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Num momento de fragilidade política do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, o PSB, partido da base aliada, organizou um seminário sobre política econômica que deu espaço para críticas ao ministro. O próprio vice-presidente da República, José Alencar, participou do seminário e atacou a política econômica conduzida por Palocci, especialmente a taxa de juros, um dia depois de o Banco Central baixar a Selic em 0,5 ponto percentual,

Alencar voltou a cobrar mudanças na política econômica e redução dos "juros estratosféricos" pagos no país e disse que o governo já está quase terminando e é preciso retomar o discurso da campanha de 2002 para garantir o crescimento. O vice-presidente disse que os juros não podem ser o único instrumento contra a inflação.

- Eu não tenho dúvida de que é consenso nacional a retomada de um desenvolvimento capaz de se compatiblizar com as características do Brasil. Nosso discurso de campanha não assumiu o poder. Precisávamos ter feito aquela política. Mas há ainda tempo para isso, não tempo de praticar qualquer tipo de irresponsabilidade. Ao contrário, irresponsabilidade é tratar a administração orçamentária como a temos tratado - protestou.

Alencar reconheceu que a "dose cavalar" de arrocho fiscal precisou ser adotada para se contrapor à "dose cavalar" de desconfiança no governo do PT, mas acha que agora é hora de fazer aquilo que o "consenso nacional" exige. E opaís está perdendo tempo hábil para o desenvolvimento.

- O nosso discurso não assumiu o poder. É circunstancial? É circunstancial. Ainda dá tempo, mas não é tempo de irresponsabilidades na economia. Ao contrário, irresponsabilidade é tratar a administração orçamentária como tem se tratado. O orçamento é altamente decitário em razão dos juros estratosféricos, despropositados - disse Alencar.

No Rio, também nesta sexta-feira, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, também criticou as taxas de juros. Segundo Mantega, a Selic elevada foi um dos principais causadores da forte desvalorização do dólar frente o real, que está afetando as exportações brasileiras. Para ele, uma taxa de juros mais baixa certamente favoreceria um real menos valorizado.Atualmente, diz Mantega, muitos empresários arrecadam dólares, antecipando as receitas de suas exportações futuras, para aplicar no mercado interno para se beneficiar dos juros elevados.

- Hoje tem gente que arrecada em dólar e transforma em real para poder aplicar. Assim como também as operações de mercado futuro de dólar com a venda antecipada de dólares o que acaba causando uma valorização do real - afirmou.

Ele observou que, apesar de destacar que cada país tem suas peculiaridades, do ponto de vista do câmbio, uma das questões que favorece o dinamismo da China no comércio exterior é manter é manter sua moeda desvalorizada.

O presidente do BNDES explicou que para evitar essa situação criada com as altas taxas de juros, seria preciso reduzir a diferença entre o rendimento das aplicações no país e o rendimento das aplicações em dólar, diminuindo essa arbitragem.

- Todo mundo quer se livrar de dólares e ter real para aplicar, porque em dólar a aplicação é de 4% ao ano e na Selic, o rendimento é 18,5% - disse Mantega.

O ex-presidente do BNDES Carlos Lessa também participou do seminário do PSB em Brasília e atacou duramente a política monetária, afirmando que a taxa de juros inibe o desenvolvimento, a geração de empregos, a distribuição de renda e a inclusão social. Lessa usou termos como "indecente" e "repugnante" para qualificar a taxa de juros brasileira. Disse ainda que a política monetária atual é "frenética, ortodoxa, burra e suicida".

- A política monetária brasileira é um pesadelo - protestou.

Segundo Lessa, o Estado brasileiro está subordinado ao capital e só os bancos é que se desenvolvem e que têm vantagem nesse sistema.

- A taxa de juros é indecente, repugnante e impede o futuro. Com a taxa de juros que o Brasil pratica é impossível ter crescimento razoável e ter investimento - afirmou.

O coordenador do Movimento dos Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, também no seminário do PSB, reforçou o coro e disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comete uma ignorância ao afirmar que a política econômica é do governo. Stédile comparou Palocci a "um lateral direito ruim que leva bola nas costas", contrariando declaração de Lula de que o ministro é como Ronaldino Gaúcho.

Ao analisar a política econômica do país, Stédile disse que o presidente foi eleito para mudar os rumos da economia e que, na avaliação dos movimentos sociais, a manutenção de critérios rígidos na política econômica era apenas uma transição, mas que isso acabou virando permanente.

- O nosso presidente Lula não sabe a ignorância que está dizendo. Essa política econômica não é do presidente, não é do PT, não é do Palocci. Essa política econômica só interessa ao capital financeiro. O Estado brasileiro foi seqüestrado pelo capital financeiro - disse o coordenador do MST.

Para José Alencar é preciso aproveitar a recuperação econômica para levar o país ao lugar que ele merece entre os países desenvolvidos.

- Deveríamos aprender com os ingleses. Time is money. Tempo é dinheiro. Estamos perdendo um grande tempo de recuperação da economia para colocar o Brasil no patamar que lhe pertence e que os brasileiros merecem no campo social e de certa forma têm condições de conquistar - afirmou.

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