"Ressaca"
Valores caem 5% no trimestre, dando sinais de acomodação
Após a escalada de preços dos últimos, anos, os primeiros sinais de ajustes do mercado imobiliário começam a aparecer em Curitiba. Os valores dos imóveis começaram o ano em queda. Em março de 2013, a média do metro quadrado privativo dos imóveis novos ficou em R$ 5.238 na capital, 5% menor que a de dezembro do ano passado (R$ 5.514), segundo levantamento da Ademi-PR.
Ainda assim, o valor é 6% superior ao registrado no mesmo período do ano passado (R$ 4.943). Para os profissionais do setor, ainda é cedo para falar em reversão da curva de preços do mercado imobiliário em Curitiba.
Segundo o economista Fábio Tadeu Araújo, da Brain Bureau de Inteligência, o grande volume de lançamentos de apartamentos no segmento luxo de quatro quartos no fim do ano passado puxou para cima os preços e a base de comparação em relação a este ano. Para o presidente da Ademi, Gustavo Selig, o início do ano é, tradicionalmente, mais fraco em vendas por conta das férias, o que também ajuda a explicar a redução dos preços.
Selig espera que os preços oscilem entre 8% a 10% para cima ou para baixo neste ano, o que, na sua avaliação, "é um cenário de estabilização de preços". Segundo ele, a visão comum de que os preços dos imóveis estão acima do valor de mercado é equivocada. "O Brasil como um todo está caro", diz. Para Araújo, da Brain, os preços podem subir ligeiramente acima da inflação em 2013, algo em torno de 7%.
As projeções são, no entanto, para o preço do metro quadrado médio da cidade. Bairros com demanda em alta e lançamentos mais escassos ainda devem viver um cenário de valorização, como Cabral, Seminário, Cabral e Alto da XV e algumas áreas do Água Verde e do Ecoville, segundo Selig. O bairro mais caro da capital para adquirir um imóvel continua a ser o Batel, onde o metro quadrado privativo chega a R$ 11 mil.
Os preços dos imóveis novos em Curitiba subiram 110% em seis anos. O metro quadrado privativo de um imóvel novo na capital custava R$ 2,49 mil no fim de 2007. Em março deste ano, ele estava em R$ 5,2 mil. Apesar dos ganhos reais (acima da inflação) nos últimos anos, os salários não conseguiram acompanhar a alta do mercado imobiliário.
O salário médio do morador da capital paranaense avançou 66,4% no mesmo período. Passou de R$ 1,2 mil para R$ 1.997. Hoje o curitibano precisa trabalhar quase três meses para comprar um único metro quadrado de um apartamento novo em Curitiba.
A diferença é ainda maior quando se compara o valor dos imóveis com o custo de vida da população. No período, a inflação medida pelo IPC (para quem ganha mensalmente de um a 40 salários mínimos) avançou 45,82% na região metropolitana de Curitiba.
Os preços dos imóveis dispararam principalmente entre 2009 e 2011, período que coincidiu com um boom de lançamentos imobiliários, acesso fácil a crédito e demanda em alta.
Segundo o economista Luciano D´Agostini, doutor em Economia pela UFPR que fez os cruzamentos dos indicadores a pedido da Gazeta do Povo, esse cenário se consolidou com a combinação de expansão do crédito principalmente para baixa e média renda, queda na taxa de juros, aumento da renda e a relativa estabilidade da inflação.
Mesmo depois do chamado boom imobiliário e o aumento da oferta de imóveis os preços continuaram a subir bem acima da renda e romperam a barreira de R$ 5 mil em Curitiba. A diferença com os salários, porém, diminuiu. Entre o fim de 2011 e março deste ano, a renda cresceu 9,8%. Os preços dos imóveis, 13%.
Para o presidente da Associação dos Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário no Paraná (Ademi-PR), Gustavo Selig, a alta dos preços dos imóveis ocorreu primeiramente porque o mercado de Curitiba estava defasado, com preços abaixo da média nacional. "Houve uma recuperação de preços. Depois disso, houve pressão de custos de materiais, terrenos e de mão de obra", diz. Segundo ele, os gastos com mão de obra, que representavam 30% dos custos de uma construção, hoje estão em 50%. "O mercado cresceu, as empresas melhoraram suas margens, mas esses ganhos não são fantásticos", diz.
A diferença entre a renda e os preços foi coberta principalmente pelo crédito abundante, impulsionado pela Caixa Econômica, que responde pela maior parte dos financiamentos imobiliários, e pela maior agressividade de alguns bancos privados nesse setor.
Para Fabio Tadeu Araújo, sócio da Brain Bureau de Inteligência, que faz o levantamento de preços para a Ademi-PR, o aumento do acesso ao crédito e a queda dos juros propiciaram que a parcela da casa própria coubesse no bolso das famílias, apesar da alta dos preços dos imóveis.
Com recorde de entregas e estoques elevados, o mercado, no entanto, passa agora a buscar um novo equilíbrio entre a oferta e a demanda e também de preços. Um exemplo disso é o número de alvarás para novas construções, que nos últimos 12 meses oscila entre 18 mil e 20 mil unidades, volume próximo da procura média por imóveis novos na cidade. No auge do boom imobiliário, esse número chegou a 36 mil, segundo Araújo.
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