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Em um renomado hospital do Estado, os cargos na equipe médica são sempre muito cobiçados. Certa vez, durante mais de um trimestre, 25 jovens disputaram, em um processo de seleção, três vagas no corpo clínico da instituição. Todos passaram por diversos testes teóricos, entrevistas e por uma avaliação criteriosa da técnica cirúrgica. Finalizadas essas etapas, o conselho médico do hospital então se reuniu para definir quem seriam os novos funcionários.

As duas primeiras vagas foram preenchidas rapidamente, sem polêmicas ou discussões. Foram escolhidos os residentes que tiraram as melhores notas em todos os quesitos analisados. No entanto, o terceiro candidato, cogitado para a última vaga, gerou controvérsias entre os membros do conselho. Jerônimo havia se destacado na prática cirúrgica de maneira extraordinária. O jovem médico possuía uma habilidade nata para operar com rapidez e precisão - foi o candidato que apresentou melhor desempenho técnico.

Porém, nos testes teóricos e nas entrevistas tinha demonstrado falta de cultura e de conhecimento amplo. Em uma das provas, o jovem escreveu marca-passo com "Ç". Além desse erro, cometeu diversos outros deslizes de grafia que desvendaram seu desinteresse pela leitura. Com esse resultado, os médicos do conselho dividiram-se em dois grupos: os que achavam que a técnica deveria ser premiada e os que acreditavam que o conhecimento e a cultura deveriam ser valorizados.

"Não creio que saber escrever de forma correta e erudita possa influenciar as decisões éticas e o desempenho desse excelente cirurgião", defendeu um dos conselheiros. Outro, em resposta àquela afirmação, disse que o conhecimento amplo e o gosto pela leitura são essenciais para a formação de um bom profissional, independentemente da área de atuação. "Não se pode descartar o fato de que a carreira de um médico é construída com base na formação técnica e teórica, bem como em seu interesse pela pesquisa e no amor pelo ser humano", argumentou.

E assim se estendeu a discussão, que deveria determinar, ao final, se o residente seria aceito ou não pela equipe do hospital. Em sua defesa, foram mencionados os resultados admiráveis que a habilidade técnica garantiu aos pacientes operados por ele. O jovem era exato e detalhista, e suas cirurgias eram realizadas em tempo mais curto que a média e com uma margem de erros inferior à dos outros candidatos.

Em contrapartida, suas provas teóricas comprovavam que o médico não gozava de embasamento para diagnosticar casos mais complexos, além de não transmitir empatia aos pacientes e de ser incapaz de redigir um texto simples sem cometer meia dúzia de erros estapafúrdios. Sua caligrafia, ainda, era praticamente incompreensível - o que, na prática, dificultaria a leitura de suas receitas e prescrições.

Por fim, parte do conselho conseguiu comprovar que Jerônimo não era um bom exemplo de profissional, pois, embora detivesse qualidades técnicas, não dominava o conteúdo necessário para se tornar um excelente médico. Com essa conclusão, o grupo vetou a entrada do residente no hospital, optando por outro candidato, mais adequado às responsabilidades da classe médica daquela entidade.

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Algumas instituições são mais criteriosas na escolha de seus representantes, visto que precisam transmitir credibilidade, responsabilidade e comprometimento - sobretudo quando estão inseridas em áreas em que há risco de morte e nas quais o estresse e a pressão predominam. De modo geral, os profissionais devem ser multiplicadores de conhecimento, de valores éticos e ter uma conduta moral exemplar. Portanto, esse cuidado durante o recrutamento cabe ao segmento médico e a todas as outras classes, inclusive às mais técnicas.

Afinal, a cultura auxilia a formação do senso crítico e o desenvolvimento da sensibilidade. O conhecimento é fundamental para que uma pessoa possa argumentar, defender seu ponto de vista, e também facilita a compreensão de idéias contrárias e inovadoras. Em ambos os processos, a leitura é o fio condutor, o bem necessário para a superação de limites. Por isso, não há como considerar o sucesso de um profissional analisando, simplesmente, sua habilidade técnica. O estudo, a teoria e o conhecimento formal são os pilares para a edificação de uma carreira promissora.

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SAIBA MAIS...

Qualidade na terceira idade A unidade de Marau (RS) da Perdigão desenvolve desde 2003, em parceria com a prefeitura da cidade, o projeto Terceira Idade Rima com Qualidade, que prevê a "adoção" de idosos da comunidade por funcionários da empresa. Cerca de 300 pessoas com mais de 60 anos já se cadastraram no programa. A proposta é revelar talentos maduros e proporcionar lazer aos "adotados", aumentando a sua auto-estima e estimulando a troca de conhecimentos.

A iniciativa partiu de membros da unidade local, que decidiram realizar um trabalho para despertar a consciência da população em relação ao bem-estar dos indivíduos que se enquadram na terceira idade. Divididos em equipes, os colaboradores da Perdigão promovem gratuitamente tardes de recreação que incluem atividades como almoço de integração, mostras de artesanato, números de dança, encenação de peças de teatro e declamação de poesias.

Bernt Entschev é presidente do Grupo De Bernt. Empresário com mais de 36 anos de experiência junto a empresas nacionais e internacionais. Fundador e presidente do grupo De Bernt, formado pelas empresas: De Bernt Entschev Human Capital, AIMS International Management Search e RH Center Gestão de Pessoas. Foi presidente da Manasa, empresa paranaense do segmento madeireiro de capital aberto, no período de 1991 a 1992, e executivo da Souza Cruz, no período de 1974 a 1986

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