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Há uma hora mágica chamada hora da sedução. Deixada passar, o encanto se desfaz, o fascínio desaparece e com ele o interesse daquele que seria seduzido. Por isso, o bom sedutor sabe a hora exata de agir: seja na conquista amorosa, no fechamento de vendas ou na concretização de negócios. Também vale para a apresentação de idéias, de trabalhos, pedidos ou de discurso.

Tudo tem a sua hora certa. É preciso estar atento a este momento mágico, brevíssimo, que pode mudar e decidir nossas vidas. A este momento, a partir do qual tudo muda, os gregos chamavam de kairós, numa linguagem moderna - turning point. Há no teatro o sentido de timing. Isto é, saber o momento certo de entrar, falar, ficar quieto e sair de cena. Na vida real, este é um atributo que precisamos desenvolver.

Políticos experientes sabem a hora certa de seduzir seus eleitores. Escolhem com critério o momento propício para apresentar idéias, brigar com oponentes, gerar fatos, aparecer ou sumir da mídia. Quer alguém com maior poder de sedução e senso de timing do que o "velho" político Leonel Brizola? Sua carreira foi uma seqüência de aparições e desaparecimentos da mídia, a qual ele manipulava com esperteza e perfeição.

Nos seus bons tempos, quando o momento lhe era conveniente, aparecia. Provocava um barulho danado, instigando tudo e todos. Impunha sua presença, soltava frases de efeito e, sumia quando percebia que isso se fazia necessário. Era como se entrasse numa toca e ficasse esperando para reaparecer em outro momento, mais conveniente. Com isso, evitava o desgaste, o excesso de exposição, e não se queimava na mídia. Grandes craques de futebol possuem senso acuradíssimo para saber a hora certa de fazer o passe, barrar o oponente, realizar jogadas e finalizar com o gol. Sabem, melhor que os outros, o momento de colocar a bola com perfeição nos pés do companheiro. Gerson, Pelé e Zico são provas desta rara habilidade. Graças à sua misteriosa capacidade de se materializar de uma hora para outra e roubar a bola dos pés do adversário, Domingos da Guia é considerado até hoje o melhor zagueiro da história do nosso futebol.

Sobre a sua arte em roubar bolas na hora exata, dizia, brincando, - "Se chego antes, é cedo. Se chego depois, é tarde. Só tem uma hora para chegar e roubar a bola, a hora certa".

- "A hora é a hora, antes da hora não é a hora, depois da hora já não é mais a hora". Com esse velho ditado, os militares nos alertam que existe o momento correto para as tomadas de decisões, das ações, do agir e do não agir. Atentos ao momento favorável poderemos tirar o máximo proveito das situações e circunstâncias. O tempo presente é a única realidade, o passado e o futuro moram na imaginação.Saber agir na hora certa é privilégio de poucos. Somos seres ansiosos, queremos "tudo para ontem" o que nos faz perder a noção de um dos maiores presentes que a natureza nos oferece: perceber o momento correto da maturação, pois uma fruta colhida antes da hora é imprópria, depois, apodrece e cai.

Visionários que se apresentaram antes do tempo pagaram alto preço pelo pioneirismo. Se isso foi necessário ou não, é outra história, mas milhares de artistas, inventores, empresários, pesquisadores, políticos e estadistas propuseram suas idéias e iniciaram suas obras antes do momento certo. Incompreendidos, deixaram legado para outros, os quais se apropriaram dos seus trabalhos, dando-lhes seqüência, acertando e ficando com as regalias, os bônus e as glórias merecidas pelo antecessor. Por isso, é preciso atenção: estamos na nossa hora, no nosso tempo e no nosso lugar?

É sensato saber comportar-se de acordo com a ocasião e as circunstâncias. A arte de dominar e argumentar deve ser realizada no momento certo, pois o tempo e as oportunidades não esperam ninguém.

Eloi Zanetti – eloizanetti@terra.com.br

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