasileiro está percebendo que não pode ficar para trás", revela Giseli Mainardi, gerente de produto da Central de Intercâmbio (CI). A empresa, uma das maiores do ramo no país, teve um crescimento de 140% na procura por intercâmbio com foco em trabalho e carreira em janeiro deste ano ante igual mês de 2012.

Segundo Giseli, há 15 anos havia poucas oportunidades de programas de trabalho, mas hoje elas se multiplicaram para atender uma demanda que cresce ano a ano. A grande maioria ainda é formada por jovens em início de carreira, na faixa dos 22 anos aos 28 anos, que buscam o intercâmbio para aprimorar o segundo idioma. Naturalmente, os destinos mais procurados ainda são os de domínio da língua inglesa, como Estados Unidos, Inglaterra, Canadá e Austrália. Já as áreas mais procuradas para estágios e trabalho são aquelas ligadas às tecnologias, engenharia, administração, marketing e hotelaria.

Também existem profissionais que estão há mais tempo no mercado de trabalho e querem se atualizar ou até mesmo superar uma dificuldade, como aconteceu com gerente de perfumaria de O Boticário, Marselha Tinelli, de 39 anos, que usou o mês de férias para fazer um curso de inglês para negócios no Canadá. "Eu escrevia e lia bem, mas na hora de falar tinha uma timidez paralisante", conta ela, que fez o curso com profissionais de diferentes nacionalidades. "Escolhi esse curso justamente por ser essa a realidade do meu trabalho".

As empresas sabem que os benefícios dessa vivência podem ser sentidos no dia a dia do mundo corporativo e valorizam quem sai da zona de conforto. "Mais que profissionais com domínio do segundo idioma, as empresas querem pessoas proativas, que tenham capacidade de lidar com situações adversas", observa o gerente da Michael Page em Curitiba, Leandro Muniz.

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O Brasil na mira dos profissionais estrangeiros

Na contramão dos brasileiros que deixam o país para fazer intercâmbio profissional no exterior com o desejo de aperfeiçoar competências importantes para a carreira, centenas de estrangeiros estão desembarcando no Brasil com o mesmo objetivo. Segundo a gerente da Associação Brasileira de Intercâmbio Profissional e Estudantil (Abipe), Paula Prado, o número de estrangeiros que vêm ao Brasil em busca da primeira experiência profissional em programas de estágios, cresceu 15% em 2012, na comparação com o ano anterior. Para este ano, Paula estima um crescimento semelhante. "Mais ocidentalizado que a China e a Índia, o Brasil tem se destacado entre os emergentes na preferência dos estrangeiros", afirma Paula, que define dois perfis básicos de profissionais: europeus muito qualificados que não têm conseguido emprego em seus países de origem e recém-formados vindos dos países da América Latina.

Atualmente, a Abipe tem convênio com 84 países nos cinco continentes e conta com a ajuda de empresas parceiras para alocar os profissionais vindos de fora, principalmente da Alemanha, Espanha, Portugal, China e da Colômbia, este último origem da engenheira de produção Ana Maria Paniagua, que veio ao Brasil para um intercâmbio acadêmico em 2008. Durante o período em que esteve aqui, Ana Maria fez estágio na Renault e, em 2010 foi chamada para voltar. "Sempre quis muito voltar ao Brasil. Tinha gostado da empresa e acabou surgindo a oportunidade de voltar com contrato fixo", conta.