| Foto:

Obsolescência

Movimento mundial busca conscientizar consumidores

A indústria eletroeletrônica tem empresas que atuam no mundo todo, o que justifica a existência do Movimento Sem Obsolescência Planejada (SOP), sediado na Espanha. A iniciativa informa ser apolítica, mas tem ligações com pequenas indústrias. Ganhou fama após trazer à tona o fato de as lâmpadas durarem menos que décadas atrás. "As que saíram do mercado [logo após a invenção] duravam mais de 2,5 mil horas. Com a chegada do ‘Cartel Phoebus’, nenhuma poderia durar mais de mil horas", cita Ricardo Martin, porta-voz do movimento.

Formado por fabricantes como Osram, Philips e General Electric, o tal cartel funcionou até 1939. O SOP avalia que efeitos da sua atuação resistem, paralelamente à necessidade de atualização de softwares e ao desgaste fácil das baterias de notebooks. E essa suspeita é o que resta ao consumidor que não se organiza, uma vez que prova é tarefa para peritos.

O movimento acredita que boa parte da indústria busca lucrar com a "recompra" de itens, mais que reduzir custos de produção. A Espanha estabelece uma garantia que é o dobro da brasileira – dois anos. Mesmo assim, o consumidor não está protegido, analisa Martin. "Definir um prazo razoável seria prejudicial demais para as corporações", diz. "Países desenvolvidos estabelecem responsabilidades básicas, mas muitas vezes [as práticas das empresas] continuam abusivas." (CBC)

CARREGANDO :)

O tema é tão tabu que nem a atualização do Código de Defesa do Consumidor o abordou, mas está na boca dos consumidores. Um estudo do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) mostrou que 93% dos brasileiros acreditam que eletroeletrônicos duram menos hoje em dia. Outros 84% avaliam que eletros são feitos para quebrar.

INFOGRÁFICO: Confira as percepções de consumidores

Publicidade

VÍDEOS: Filmes retratam a obsolescência programada; assista

As suspeitas são a base de um conceito com o qual a indústria jura não trabalhar: a obsolescência programada. Trata-se de indícios de que fábricas não garantem a vida útil dos produtos, dificultam consertos (peças escassas, por exemplo) e apostam em novas versões para manter no consumidor um eterno ímpeto de novas compras.

No Brasil, apenas indústrias alimentícias e farmacêuticas precisam definir validade para o que produzem. Segundo a Secretaria Nacional de Defesa do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, não existe projeto para estender a obrigação. Os esforços estão concentrados em uma solução periférica, a lista de bens essenciais – produtos que terão de ser trocados ou reembolsados imediatamente em caso de defeito.

A secretaria garante que a lista sai neste primeiro trimestre. Extraoficialmente, serão cinco produtos. No ano passado, as especulações eram sobre celulares e computadores, que fizeram o mercado reclamar novamente. O debate se arrasta desde 2010, foi alvo de ação judicial pela indústria, e havia recebido prazo para abril de 2013, que não se confirmou.

"Desgaste natural"

Publicidade

O assunto engatinha em políticas públicas, mas a Justiça já reconheceu pelo menos um caso de obsolescência programada. Em 2012, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu pela indenização para o dono de um trator que deveria durar de dez a 12 anos, e não apresentar "desgaste natural" após três anos, como a marca argumentou. Na decisão, o STJ tomou para si o dever de combater a prática, que prejudica o consumidor e a natureza, ao aumentar a produção de lixo. Outra ação foi movida pelo Instituto Brasileiro de Política e Direito da Informática, que argumenta que a Apple estimulou trocas desnecessárias ao não mostrar evolução significativa entre os Iphone 3 e 4.

Para o pesquisador João Paulo Amaral, do Idec, até o governo tem sua parcela de culpa ao baixar impostos para estimular consumo e na troca do padrão de tomadas, em 2009. Para Fabián Echegaray, da Market Analysis, que fez o estudo, o fato de a exigência por validade não ter levado indústrias à falência mostra que o tema pode ser expandido. "É um fato com força argumentativa". Já a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), que representa o setor, informou que vai considerar a pesquisa durante as discussões com a Senacon.

VÍDEOS

Publicidade

Os vídeos abaixo são famosos por retratar a obsolescência programada tanto nas escolhas das indústrias no processo de fabricação quanto na publicidade das marcas.

Comprar, Tirar, Comprar (2011, 53min)

A História das Coisas (2007, 21min)

Produzida por Annie Leonard, a animação mostra o resultado do consumismo causado por produtos que duram cada vez menos. O filme apresenta o ciclo de vida dos produtos, do uso de recursos naturais até o descarte em lixões. É muito usado em salas de aula.

Publicidade

iDiots (2013, 4min)A animação da equipe Big Lazy Robot defende que a troca de produtos que ainda funcionam é resultado da manipulação dos consumidores pela publicidade, que cria uma necessidade não natural e até meio boba. Quem nunca entendeu pessoas que fazem filas pelo último lançamento de eletrônicos vai se identificar.