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O relatório financeiro de 2004 da Forjas Taurus, empresa que domina 85% do mercado brasileiro de armas leves e é considerada uma das três maiores do mundo no setor, inclui um parágrafo que é emblemático na maneira como a indústria brasileira de armamentos encara a campanha pelo desarmamento e o referendo deste mês. "A Administração visualiza o exercício de 2005 com fortes preocupações e, ao mesmo tempo, com otimismo", diz o texto, que fala em seguida dos "efeitos ruinosos" do Estatuto do Desarmamento. "O otimismo alicerça-se na certeza de que a diversificação de atividades e a busca de novos negócios e parcerias empresariais, combinadas com a melhoria contínua da produtividade, incrementarão o desempenho futuro da Companhia." Assim estão as empresas brasileiras, buscando alternativas para um negócio cujo futuro é, sem trocadilho, menos seguro do que costumava ser.

Os números da Taurus mostram por que. Em 2002, a empresa registrou lucro de R$ 48 milhões. No ano seguinte, com a implantação do Estatuto, a última linha do balanço marcava R$ 18,6 milhões – um resultado 61% menor. O ano passado foi um período de recuperação, com ganhos de R$ 22,5 milhões, mas a trajetória deve inverter-se de modo drástico este ano. No primeiro semestre, a companhia apresentou prejuízo de R$ 1,7 milhão. É como se a linha do gráfico dos lucros fosse repentinamente abatida por um tiro de uma carabina de longo alcance. E o estrago pode ser ainda maior se o "sim" for vencedor em 23 de outubro.

Os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a Taurus não está sozinha. A receita líquida da indústria brasileira de armas, munições e equipamentos caiu 13% em 2003, fechando o ano em R$ 496 milhões e interrompendo uma seqüência de crescimento – entre 2000 e 2002, o setor havia duplicado seu faturamento, que passou de R$ 274 milhões para R$ 569 milhões. Embora os números do ano passado ainda não tenham sido fechados pelo instituto, fala-se que a receita teria recuado para R$ 400 milhões. A Gazeta procurou a Taurus e a Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC, fabricante de munições), mas não as empresas não quiseram se pronunciar.

Defensores do desarmamento argumentam que a proibição da venda para civis não vai inviabilizar o negócio dessas companhias. Segundo o sociólogo Antônio Rangel Bandeira, da ONG Viva Rio, a maior parte da produção de ambas é vendida para o Estado (Forças Armadas e polícias) e, principalmente, exportada – o que é admitido pelas próprias empresas. Em 2003, por exemplo, as vendas da Taurus para civis no mercado interno representaram apenas 12% de seus negócios, percentual que chegava a 27% no caso da CBC, que então exportava quase a metade da produção – o site da companhia informa que hoje 70% do que ela produz é vendido para cerca de 40 países. No ano passado, a Taurus elevou de 65% para 70% a participação das vendas externas em sua receita. A empresa gaúcha exporta para mais de 80 países, mas seu principal mercado são os Estados Unidos, onde ela responde por pouco mais de 15% das vendas de revólveres.

A saída para as empresas parece estar, então, no mercado externo (que, no ano passado, deu ao Brasil um saldo de US$ 94,5 milhões na balança comercial) e na diversificação dos investimentos. No primeiro semestre, por exemplo, a subsidiária da Taurus que fabrica capacetes para motociclistas e ciclistas, coletes à prova de balas e escudos antitumulto para forças policiais. Essa empresa, a Taurus Blindagens – cuja sede é em Mandirituba, na região metropolitana de Curitiba, teve um resultado positivo de R$ 2,9 milhões. Traduzindo: a empresa que ganhava dinheiro fabricando armas agora lucra protegendo as pessoas delas.

Rajadas

70% da produção da Companhia Brasileira de Cartuchos, fabricante nacional de munições, é exportada.

crescimento de 9,1%foi registrado no saldo da balança comercial de armas e munições no período janeiro-julho de 2005, comparado ao mesmo período do ano anterior.

15% dos revólveresvendidos nos Estados Unidos são fabricados pela brasileira Taurus.

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