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Como se sabe, as empresas familiares carregam consigo algumas facilidades e algumas dificuldades. Entre elas a cultura paternalista que protege e oferece segurança aos funcionários é uma prática, sem dúvida, muito bela e digna de respeito, mas diante da conjuntura do mercado atual, nem sempre viável para a sobrevivência da empresa.

Entre a empresa e o funcionário, qual deles deve ser preservado? Parece óbvio, mas é extremamente difícil para as médias empresas tomarem decisões mais drásticas sobre a manutenção de pessoas que contribuíram para a empresa e que, em determinado momento, não conseguem mais acompanhar as necessidades, nem absorver um plano de desenvolvimento pessoal. Muitas vezes, nem querem. Falta-lhes algo essencial que se chama vontade. Um especialista em desenvolvimento de pessoas usa o termo "ambição" - aquela positiva que induz a seguir em frente com garra e determinação em busca da realização.

Um profissional que estuda e se atualiza já tem dificuldades em acompanhar as novidades que surgem, imagine uma pessoa desinformada, que não lê, não estuda, não quer aprender e nem mudar. Impossível acompanhar o ritmo, a velocidade e a multiplicidade de inovações que acontecem.

Como fazer? Curiosamente, essas empresas não preparam o futuro desses profissionais, muito menos elaboram estratégias para negociações que fatalmente irão acontecer. Por vezes, o momento chega quando o próprio profissional percebe que não consegue acompanhar uma nova etapa. Em outras, a re-acomodação interna, a otimização de processos, a implantação de novos procedimentos, as adequações de organogramas mesmo que tenham acompanhamentos e controles, avaliações, treinamentos direcionados, ainda assim, o profissional não acompanha. Avaliações realizadas em momentos certos já sinalizariam o potencial individual.

Observa-se então uma contradição. O dono não negocia uma saída porque sente constrangimento diante daquele que o ajudou nos anos difíceis. Deixa quieto. Como a empresa não pára, perante os colegas o profissional sente-se desmotivado, sem energia, sem vontade e com a auto-estima baixa. Percebe que fica para trás. Vai então se colocando ou sendo colocado, de lado ou o que é pior, ficando encostado.

Ora, não é mais sensato definir uma estratégia, em comum acordo, para a saída? Não é mais digno e honesto com quem tanto fez pela empresa? E como isso pode ser feito? Existem profissionais especializados. De qualquer modo, pode-se conversar algumas vezes, por etapas, sem iludir, sem criar expectativas, mas assegurando um apoio que dê rumo e direcione o profissional para uma nova etapa em sua vida. Isso pode ser surpreendente pelo resultado; uma pessoa, sem vontade de trabalhar, pode encontrar um forte ânimo e disposição em uma nova atividade.É necessária uma estratégia clara, quero dizer, a definição das etapas a serem seguidas: A preparação (conversa madura e franca); a contratação de um profissional para a orientação; a avaliação e a busca de uma nova atividade, emprego ou ocupação. Ou mesmo a aposentadoria que também deve ser o início de uma nova fase em que a pessoa pode usar sua experiência.

Em alguns casos, a empresa não se decide; deixa passar tempo, um ano sem nada fazer, até que a ruptura vem por si só, de maneira drástica e sob conflitos. Penosa e triste, sem dúvida. E isso não é mais desumano?

O melhor a fazer é definir uma proposta que traga benefícios para ambas as partes. Ou como diz o ditado, fazer do limão uma limonada em que todos se sintam, pelo menos mais confortáveis. E de maneira digna.

Maria Christina de Andrade Vieira, empresária, palestrante e escritora, autora de Herança e Cotidiano e Ética: novas crônicas da vida empresarial (2001-2005) (Ambos Ed. Senac-SP).chris@onda.com.br www.andradevieira.com.br

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