No domingo, Max Gehringer participou de bate-papo com estudantes em Curitiba.| Foto: Cadu Silverio

"Quem não se comunica se trumbica." A frase, eternizada pelo apresentador de tevê Chacrinha, deveria ser adotada como um mantra por quem pretende ter uma carreira de sucesso. O conselho é do consultor de carreiras e escritor Max Gehringer: não basta ter um desempenho acima da média no seu trabalho; é importante fazer o marketing pessoal, mostrar aos seus colegas e superiores a qualidade do seu trabalho.

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Conselho nem sempre é bom, mas neste caso vale a pena escutar. Antes de brilhar no showbizz, como cronista diário da rádio CBN e apresentador de um quadro no Fantástico, da Rede Globo, Gehringer trilhou uma carreira de fazer inveja. Foi presidente da Pepsi Cola e da Pulman, diretor industrial e de vendas da Elma Chips e diretor de sistemas da PepsiCo Foods nos Estados Unidos. Em 1999, foi escolhido como um dos "30 Executivos Mais Cobiçados do Mercado", em pesquisa feita pelo jornal Gazeta Mercantil.

No último domingo, ele esteve em Curitiba, participando do bate-papo da Mostra de Profissões da Universidade Positivo, juntamente com o astronauta Marcos Pontes, o médico Jairo Bouer e a jornalista Glória Maria. A procura pelo evento foi tanta que a organização decidiu promover duas apresentações. No intervalo entre elas, Gehringer concedeu entrevista exclusiva à Gazeta do Povo.

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Você começou a trabalhar muito cedo. Quais foram as mudanças no mercado de trabalho para o jovem nas últimas décadas?

Se a gente regredir até o começo do século 20, entre 1900 e 1910, tínhamos perto de 80% de analfabetos no Brasil. Então, 20% das pessoas sabiam ler e escrever. Na década de 40, os quatro anos que formavam o ginásio se tornaram o requisito básico para pessoa ser contratada. Aí a gente vai passando o tempo e descobre que não passa uma década sem que as empresas exijam mais alguns anos de experiência. Nós saímos praticamente de saber ler e escrever e em cem anos chegamos ao ensino fundamental, médio, técnico, faculdade, pós-graduação, inglês e informática. Olhando para os próximos vinte anos, chegamos à conclusão de que a pessoa vai ter que estudar pelo menos durante trinta anos. Não para ela passar na frente de todo mundo, mas para não ser passada para trás.

Fala-se muito sobre o perfil do jovem, se é um empreendedor ou aquele que busca colocação no mercado. Como faço para saber qual é o meu perfil?

Eu sempre olhei o empreendedor como uma pessoa que desde pequena já demonstrava uma tendência para ser dona do próprio negócio e do próprio nariz. Os amigos que hoje são empreendedores e que eu conheci quando tinham oito anos de idade têm um perfil claro: era o cara que pegava a bola, botava em baixo do braço e separava os dois times de futebol. Ele mandava. Ele tinha uma capacidade de aglutinar todo mundo, de decidir o que ia ser feito, de determinar regras. E existem outras pessoas que se sentem muito bem – e não há nada de errado nisso – dentro de um sistema em que a rotina prevalece. A pessoa acorda de manhã e já sabe que está mais ou menos estabelecido o que vai ser aquele dia. O que a pessoa tem que fazer é entender o que ela quer.

As universidades estão preparadas para preparar e lapidar os talentos? O que falta nos bancos acadêmicos?

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A gente aprende muita coisa importante em escola, mas quando começamos a trabalhar, estamos conversando 80% do tempo. E é conversando com os colegas, com o chefe, com os clientes ou negociando que nós mostramos se somos bons ou não. Digitar ou fazer planilhas tem um monte de gente que faz. Agora, pessoas capazes de negociar um aumento com o chefe, por exemplo, são poucas. Então, uma aula que eu sempre senti falta na faculdade era oratória. Não estamos ensinando os jovens a falar. Os estudos gregos só tinham três matérias e uma delas era oratória, pois já sabiam que uma pessoa capaz de falar bem vai ter muito mais vantagem.

Durante a faculdade já é hora de ver no colega de classe um potencial concorrente?

Sim. Mas não só ver um potencial concorrente, mas ver também um potencial aliado para o futuro. Pessoas que estudam na mesma classe podem eventualmente disputar a mesma vaga na mesma empresa. Mas o tempo vai passar, e quem mantiver um relacionamento com os colegas da escola, daqui a quinzes ou vinte anos, vai com certeza conhecer pessoas muito bem empregadas. Os colegas não vão me arrumar emprego no primeiro ano, mas daqui a mais tempo posso precisar deles. Esse vínculo precisa ser mantido.

Você disse que o ensino superior é requisito apenas para conseguir o primeiro emprego, mas não é garantia para mantê-lo. O que garante a permanência no emprego?

Antes de mais nada, os resultados de curtíssimo prazo têm que ser acima dos objetivos. Isso garante o emprego. Para as pessoas que dão excelentes resultados, a empresa está disposta a perdoar uma ou outra coisinha. Em segundo lugar devo pensar: "dei ótimos resultados, mas todo mundo sabe disso? As pessoas responsáveis por me conceder uma eventual promoção sabem do meu desempenho?" Se elas não sabem, eu tenho que encontrar uma maneira de fazer com elas saibam. Por último, é a habilidade de fazer com que os colegas vejam na pessoa um líder, antes mesmo que uma promoção torne isso oficial. A promoção para um cargo de liderança ocorre porque a pessoa já demonstrou que é líder entre os colegas. Então são essas três coisas: mostrar resultado, fazer o marketing pessoal e demonstrar liderança.

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Para quem está começando, dinheiro é fundamental?

Sim. Dinheiro é fundamental porque ele vai permitir que, em um período de tempo bastante curto, a pessoa comece a investir – ou no próprio negócio, ou para mudar para outra profissão que ela gostaria de ter seguido. Existe um tempo em que a pessoa tem que ralar muito. Normalmente são os primeiros dez anos de carreira. É duro dizer para um jovem de 16 anos que um dia ele vai ter 40 porque ele não acredita nisso, mas quando a idade chegar ele precisa ter uma estabilidade financeira que permita que ele tome decisões sobre a própria vida.

Então é ilusão achar que simplesmente com boas idéias é possível começar?

Não. Desde que você consiga transformar idéias em dinheiro.

As oportunidades realmente surgem espontaneamente ou é preciso buscá-las de alguma forma?

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Você tem que estar preparado para a oportunidade. Entrar em uma empresa e começar a perceber quais são os critérios que eles adotam para conceder uma promoção. Se eu não preencho esses critérios, eu tenho que me preparar. O fato de estar preparado não garante a promoção, mas a pior situação será se a oportunidade surgir e você não estiver pronto. Aí é incompetência.

Você deixou o mundo dos negócios depois de uma carreira muito bem sucedida para se dedicar a escrever e dar palestras. Você buscou essa oportunidade ou ela surgiu?

Durante uma fase da minha vida corporativa, eu acumulei o suficiente para ter algumas décadas para que eu fizesse o que eu sempre gostei de fazer, que é escrever. O resto apareceu mais como decorrência do fato de eu escrever. Eu não pensei em falar em rádio ou aparecer em televisão. Isso não estava nos meus planos.