Até pouco tempo atrás era possível pagar as compras do supermercado e abastecer o carro no posto de gasolina usando só reais ou, no máximo, vales refeição e combustível. Hoje, no entanto, o consumidor que gasta nesses estabelecimentos ganha pontos que acabam funcionando, na prática, como moedas paralelas na compra de produtos e serviços em outros estabelecimentos comerciais.

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Essa grande malha de empresas entrelaçadas pelos pontos ganhos em compras, que podem ser usados como moedas de troca em outras lojas para adquirir produtos ou serviços, cresce a cada dia e virou um grande filão de negócio. Companhias especializadas em tornar o cliente fiel à loja ou à prestadora de serviço se autodenominam empresas de marketing e frisam que não estão ligadas ao setor financeiro.

Sob o mote de conseguir ampliar em até 10% a receita dos varejistas no prazo de 12 meses, as metas dessas empresas de fidelização traçadas para este ano são ambiciosas. A Dotz, por exemplo, que batizou os pontos com o mesmo nome da empresa e chama esses pontos de "a segunda moeda", quer dobrar de tamanho em 12 meses.

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A empresa, que começou em 2000 atendendo lojas virtuais e estreou no varejo físico há quatro anos, fechou 2013 com 11,5 milhões de consumidores cadastrados e atuação em nove praças, entre as quais estão o interior de São Paulo, Belo Horizonte, Brasília, Paraná, Santa Catarina, por exemplo. Para este ano, Roberto Chade, presidente da empresa, diz que a meta é ter perto de 20 milhões de usuários de Dotz e estar presente em 14 ou 15 praças. "Já temos negociações engatilhadas com varejistas no Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro, Pará e Bahia", conta.

Para justificar a importância da fidelização, ele diz que o varejo precisa de alternativas já que a concorrência só aumenta e as margens, ao contrário, diminuem. "Só vender produto não dá. O desafio de fidelizar o cliente é cada vez maior, por isso é crescente a necessidade de criar benefícios relevantes para o consumidor."

Carlos Formigari, presidente da Netpoints, que recentemente teve uma participação de 25% adquirida pela Smiles, observa que o negócio de fidelidade no Brasil está só engatinhando, quando comparado a EUA e países da Europa. No exterior, observa, o consumidor já trabalha com esse conceito de obter vantagens em outros estabelecimentos quando adquire um determinado produto ou serviço.

A empresa, que começou em 2011 e tem 4 milhões de usuários e mais de 100 estabelecimentos físicos e online que usam o sistema de pontuação, tem planos ambiciosos para este ano. "Nosso objetivo é deixar de ser uma empresa regional, com atuação só no Estado de São Paulo, para ser uma companhia nacional", prevê Formigari. Ele quer triplicar o número de consumidores em 12 meses.

A Multiplus, criada em meados de 2009 como uma unidade de negócios da TAM, tornou-se uma empresa independente no fim de 2009. A companhia informa que tem mais de 11 milhões de usuários no programa de pontos e que a sua participação no varejo varia entre 7% a 8%. A meta em três anos é expandir essa participação para algo entre 20% a 25% no varejo de resgate de pontos.

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Riscos

Para o economista Francisco Petros, ex-presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec), esses sistemas de pontuação que crescem exponencialmente no varejo envolvem riscos jurídicos.

O primeiro risco, aponta Petros, diz respeito aos contratos. "Podem existir possíveis cobranças judiciais futuras de créditos que o consumidor eventualmente tem direito ou pensa ter direito e que pode ser imposto às empresas."

O segundo risco se refere aos direitos à privacidade. Como o objetivo desses programas de pontos é conhecer o consumidor, obtendo dados sobre o seu perfil socioeconômico e o comportamento de compras, o economista acredita que isso pode envolver, no futuro, demandas jurídicas de consumidores que viram a vida financeira ser esmiuçada. Na maioria das vezes, esses consumidores, atraídos pelas vantagens que esses pontos - ou essas quase moedas - podem proporcionar, não avaliam a exposição a que estão submetidos.

(As informações são do jornal O Estado de S. Paulo)

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