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“De uma forma ou de outra, um aperto no padrão de vida é o preço inevitável a pagar pela crise financeira e por um subsequente reequilíbrio da economia no mundo e no Reino Unido”, Mervyn King, presidente do Banco da Inglaterra | Suzanne Plunkett / Reuters
“De uma forma ou de outra, um aperto no padrão de vida é o preço inevitável a pagar pela crise financeira e por um subsequente reequilíbrio da economia no mundo e no Reino Unido”, Mervyn King, presidente do Banco da Inglaterra| Foto: Suzanne Plunkett / Reuters

Críticos veem ameaça à neutralidade do banco

Recentemente, dois membros do comitê decisório do banco expressaram desacordo público com a insistência de King em que a atual taxa de inflação na Grã-Bretanha esteja sendo impulsionada por fatores de impacto externos e as taxas de juros não deveriam ser aumentadas.

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Um banqueiro sem dúvidas sobre o próprio talento

Mervyn King recusou-se a dar entrevista. Mas pessoas que trabalham com ele o descrevem como um pensador inovador, um homem agradável e charmoso, mas que também pode se tornar assertivo e combativo quando desafiado intelectualmente.

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Londres - Um presidente de banco central não precisa ser amado, mas deveria pelo menos impor respeito – e na Grã-Bretanha, atualmente, Mervyn King não pode contar nem com uma coisa, nem com a outra. King, com seu jeito pedante, preside o Banco da Inglaterra e tem sido acusado de comandar a pior estagflação – uma combinação terrível de atividade econômica estagnada com aumento da inflação – entre as economias desenvolvidas.

Além disso, vem sendo condenado porque desdenhou publicamente da independência do banco ao apoiar a estratégia de redução do déficit do governo britânico. Quanto à questão pela qual ele pode ter mais claramente colocado sua reputação em jogo – a de que os grandes bancos britânicos devem aumentar os níveis de capital muito acima dos padrões internacionais –, King tem sido ignorado.

As dúvidas sobre a estratégia de King no que concerne à inflação surgem no momento em que os líderes europeus trabalham por um plano unificado para lidar com os problemas da dívida soberana da região. Alemanha e França pressionam por medidas concretas para harmonizar os gastos fiscais, focando em impostos e aposentadorias, enquanto as nações mais enfraquecidas lutam para reduzir seus déficits. Mas, com pressão inflacionária por toda parte, o tema principal do debate deve ser por quanto tempo o Banco Central Europeu, assim como seu equivalente na Grã-Bretanha, pode resistir à demanda por um aumento nas taxas de juros.

Não muito tempo atrás, presidentes de bancos centrais nos Estados Unidos, na União Europeia e em países emergentes que experimentam rápido crescimento, como a Turquia e o Brasil, eram festejados. Levavam o crédito por terem salvo suas economias ao inundar os respectivos sistemas bancários com dinheiro suficiente para ajudar a evitar uma depressão. Mas agora muitos deles estão enfrentando a perspectiva de declínio em seus poderes, enquanto a inflação começa a assombrar e o crescimento nos países industriais avançados é dificultado pelos elevados níveis da dívida pública.

Para um pessoal acostumado a ser influente – Ben Bernanke, do Federal Reserve, e Jean-Claude Trichet, do Banco Central Europeu, enfrentam desafios semelhantes aos de King, ainda que menos agudos –, essa perda de poder talvez signifique um duro despertar.

Limitações

Em discurso no mês passado, King reconheceu sua limitada capacidade de combater as altas taxas de desemprego e inflação que castigam a Grã-Bretanha. Com os preços dos alimentos e da energia subindo e a libra esterlina fraca, o que torna as importações mais caras, disse ele, a política monetária não seria capaz de "alterar o fato de que, de uma forma ou de outra, um aperto no padrão de vida é o preço inevitável a pagar pela crise financeira e por um subsequente reequilíbrio da economia no mundo e no Reino Unido". Soou um pouco como o último lamento do "incrível banqueiro central que encolheu".

"Foi um discurso defensivo, e há um certo grau de frustração entre aquelas forças que estão além do seu controle", observa DeAnne S. Julius, presidente da Chatham House, organização de pesquisa e análise baseada em Londres, e ex-membro do comitê de política monetária do Banco da Inglaterra. DeAnne adota uma posição crítica, alegando que King não apenas subestima os ventos inflacionários, mas também que é muito radical ao pedir que os bancos britânicos elevem seu capital. "Há muita pressão – tanto em termos de reforma do sistema bancário quanto de inflação. Não acho que ele tenha uma vida fácil", diz.

E há ainda a questão da política fiscal. Os ingleses talvez tenham de passar por um período ainda mais duro neste ano, quando o programa de austeridade do governo, de 80 bilhões de libras, realmente começar a ter consequências. Essa perspectiva se torna mais nítida com os indícios recentes de que a economia, em vez de continuar a crescer, recuou 0,5% no último trimestre. Os preços ao consumidor subiram a uma taxa anual de 3,7% em dezembro, atingindo o nível mais alto em dois anos e, pelo 13.º mês consecutivo, ficando acima da meta do Banco da Inglaterra, que é de 2%.

Tradução: Christian Schwartz

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