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Setor elétrico planeja quase 4 mil MW em energia nova no Brasil até fim de abril

Enquanto o governo torce para que as chuvas dos próximos dois meses consigam reabastecer os reservatórios de hidrelétricas, afastando o risco de faltar energia no país, o setor elétrico se prepara para colocar em operação, até o fim de abril, usinas que podem ajudar no esforço para se evitar um novo racionamento.

Se as previsões mais atualizadas da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) não se frustrarem, neste ano até o fim de abril devem entrar em operação comercial quase 4 mil megawatts (MW) novos, gerados em centrais eólicas, termelétricas e hidrelétricas, incluindo turbinas das duas usinas do Rio Madeira: Santo Antônio e Jirau.

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O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estima que as chuvas de março no Sudeste/Centro-Oeste, principal região para abastecimento dos reservatórios das hidrelétricas do país, devem representar cerca de 67% da média histórica para o mês, volume que não deve trazer alívio nas preocupações sobre um eventual racionamento de energia. A previsão de chuvas indica uma expectativa de que os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste devem passar de 34,7% atualmente para 38,3% em 4 de abril, segundo dados divulgados no Relatório Executivo do Programa Mensal de Operação do ONS para março.

Para o Sul, o nível deve passar de 37,18% atualmente para 38,7%. No Nordeste, deve haver aumento de 42,19% para 45% enquanto que o Norte as represas subiriam de 80,92% para 88%. O ONS informou nesta sexta-feira (28) que para março "prevê-se afluências superiores às verificadas em fevereiro, em todos os subsistemas, embora, apenas para o subsistema Norte, estejam previstas afluências superiores à média do mês de março".

Em fevereiro, as chuvas no Sudeste/Centro-Oeste tiveram o segundo pior volume do histórico e no subsistema Nordeste foi o pior volume já registrado. As previsões iniciais de chuva têm decepcionado nos últimos meses. Para janeiro, a estimativa eram de chuvas equivalentes a 96% da média histórica, quando o que se realizou foi 54%, segundo o presidente da Comerc Energia, Cristopher Vlavianos. Já em fevereiro, as chuvas devem fechar em 39% da média histórica, quando a previsão inicial era de que chovesse 55% da média. "A previsão de chuva para março é de 67% da média, mas é muito cedo para dizer que isso vai se confirmar ou não. Não há ainda muita certeza, é só uma previsão", disse ele sobre os dados do ONS.

Analistas do Citi escreveram em relatório nesta sexta-feira que com as chuvas de fevereiro fechando a 39% da média histórica para o mês, implicaria necessidade de chuvas equivalentes a cerca de 90% da média para que as reservas de água nos reservatórios não caiam abaixo do mínimo nível de segurança em março a dezembro. "No entanto, se chover 67% da média de longo termo em março, estimamos que o armazenamento de água nos reservatórios vai atingir 41% da capacidade máxima ao final de março (ante o nível de segurança de 44%)", escreveram os analistas em relatório.

Risco de 49%

Segundo o modelo do Citi, os riscos de racionamento são de 49% no ano. O modelo do banco tem uma abordagem diferente da usada pelo ONS, focando nos níveis de segurança mínimos para medir as chances de racionamento. Mas o banco considera que mesmo a metodologia do ONS sinaliza aumento dos riscos.

O presidente da consultoria Thymos Energia, João Carlos Mello, considera que se chover cerca de 70% da média histórica de março a julho, o nível dos reservatórios do país chegaria a um nível crítico em agosto. "Se mantiver em cerca de 70% da média história, o que é bem otimista, o nível dos reservatórios no Sistema Interligado Nacional em agosto chegaria a um nível muito crítico, de 5% de armazenamento. Nesse nível crítico, o governo teria que tomar uma decisão", disse ele.

O Citi considera que se houvesse uma redução de 5% na demanda por energia, os riscos de racionamento seriam menores, de cerca de 34%. "A única forma de reduzir o risco é reduzindo a carga", disse Vlavianos da Comerc. Porém, a previsão do ONS é de que a carga de energia no sistema em março suba 7,4% ante mesmo mês de 2013.

O diretor da consultoria Excelência Energética, Erik Rego, considera que se o nível dos reservatórios na região Sudeste não melhorar ao longo do mês de março, mantendo-se no patamar atual de 35 por cento, o país ficará muito próximo do nível do racionamento de 2001. "E se chegar abaixo de 30% em março e abril, traz uma preocupação extrema, e o racionamento fica quase inevitável", disse ele.

O diretor-geral do ONS, Hermes Chipp, disse em meados de fevereiro que seria necessário chover cerca de 76% da média para os meses de março e abril para que os reservatórios do Sudeste cheguem a um nível de 43% ao fim de abril -- o que asseguraria o fornecimento de energia.

Para além das chuvas, o país ainda conta com previsão de entrada de quase 4 mil megwatts de energia nova até abril, segundo levantamento da Reuters a partir de dados da Aneel. O ministro Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que a expectativa de aumento de demanda de energia para todo o ano é de 4 mil MW em carga, enquanto a capacidade de geração em 2014 deve crescer entre 6 mil e 8 mil MW.

Preço

Apesar do cenário, para a primeira semana de março, a melhora nas condições de chuva, entre outros fatores, colaborou para reduzir o Custo Marginal de Operação (CMO) para um pouco abaixo do primeiro patamar de custo de déficit no Sudeste/Centro Oeste e Sul. O CMO médio passou de R$ 1.685,28 por megawatt-hora para R$ 1.364,24 por MWh. O custo que indica o primeiro patamar de custo de déficit, ou seja, de que o modelo matemático indicaria mais favorável realizar um corte de carga de até 5%, é de R$ 1.364,42 por MWh.

No Nordeste, o CMO passou de 788,26/MWh para 626,11/MWh e no Norte houve um salto de 205,95/MWh para 400,51/MWh, uma vez que a região está despachando quantidade maior de energia na próxima semana para o Sudeste, segundo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

O preço de energia de curto prazo dado pelo Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) manteve-se no patamar máximo para o ano de R$ 822,83 por megawatt-hora (MWh) para a semana que vem no Sudeste/Centro-Oeste e Sul. O PLD médio no Nordeste ficou em R$ 626,11 e no Norte o PLD médio é de 400,51/MWh. "Para a semana de 01 a 07/03/2014 a previsão é de que a passagem de duas frentes, ocasione totais significativos de precipitação nas bacias das regiões Sudeste e Centro-Oeste e fraca nas bacias dos rios Uruguai e Iguaçu", informou o ONS.

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