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Sonho de muitos brasileiros, conseguir uma bolsa para fazer uma pós-graduação no exterior exige muito mais do que preencher corretamente formulários e não perder prazos. Segundo especialistas, o trabalho começa muitos meses antes (às vezes, anos), na escolha do projeto de pesquisa, na procura pela faculdade mais adequada e no pré-contato com os professores da instituição.

Para quem está de olho no título de doutor, a Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes), que oferece mais da metade das bolsas de pós-graduação do Brasil, é a principal entidade do Ministério do Educação (MEC) responsável pela qualificação dentro e fora do país. De acordo com a coordenadora de programas no exterior da Capes, Maria Luísa Lombas, os primeiros passos para conseguir uma bolsa de doutorado lá fora são conhecer muito bem a língua do país em que se pretende estudar, a instituição e os orientadores:

- O interessado deve manter contato com os orientadores e a universidade em que pretende estudar antes da inscrição. É importante que haja uma troca de correspondência prévia com o futuro professor, antes mesmo de a proposta ser mostrada à Capes.

Resultado da solicitação pode demorar a sair

Segundo Maria Luísa, outra dica é apresentar um tema de pesquisa que não tenha condições de ser totalmente desenvolvido no Brasil. Por isso, quem escolhe as áreas de saúde, ciências naturais, ciências exatas e engenharias — em que novos trabalhos surgem a toda hora — leva pequena vantagem: afinal, os melhores laboratórios estão no exterior. Mas isso não quer dizer, acrescenta ela, que a Capes não invista também nos setores de ciências humanas e sociais.

- É preciso saber ainda se o curso escolhido é conceituado e trará frutos para o Brasil. E se tem qualidade e condições de ser validado em uma instituição brasileira - destaca a coordenadora da Capes.

A bióloga Milene Mulatinho, que desde março de 2006 faz seu doutorado na Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles, com bolsa da Capes, é um exemplo de preparação. Durante os três anos em que foi pesquisadora visitante no Instituto Fernandes Figueira (IFF), logo depois de concluir o mestrado em genética humana na Uerj, pensou num projeto que pudesse ser desenvolvido no doutorado. Ela estuda a genética do retardo mental:

- Depois de decidir o que queria estudar, fui a Los Angeles e passei dois meses no laboratório de citogenética da UCLA como visitante, pra saber se o projeto que tinha em mente seria possível. Fui muito bem recebida e uma colaboração foi estabelecida. Fiquei estimulada a concluir minhas pesquisas lá, já que o laboratório tinha a verba e a infra-estrutura necessárias para o estudo.

Em 2004, Milene entrou no doutorado do Departamento de Genética da UFRJ, e, em 2006, após cumprir os créditos e toda a burocracia necessária, viajou para Los Angeles.

- Já conhecia o processo de seleção e sabia quais eram os passos necessários para conseguir a bolsa sanduíche. Então, seis meses antes do prazo de entrega dos documentos, comecei a preparar tudo. Depois, tive que esperar três longos e dolorosos meses pela resposta. Mas não só consegui a bolsa como o prazo de um ano que havia pedido - diz Milene, que conseguiu extensão do tempo de permanência para concluir o trabalho.

A coordenadora da Capes alerta, entretanto, que não vale a pena sair do país para fazer um curso qualquer. É preciso, diz, avaliar o retorno profissional que terão ao voltar:

- Fazer qualquer pós-graduação só para estudar fora, não adianta nada. É a mesmo coisa que você viajar para estudar inglês em um país que não fala a língua.Liderança e gestão, focos de programas alemão e inglês

Diferentemente da Capes, o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico (DAAD) — maior programa de estímulo ao intercâmbio estudantil da Alemanha —, não é voltado para quem quer seguir a carreira acadêmica, mas a especialistas e gestores da iniciativa privada ou de órgãos públicos.

Segundo a coordenadora do DAAD, Rita Meyer, é essencial a experiência profissional na área, após a conclusão da graduação. As bolsas de doutorado destinam-se a todas áreas. Engenharia, inovação tecnológica, tecnologia, economia, filosofia, direito, música, arqueologia, meio ambiente e filologia clássica são mais valorizadas pelo programa, já que essas são especialidades das instituições de ensino superior alemãs.

Para Marcelo Lopes, geógrafo e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que é doutor em geografia de estudos urbanos pela Universidade de Tübigen, na Alemanha, os alemães dão prioridade à internacionalização de suas universidades:

- Os alemães incentivam a cooperação acadêmica e científica entre os países. Querem criar oportunidades de vivência em outros países, tanto para estrangeiros como para alemães.

Lopes diz que a proficiência na língua, tão exigida na maioria das seleções para o exterior, não é tão rígida assim em universidades alemãs:

- Eles são rígidos com a disciplina, com a qualidade. Mas se o problema é fluência na língua, estimulam o aprendizado.

Antes de começar o doutorado, contudo, Lopes fez um curso de alemão por três meses:.

- Esses meses foram muito importantes para mim, não só pela fluência da língua, mas também para um melhor resultado durante o doutorado. Absorvi muito mais informação e conhecimento.

Já para concorrer a uma bolsa de doutorado na Grã-Bretanha, o domínio da língua inglesa é fundamental. Segundo a coordenadora do Programa Chevening no Brasil, Ana Paula Nascimento, os candidatos devem obter no mínimo 6,5 no IELTS (a nota máxima é 9):

- Esse é o mínimo exigido. Mas o candidato deve se informar antes sobre o mínimo exigido em sua área. De um modo geral, a nota pedida é 6,5. Mas, em alguns, cursos como o de jornalismo, sobe para 7.

Ana Paula ressalta também a importância de referências:

- O ideal é escolher ex-chefes e professores que conheçam muito bem o candidato porque vão conseguir descrever melhor o potencial dele.

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