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Arlete Ranbusch Gracher, de 62 anos, atua há dois anos como operadora de caixa: além da compensação financeira, trabalho é terapêutico, diz ela | Antonio More/ Gazeta do Povo
Arlete Ranbusch Gracher, de 62 anos, atua há dois anos como operadora de caixa: além da compensação financeira, trabalho é terapêutico, diz ela| Foto: Antonio More/ Gazeta do Povo

Trabalhadores com mais de 60 anos já são 5,4 milhões no Brasil

Agência Estado

No Brasil, a quantidade de pessoas com mais de 60 anos no mercado de trabalho aumentou 65% desde 2000, um avanço um pouco abaixo do registrado no Paraná. O número pulou de 3,3 milhões para 5,4 milhões em 2010. O crescimento foi registrado em todas as regiões do Brasil. Prova disso é que, entre os estados que lideram o ranking, estão locais tão distantes quanto Distrito Federal (151%), Amapá (135%) e Santa Catarina (104,7%).

Traduzidos na realidade, os números indicam tanto um aumento absoluto na média de idade da população quanto a disposição dos brasileiros em trabalhar por mais tempo, mesmo depois de se aposentar.

As regiões Norte e Centro-Oeste, locais de forte crescimento econômico nos últimos anos e recente formalização do mercado de trabalho, concentram a maior proporção de trabalhadores acima de 60 anos na sua força de trabalho. Nessas duas regiões, quase 30% da população economicamente ativa tem mais de 60 anos. Os es­­tados do Nordeste, com po­­pulação mais jovem e baixa escolaridade nas gerações mais velhas, registram média menor que 25%.

Pesa também o fato de a qualidade de vida do Brasil aumentar gradativamente, ajudando a elevar a expectativa de vida do brasileiro, hoje em 73,5 anos, segundo a última medição do Instituto Bra­sileiro de Geografia e Esta­tística (IBGE).

Empregadores

O aquecimento do mercado de trabalho foi importante para compensar a queda no número de empregadores, como indica o último Censo. Enquanto no início da década 2,9% dos brasileiros empregavam outros trabalhadores, hoje esse porcentual caiu para 1,9%. Isso significa que houve maior concentração no tamanho das empresas. Em todos os estados houve recuo na figura do empregador. A queda mais significativa foi no Centro-Oeste, região em que houve grande processo de mecanização da lavoura e expansão agrícola.

"Trabalho evita a depressão"

Contrariando a previsão das filhas de que não resistiria um mês no novo trabalho, Arlete Ranbusch Gracher, de 62 anos, já está há dois anos empregada como operadora de caixa do supermercado Big. A vontade de voltar a trabalhar surgiu após a aposentadoria. Formada em Ciências Contábeis, Dona Arlete, como é conhecida na empresa, trabalhou a vida toda com o marido num escritório de contabilidade. "Depois que paramos, eu só ficava em casa. Mas ficar em casa é horrível", diz. "A melhor coisa é trabalhar. Você não fica doente, não tem depressão, até a pressão alta vai embora."

Além de ocupar o tempo e ser remunerada, ela diz que os benefícios oferecidos no emprego formal também valem a pena. "O plano de saúde, por exemplo, eu não preciso mais pagar." Ela também diz que a autoestima mudou e que fica especialmente feliz quando seu trabalho é reconhecido. "Meu ego vai lá em cima." Por causa de seu rendimento no trabalho, re­­centemente Arlete ganhou do supermercado uma televisão de 32 polegadas.

O número de idosos no mercado de trabalho no Paraná está aumentando em ritmo superior ao do envelhecimento da população. O total de trabalhadores com mais de 60 anos cresceu 70% no estado entre 2000 e 2010, enquanto o número de indivíduos que compõem essa faixa etária avançou 45%.

Ao todo, 336 mil idosos estavam trabalhando no ano passado, o equivalente a quase 5% do total de empregados no estado. Há dez anos, o número era de 195 mil, segundo dados do Censo 2010, divulgado pelo Ins­tituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Pelo lado da oferta, a necessidade de complementar a renda, a busca por satisfação pessoal e a melhora na qualidade de vida dos idosos contribuem para o fenômeno. Chegando à velhice mais saudáveis, eles têm mais capacidade e disposição para continuar na ativa.

Do lado da demanda, as empresas citam a dificuldade em reter jovens, mais sujeitos a mudanças; a escassez generalizada de mão de obra; e o maior engajamento dos mais velhos no trabalho como fatores que influenciam a busca por esses profissionais.

Na rede de supermercados Big, do grupo Walmart, o número de idosos é de 9% do total de empregados e a tendência é que ele aumente, segundo a gerente de capital humano, Cris Miiller. "A pessoa da ‘melhor idade’ é mais madura e menos imediatista, ao contrário dos mais novos, que são mais instáveis. O mais velho quer estabilidade e pensa muito nos benefícios. Para a empresa, muitas vezes é um trabalhador mais atrativo", explica. Na rede, os idosos ocupam principalmente os cargos de atendimento, operador de caixa e fiscal de caixa.

A Pizza Hut tem um projeto desde 2005 de empregar pelo menos duas pessoas da terceira idade em cada unidade. Hoje, 11 dos 260 funcionários das cinco lojas da rede em Curitiba são idosos. Eles atuam como auxiliar de cozinha, apoio de garçom, orientador de público e host.

"A experiência deles, tanto pessoal como profissional, enriquece muito o conhecimento da equipe. Além disso, segundo o que eles próprios relatam, há uma uma melhora impressionante na autoestima desses trabalhadores", diz Rodolfo Ma­­cha­­do, gerente de Recursos Hu­­manos da Pizza Hut no Paraná e em Santa Cata­rina.

Na agência do trabalhador de Curitiba, órgão público que faz a intermediação entre empresas e trabalhadores, cerca de 15 das 800 pessoas atendidas todos os dias têm mais de 60 anos, de acordo com o gerente, Rafael dos Santos.

As empresas que mais contratam esses profissionais são os supermercados e escritórios, onde os idosos atuam como auxiliares, na realização de serviços bancários e administrativos. "Não há limite de idade para as vagas, mas naturalmente os mais velhos raramente são encaminhados para funções que exigem muito esforço físico", diz.

Perfil

De acordo com estudos de Ana Amelia Camarano, economista do Instituto de Pesquisa Econô­mica Aplicada (IPEA) e doutora em Estudos Populacionais pela London School of Economics, as mulheres, em geral, estão assumindo o papel de chefes de família à medida que envelhecem. O fenômeno ocorre principalmente porque ekas vivem mais do que os homens – 57% da população idosa é composta por mulheres – e buscam novas fontes de renda, como a realização de trabalho temporário.

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